Em ensaio publicado na revista London Review of Books, o historiador marxista britânico Perry Anderson afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o "político mais bem-sucedido de seu tempo". Segundo o ensaísta, Lula é o "único líder mundial" cuja popularidade se reflete "não na moderação, mas na radicalização no governo".
"Esse sucesso se deve muito a um excepcional conjunto de talentos pessoais, um misto de sensibilidade social e frieza política, ou - como sua sucessora, Dilma Rousseff, identifica - racionalismo e inteligência emotiva, sem falar em seu bom-humor e charme pessoal", afirma Anderson.
De acordo com Anderson, a chegada de Lula ao poder está atrelado ao fortalecimento do movimento sindicalista no País e à criação do PT. "A ascensão de Lula de trabalhador de chão de fábrica a líder de seu País nunca foi um triunfo individual: o que tornou isso possível foi a principal revolta sindical do último terço do século passado, criando o primeiro - e único, até o momento - partido político moderno do Brasil, que se tornou veículo de seu crescimento. A combinação de uma personalidade carismática e uma organização de massa nacional foram instrumentos formidáveis", diz o historiador.
Entretanto, segundo Anderson, Lula precisou enfrentar uma série de crises em seu primeiro mandato até chegar, no ano passado, à popularidade recorde de 80% de aprovação. O historiador cita o medo dos investidores internacionais no primeiro ano do governo Lula, com o risco da economia brasileira ser contaminada pela crise na Argentina; o escândalo do mensalão, em 2005; e o envolvimento de membros do primeiro escalão do governo em denúncias de corrupção, como Antonio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken.
Para o historiador, dois fatores foram fundamentais para a "virada" de Lula. O primeiro foi o crescimento da economia, impulsionado principalmente pelo bom momento internacional, especialmente com o "boom" das exportações de soja e ferro para a China. O segundo, e talvez mais decisivo, foi a implantação do programa Bolsa Família - "o programa que agora é indelevelmente associado a Lula".
"O custo efetivo do programa é uma ninharia. Mas seu impacto político foi enorme. Não só porque ele ajudou, mesmo que modestamente, a reduzir a pobreza e estimulou o consumo nas regiões mais castigadas do País. Não menos importante foi a mensagem simbólica que o programa passa: que o Estado se preocupa com todo brasileiro, não importa o quão miserável e oprimido seja, como cidadãos com direitos sociais em seu País. Com essa mudança, a identificação popular de Lula se tornou a sua habilidade política inabalável", afirma.
Fonte: Terra - Via Terror do Nordeste
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