Depois de um título conquistado a base de atitude controversa na última prova – saiu da pista com Alain Prost ao impedir ultrapassagem do francês –, a temporada de 1991 foi de redenção e recuperação da imagem para Ayrton Senna. Neste dia 20 de outubro, faz 20 anos que o piloto conquistou o tricampeonato da Fórmula 1 e o último título de um brasileiro na categoria.

A conquista colocou Senna no papel de “mocinho” de uma das maiores rivalidades da Fórmula 1 – ao menos para o público do Brasil. Quando Alain Prost o jogou para fora da última prova de 1989 (o brasileiro conseguiu se recuperar, vencer a corrida, mas foi desclassificado por ter passado reto numa chicane), Senna definiu que daria o troco.

A revanche da manobra, em Suzuka, no ano seguinte, colocou uma mancha sobre sua carreira que só seria apagada em 1991, quando Ayrton deixou de lado a frieza característica – e necessária – dos pilotos de Fórmula 1 para mostrar seu lado humano. Um dos maiores ícones do esporte a motor era um homem de bem, que valorizava a amizade e nutria sentimentos de ternura até para com seus maiores rivais.

Pelo menos foi isso que se entendeu quando Senna subiu na garupa do carro de Nigel Mansell em Silverstone, quando teve uma pane seca na última volta da prova vencida pelo adversário britânico. Os fiscais de prova bem que tentaram impedir, mas o brasileiro permaneceu sobre o carro de Mansell e ali conquistou os fãs que não haviam se convencido com a incrível vitória no GP do Brasil quase quatro meses antes.

O ÉPICO GP DO BRASIL
Em Interlagos, Senna chegou de vez à consagração no País. O piloto conquistou sua primeira vitória no GP do Brasil de forma heroica. “Faltando 20 voltas para o final da prova, perdi a 4ª marcha”, contou à época. “Precisei fazer um esforço físico enorme. Foi praticamente o fim para mim.”

A chegada estava longe, e Senna não desistiu. Mesmo tendo ficado apenas com a 6ª marcha a sete voltas do fim, venceu quando uma chuva forte começou a cair e a direção de prova resolveu terminar a corrida. Exausto, com espasmos musculares no braço, mal conseguiu levantar o troféu. “Foi uma das piores dores que senti na vida. Mas o desejo de vencer era maior. Foi uma vitória maravilhosa.”

A VOLTA POR CIMA
Se em 1990 a decisão do campeonato, em Suzuka, havia sido contestada e Senna sofrera críticas, em 1991 a história mudou totalmente. O brasileiro conquistou o título de novo, mas de forma completamente distinta. Embora não fosse o favorito para vencer a prova, já que a Williams de Mansell estava em alta, Senna escapou na frente.

O britânico acabou saindo da prova e o brasileiro, na reta final, deixou o companheiro Gerrard Berger conquistar sua primeira vitória na carreira. Ali Senna deixava o já seleto rol dos grandes pilotos para se transformar num mito.

Fonte: Estadão