Após contratar cinco submarinos e um estaleiro militar com os franceses da DCNS, a Marinha do Brasil lançou o ProSuper, destinado à compra de 11 belonaves. Como todos os representantes dos seis países interessados estiveram na recente feira Laad, no Rio, o assunto gerou muitos comentários de bastidores. A Marinha definiu um sistema em que escolherá um estaleiro estrangeiro e este, como principal elo - main contractor - definirá um estaleiro brasileiro para realizar o projeto, orçado em R$ 6 bilhões. No caso dos submarinos, a DCNS escolheu, sem concorrência, a brasileira Odebrecht para atuar no projeto. A Marinha pretende receber do main contractor um navio completo, com todas as armas, sistemas e equipamentos.

Marinha Brasileira deverá substituir pelo menos 11 fragatas como a F-42 Constituição (acima)

A Marinha tem grande experiência em construção naval e o xis do problema está na definição dos mísseis, canhões, radares, sistemas computadorizados e demais equipamentos destinados ao combate. A força armada também pretende exigir que sejam utilizados alguns itens que ela desenvolveu, como o despistador de mísseis, o lançador de torpedos, a guerra eletrônica, o míssil antinavio. O grande problema que se apresenta é a falta de vaga nos estaleiros nacionais, todos ocupados com navios e plataformas de Petrobras, Transpetro e barcos de apoio para o pós e o pré-sal.

A disputa parece que vai ser acirrada. Os financiamentos, o preço, a transferência de tecnologia e a produção no Brasil serão fatores de grande peso na decisão, além das pouco comentadas, mas sempre relevantes questões políticas. Estão no páreo a British Aerospace Systems (a inglesa BAe Systems), a alemã Bloom & Voss, a espanhola Navantia, a francesa DCNS, a italiana Fincantieri e sul-coreana DSME. E, no apagar das luzes, surge o interesse dos ianques.



Bastidores

Fontes bem informadas dizem que a proposta espanhola pode ter a parte de combate centrada no sistema Aegis da norte-americana Lockheed Martin. O mesmo acontece com os coreanos, que também acenam com o mesmo sistema de armas. Como os norte-americanos não transferem tecnologia, fontes da Marinha acham que será muito difícil se basear no sistema deles.

Nesse caso, uma opção seria incluir no navio espanhol o Sicomta, sistema tático desenvolvido no Brasil pela Consub, empresa norueguesa de confiança da Marinha, integrado com equipamentos e armas de outros fornecedores tradicionais de materiais de qualidade e de última geração, como os de origem sueca.

A Saab tem desenvolvido um intenso programa de relacionamentos com empresas nacionais, pré-estruturando a possibilidade de fabricação local e de co-desenvolvimentos. Demonstrando o interesse de se fixar definitivamente como parceiros, a Saab implantou recentemente um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em São Bernardo do Campo (SP).

Assim, as propostas coreana e espanhola podem esbarrar nessa restrição dos norte-americanos. A oferta alemã pode ter a parte de combate centrada em materiais da antiga Holandeese Signal, hoje incorporada à francesa Thales. Mas isso pode ser vetado pelos franceses.

A estatal francesa DCNS participará com as mesmas armas e equipamentos e não vai querer facilitar a competição para os alemães. Esse detalhe pode encaminhar a Bloom & Voss também para a alternativa de um Sicomta integrado com materiais da Saab. Uma alternativa para os alemães seria o sistema da Atlas Elektronic, hoje incorporada ao grupo EADS, que tem uma joint venture com a Odebrecht.

Italianos e franceses aparecem com o mesmo tipo de navio: as fragatas conhecidas como Freem, resultado de um programa de cooperação entre as marinhas dos dois países. Os sistemas, armas e equipamentos são diferentes, cada um aperfeiçoado em seus próprios países. Os italianos saíram na frente e, no final do ano passado, falava-se que só faltava assinar o contrato. Seria fruto de uma decisão política; de acordo de governos.

Não se sabe se a opção italiana é bem recebida na Armada Brasileira. Comenta-se que, envolvida em projeto de R$ 20 bilhões de cinco submarinos e um estaleiro, a francesa DNCS não estaria muito empenhada no novo desafio. Os ingleses, tradicionais parceiros da Marinha Brasileira, desde os anos 70, com as fragatas do tipo Niterói, estão com dificuldade de propor um casco de navio já testado no mar.

Devem ofertar a participação brasileira no projeto do Global Combat System, navio que estarão construindo para a marinha Real a partir de 2016. Seria um caso de verdadeira transferência de tecnologia. Enquanto se espera pelos novos navios, a Defesa inglesa acena com a venda de fragatas de segunda mão que serão retiradas de serviço devido aos recentes cortes de gastos determinados pelo governo de Sua Majestade.

Os Estados Unidos, de Barack Obama, podem surpreender. Há informes iniciais sobre uma possível oferta, ainda em círculo fechadíssimo. O pacotão norte-americano compreenderia a compra pelo Brasil das aeronaves F-18 - pela FAB - em troca da montagem, na Embraer, de 250 destes aviões para a Marinha norte-americana. E mais a compra, pelo governo norte-americano, de 20 aeronaves Super Tucano, enquanto o Brasil receberia fragatas de segunda mão, mas perfeitamente operacionais.

Fonte: Monitor Mercantil