O ex-vice-presidente José Alencar morreu nesta terça-feira, aos 79 anos, de falência múltipla dos órgãos, após uma luta incansável contra o câncer.

O ex-vice lutou por mais de 14 anos contra o câncer que o levou 17 vezes a uma sala de cirurgia e o obrigou a se submeter a sessões de quimioterapia.

Alencar, que morreu às 14h41 desta terça, foi internado na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês na tarde de segunda com fortes dores abdominais. Segundo os médicos, foi detectada então uma obstrução no intestino e uma inflamação do peritônio, a membrana que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos.

O corpo de Alencar será velado no Palácio do Planalto na quarta-feira. A presidente Dilma Rousseff, que está em Portugal, decidiu antecipar sua volta para participar da cerimônia.

"Nós estamos num momento de muito sentimento. Considerávamos que o Zé Alencar era uma das pessoas que foi uma grande honra ter convivido com ele, é daquela pessoa que vai deixar indelével uma marca na vida de cada um de nós", afirmou Dilma, que está em Portugal com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, homenageado com o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra.

Mineiro, Alencar ocupou a vice-presidência da República de 2003 a 2010, durante os oito anos do governo do ex-presidente Lula.

"Nós não temos muito o que falar, porque o momento é de muita dor e de muito sofrimento. Ou seja, vocês que acompanharam o mandato nosso da Dilma como ministra, do Zé Alencar como vice, vocês sabem que era uma relação de irmãos e de companheiros", afirmou Lula, sem esconder as lágrimas.

"GRANDE COMPANHEIRO"

Elogiado por ministros e políticos, o ex-vice foi lembrado por muitos por sua humildade, garra e pelo seu papel nos dois mandatos de Lula.

"Ele engrandeceu o governo, ajudou o governo nas suas realizações e foi um grande companheiro de todas as horas, que vai ser lembrado por todos nós", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em nota.

Com o estado de saúde debilitado, Alencar não pôde viajar a Brasília para participar da posse da presidente Dilma Rousseff no dia 1o de janeiro. Ele insistiu até a última hora para ir de São Paulo para Brasília, mas não foi possível.

Emocionado ao ser informado sobre a morte por jornalistas durante uma entrevista, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, lembrou da longa batalha contra a doença.

"Ele deu tantos bailes nos médicos que a gente achava que ele poderia ainda aguentar mais um pouco no meio de nós. Foi o equilíbrio dele, a amizade dele que nos confortou nas horas mais difíceis", afirmou o ministro, que no governo Lula foi chefe de gabinete da Presidência.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que Alencar foi "um grande brasileiro e um grande político. Tinha coragem de discordar e de ser um homem público. A maneira como ele enfrentou a doença, e soube sofrer, é uma lembrança que o povo brasileiro jamais esquecerá".

O mineiro Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que o ex-vice foi "um exemplo de nós todos, que honra Minas Gerais e que honra essa nossa atividade tão depreciada, tão contestada, mas que tem também a exercê-la homens do quilate moral e da dimensão política de José Alencar".

O ex-presidente da República e senador Itamar Franco (PPS-MG) disse que Alencar foi um "homem voltado aos interesses nacionais, um grande mineiro, um grande brasileiro... Acho que todos nós perdemos um homem guerreiro. Ele mostrou sua garra não só na doença, mas em toda a sua vida pública".

Para o deputado ACM Neto (DEM-BA), Alencar foi "um dos homens públicos mais respeitados do país e exemplo de serviços públicos prestados ao país, sobretudo na luta pela vida. A nova geração de políticos hoje se sente emocionada".

A última aparição pública de Alencar foi em 25 de janeiro, quando recebeu uma condecoração no aniversário da cidade de São Paulo.

O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), informou que haverá velório na quinta-feira em Belo Horizonte, no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro.

Na ocasião, com dificuldade de locomoção e sentado em uma cadeira de rodas, o ex-vice-presidente chegou a pedir desculpas por não poder discursar em pé e agradeceu o apoio que recebeu para combater a doença.

"Se eu morrer agora, está bom demais", disse na ocasião, lembrando das mensagens de apoio que vinha recebendo.

Fundador da empresa têxtil Coteminas, Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e deixa três filhos.

Fonte: O Globo