Na reunião de segunda-feira, os representantes de Brasília ouviram dos chineses cobranças para definição de um cronograma detalhado que permita o lançamento do CBERS-3 em novembro de 2012 e do CBERS-4 em 2013. Segundo o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Gilberto Câmara, uma das principais razões para o atraso foi a dificuldade da indústria nacional de desenvolver e produzir os equipamentos que deverão ser entregues pelo Brasil. Nos três primeiros satélites, a China era responsável por 70% dos componentes. A partir do CBERS-4, a divisão é de 50% para cada país. “Aumentou a complexidade dos satélite e a parcela que cabe ao Brasil”, observou Câmara.
Agora, o principal desafio é de pessoal. A montagem do satélite começará em novembro e exigirá a contratação pelo Inpe de 60 funcionários para trabalharem na China pelo período de um ano, em esquema de rodízio. Câmara anunciou na semana passada que deixará o cargo em dezembro, dois anos antes do término de seu mandato. “Estou frustrado porque o Inpe não recebeu do Ministério [da Ciência e Tecnologia] os recursos humanos necessários para renovar sua equipe”, disse em Pequim.
Em sua avaliação, um eventual novo atraso no cronograma colocará em xeque não só o programa, mas a capacidade do Brasil de cumprir seus acordos internacionais. Integrante da missão que negociou o acordo de satélites com os chineses há 25 anos, Raupp observou que é “incomparável” a velocidade de desenvolvimento dos programas espaciais dos dois países. “A China vai lançar 19 satélites entre 2011 a 2015 e o Brasil, 3”, exemplificou, citando números que incluem os dois satélites conjuntos previstos para o período.
Apesar do atraso no CBERS-3, Brasil e China decidiram ampliar sua cooperação na área espacial, com a utilização da base de Alcântara, no Maranhão, para o monitoramento da nave chinesa Shenzhou-8 quando ela passar sobre a região, provavelmente no fim de outubro. “Alcântara tem uma posição estratégica e vai fornecer dados que permitirão monitorar o acoplamento da Shenzhou 8 com o laboratório espacial Tiangong 1”, disse Li Lijie, do Centro de Lançamento, Monitoramento e Controle de Satélites da China.
A base brasileira será ligada à chinesa na cidade de Xian por uma VPN (Virtual Private Network), conexão de internet rápida e segura, que permitirá a troca de informações e a solução de problemas em tempo real, ressaltou Li. A comunicação servirá para o acompanhamento não só do Shenzhou 8, mas dos satélites lançados pelos dois países. Brasil e China pretendem ainda elaborar um plano espacial de dez anos e identificar novos projetos de cooperação no setor. Se depender do Brasil, o programa incluirá o lançamento de mais três satélites até 2020, além dos dois já previstos.
Fonte: Estadão
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