O presidente do Iêmen, Ali Abdallah Saleh, alvo há dois meses de protestos populares, destituiu neste domingo o governo, dois dias após o massacre de 52 manifestantes, informou a agência de notícias estatal Saba.

"O presidente da República dissolveu o governo e ficará encarregado dos assuntos internos até a formação de um novo executivo".

A decisão foi tomada no momento em que manifestantes exigiam a saída de Saleh, após a morte de 52 pessoas em um ataque realizado por homens armados na sexta-feira passada, em Sanaa, atribuído a partidários do regime.

Uma multidão participou hoje, na região da Universidade de Sanaa, do funeral de alguns dos 52 manifestantes mortos a tiros na sexta-feira, constatou a AFP no local.

Milhares de pessoas ocuparam a praça em frente à Universidade de Sanaa e as avenidas adjacentes, na maior manifestação desde o início dos protestos, em janeiro passado, para exigir a saída de Ali Abdullah Saleh.

A praça da Universidade é o epicentro dos protestos e na sexta-feira foi cenário da sangrenta repressão que deixou 52 mortos e 126 feridos, quando homens armados - partidários do regime, segundo os manifestantes - dispararam contra a multidão depois da oração semanal.

O presidente Saleh lamentou a morte dos manifestantes e afirmou que não morreram por disparos de agentes das forças de segurança.

A decisão de dissolver o governo ocorre após a renúncia da ministra iemenita dos Direitos Humanos, Huda al Baan, que abandonou o cargo em protesto pela repressão às manifestações e ao massacre de sexta-feira.

A ministra também saiu do partido do Congresso Popular Geral, de Ali Abdullah Saleh, para protestar contra "o massacre cruel" de manifestantes na praça da Universidade.

O subsecretário do ministério dos Direitos Humanos, Ali Taysir, tomou a mesma decisão.

O embaixador do Iêmen nas Nações Unidas, Abdullah al Saidi, também apresentou sua renúncia para protestar contra o massacre de sexta-feira.

O diplomata pediu demissão "em sinal de protesto contra o uso da força contra manifestantes em Sanaa", informou uma fonte da chancelaria.

Outra diplomata, Jamila Raja, apontada como a próxima embaixadora no Marrocos, indicou à AFP que também tinha apresentado sua demissão para protestar contra a repressão.

Vários ministros, responsáveis e deputados também renunciaram nos últimos dias em protesto pelo uso excessivo da força contra as manifestações que exigem a saída do presidente, no poder há 32 anos.

Fonte: UOL