A Rússia e o Brasil podem abandonar o dólar no comércio bilateral, substituindo-o por suas moedas nacionais, afirmou o banco central russo. O Banco da Rússia divulgou a declaração após encontros com autoridades brasileiras, sem informar quando a medida será implementada.

"A questão do uso de nossas moedas nacionais no comercio bilateral foi tema central de nossas discussões", disse o BC russo. "Os planos mais adequados parecem ser os que usam acertos em moeda nacional por meio de bancos comerciais."

A Rússia vem há anos pedindo o abandono do dólar em transações internacionais e como moeda de reserva. A China e a Rússia começaram no ano passado a usar o rublo e o iuane em seu comércio bilateral de US$ 40 bilhões por ano e o par de moedas vem sendo negociado no índice Micex de Moscou desde dezembro.

O comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina cresceu 60,27% entre o primeiro semestre de 2010 e o mesmo período deste ano, por meio do Sistema de Moeda Local (SML). De acordo com os dados do Banco Central (BC).

As exportações brasileiras para o país vizinho subiram 60,8% na análise do mesmo período, ao marcarem R$ 913 milhões em 2011 e R$ 567,8 milhões no ano passado.

Segundo especialistas em comércio exterior, o valor obtido nas operações de SML corresponde a 8% do valor total do comércio bilateral dos países. Contudo, a projeção é que este percentual praticamente dobre em 2012 e marque entre 12% e 15%.

"Em 2011 já temos um comércio maior por meio do SML, quase o dobro frente ao do ano passado. Um valor certo para as exportações deste ano inteiro é impossível, mas manteremos o crescimento de no mínimo 15%. Esse ano nossa meta é divulgar principalmente para o mercado automotor, que ainda utiliza pouco o incentivo e com isso aumentemos o comércio sem utilizar o dólar", declarou com exclusividade ao DCI o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, Alberto Alzueta.

"Neste ano o SML entre os países deve crescer mais do que os quase 180% que cresceu entre 2009 e 2010, o valor é uma incógnita pois temos variáveis como preço de produtos e quantidades comercializadas. Mas, neste ano vamos marcar 12% de SML frente ao comércio bilateral, com certeza. O governo de Dilma Rousseff terá foco nos problemas técnicos e não haverá um aumento maior por conta disso, ela irá priorizar o comércio exterior, mas a técnica dele e não os meios", disse o diretor presidente do Grupo Baska, Luiz Ramos.

O número de operações por parte dos empresários brasileiros (2.702) nos primeiros seis meses do ano é muito superior às operações por parte dos empresários argentinos (19) na utilização do Sistema. A explicação dos especialistas é a divulgação de forma diferenciada nos países, a transferência de empresas da Argentina para o Brasil que elevou o número de exportações e reduziu o montante importado pelo país vizinho e a falta de confiança.

Para o presidente da Associação das empresas de comércio internacional (AECI), Paulo Camurugi os números positivos para o Brasil ocorre devido as facilidades dos importadores e dos exportadores em pagar e receber, e das facilidades de conversão existentes nas empresas nacionais. "Outra vantagem também é o benefício para o exportador brasileiro que contrata e recebe em reais e elimina o risco cambial e os custos de conversão", explica Camurugi.



"Houve um acordo entre os dois países para usar o SML, isso se deve a perda da importância do dólar, como referência monetária internacional, segundo ponto, evita despesas com conversões de moeda. Há uma variação do real para o dólar e do peso para o dólar, fica mais previsível os preços por meio do SML", acrescenta o professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite.

Tecnologia militar

Outra questão entre a Rússia e o Brasil são as negociações para a criação conjunta de novas tecnologias militares, segundo o diretor da agência russa Rosoboronexport, Anatolii Isaikin.

De acordo com Isaikin, as perspectivas para a colaboração técnico-militar entre Rússia e Brasil são muito boas, não só no âmbito de exportações russas para o Brasil, mas também na cooperação com as empresas do complexo industrial militar brasileiro.

Ano passado, os russos iniciaram negociações com as autoridades brasileiras para a venda de blindados Tigre, que chegaram a ser testados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Além disso, os russos também tentam negociar com a venda de caças Su-35.

Fonte: DCI