O braço internacional do grupo hacker Lulzsec anunciou que vai encerrar suas atividades, depois de 50 dias de ataques a empresas e governos. O anúncio foi feito por meio de uma nota divulgada no perfil do grupo internacional no Twitter na noite deste sábado (25). Apesar do comunicado, o suposto perfil dos representantes brasileiros da organização continuou anunciando no Twitter diversos ataques contra sites do governo – isso indica que, apesar da decisão da “matriz”, aqueles que usam o nome LulzSec no Brasil podem continuar atuando.
“Há 50 dias, partimos com o nosso humilde navio para um oceano inquieto e brutal: a internet”, escreveu o grupo no comunicado. De acordo com eles, suas ações foram movidas por “diversão”. “Nos últimos 50 dias nós estivemos pertubando e expondo empresas, governos, a própria população em geral e muito possivelmente tudo o que há no meio, só porque nós podemos. Tudo para nosso próprio entretenimento – vaidade, fama, reconhecimento”, continua o texto.
Os hackers afirmam no texto de despedida que “realmente acreditam no movimento Antisec” (investida do LulzSec com o grupo Anonymous contra páginas de governos de todo o mundo), além de esperarem que ele continue sem a ajuda do Lulzsec. “Por favor, não parem. Unidos podemos pisar em nossos opressores e nos imbuir do poder e da liberdade que merecemos”, encerra o texto. “Você pode conseguir o que quiser e o que merece, acredite em você.”
Eles admitiram ser um grupo de seis pessoas (como havia divulgado uma reportagem da publicação britânica “Guardian”) e explicaram que não estão ligados à identidade do “Lulz Boat” permanentemente: por trás do grupo, existiriam pessoas comuns. “Temos gostos variados para roupas e televisão, somos iguais a vocês”, ironizam. “Até Hitler e Osama Bin Laden tinham essas peculiaridades (...), não é interessante?”
Esses hackers apareceram pela primeira vez em maio, dizendo ter o objetivo de expor brechas na segurança de sistemas. No Twitter, eles se declararam responsáveis por ataques recentes a empresas de videogame como Sony e Nintendo, às redes de televisão americanas Fox e PBS e a órgãos governamentais americanos como a CIA (agência de inteligência americana) e o FBI (polícia federal), além do serviço público de saúde britânico, o NHS. O braço brasileiro do grupo reivindica os diversos ataques realizados nesta semana contra sites do governo.
Para tirar sites do ar, os hackers geralmente realizam ataques de negação de serviço. Quando isso acontece, eles tentam sobrecarregar um servidor com muitas solicitações de acesso ao mesmo tempo (diversos computadores tentando acessar um mesmo site). Os hackers utilizam muitas vezes redes de computadores zumbis (máquinas infectadas), que fazem – sem o consentimento ou conhecimento do dono – uma série de requisições até que o sistema-alvo não consiga suportar e saia do ar.
Na madrugada de quarta-feira (22), o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) registrou 34 milhões de ataques simultâneos contra sites do Governo -- no total, o número chegou a 2 bilhões. Os alvos da ação reivindicada pelo LulzSec eram os sites da Presidência, o Portal Brasil e também a página da Receita Federal.
Por que parou?
O grupo internacional não explica por que decidiu parar, mas é possível que tenha havido alguma preocupação com segurança. Após ter acesso a uma conversa sigilosa entre representantes do LulzSec, o “Guardian” divulgou uma análise do conteúdo, dizendo se tratar de um grupo desorganizado e também obcecado com a mídia.
O LulzSec passa uma imagem jovial e exibe um perfil de diversão em suas ações, mas o suposto líder Sabu se mostrava bastante sério – o “Guardian” o descreveu como “dominador e às vezes quase um pai”. Ele lembrava os demais participantes, com frequência, sobre os perigos de serem rastreados pelas autoridades.
Em uma ocasião, por exemplo, um membro do grupo iniciou uma espécie de “perguntas e respostas” no site Reddit, para interagir com o público. A brincadeira, descreve o “Guardian”, causou a ira de Sabu. “Vocês criaram uma seção de perguntas e respostas no Reditt? Vou até suas casas matar vocês. Se vocês criaram isso, não entendem o que estamos fazendo aqui. Pensei que isso era senso comum... Chega de aparições públicas sem que sejam organizadas por nós.”
A iniciativa do Reditt, organizadas por um participante sem que os demais membros soubessem ou concordassem, não foi a única desse tipo. O participante Kayla foi acusado de dar códigos de um voucher roubado da Amazon para alguém de fora do grupo – o que poderia levar as autoridades a descobrir mais detalhes sobre as ações do grupo. Sabu também condenou essa atitude.
Motivação
Em um manifesto, os hackers brasileiros apontados como representantes do LulzSec explicaram que a ação para derrubar os sites do governo local faz parte da operação AntiSec – investida do LulzSec com o grupo Anonymous contra páginas de governos de todo o mundo. “A LulzSec e o Anonymous acabaram de declarar guerra aberta contra todos os governos, bancos e grandes corporações do mundo. Eles estão convocando todos os hackers do mundo para se unirem ao propósito. O objetivo é expor corrupção e segredos obscuros“, dizia o documento.
Na quarta-feira, o UOL Tecnologia conversou com um dos representantes do braço local do LulzSec. Em entrevista realizada via sistema de bate-papo IRC, o hacker identificado apenas como bile_day afirmou que o objetivo das ações é “mostrar a podridão que está encubada no Governo”. “Estamos reunindo documentos obtidos nas investidas que fizemos e iremos colocá-los a disposição para que todos os brasileiros vejam e se juntem a nós”, afirmou.
Adesão
Os ataques deste sábado – muitos deles não reivindicados pelos brasileiros do LulzSec -- indicam a possível adesão de outros hackers neste movimento de comprometer sites do governo.
O perfil do grupo no Twitter, o @LulzSecBrazil, teria mudado para @LulzSec_BR. Na primeira conta, pouco foi postado durante o dia. Na segunda, noticiaram o vazamento de dados e também ataques, mas nenhum referente àqueles noticiados durante o dia: ações contra os sites daUnB (Universidade de Brasília), das secretarias da Comunicação e da Administração do governo de Mato Grosso, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, da Polícia Militar de Goiás e da Assembleia Legislativa do Amazonas.
Na ação contra a Assembleia Legislativa do Amazonas, um grupo denominado Sophia Hacker Group 2011 - Owned by Alternative, sem qualquer aparente ligação com o LulzSec, assumiu a autoria do ataque. Pelo padrão de comportamento observado nos últimos dias, é muito provável que o LulzSec tivesse divulgado o sucesso desses ataques, caso fossem de sua autoria.
Como nada foi mencionado por eles, surge a possibilidade de outros grupos ou indivíduos terem aderido à causa. “No momento em que esses jovens ficam sabendo que um certo grupo, no caso o LulzSec, conseguiu chamar a atenção mundial por suas ações, imediatamente eles se identificam com o movimento [seja ele qual for] e passam a querer fazer parte dele, seja individualmente, seja formando grupos menores de interesses semelhantes, geralmente motivados por um ideário”, afirmou o especialista em tecnologia Carlos Alberto Teixeira, em sua coluna em "O Globo".
Fonte: UOL
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