A Palestina se converteu nesta segunda-feira em Estado membro pleno da Unesco, com o apoio de mais de uma centena de países e apesar da recusa dos Estados Unidos durante uma votação nominal na 36ª Conferência Geral em Paris, que o presidente palestino, Mamud Abbas, saudou e chamou de "vitória da justiça".

"A Conferência Geral decidiu pela admissão da Palestina como membro da Unesco", segundo a resolução adotada por 107 votos a favor, 52 abstenções e 14 votos contra.



"Este é um momento histórico que devolve à Palestina alguns de seus direitos", afirmou o ministro palestino das Relações Exteriores, Riyad al Malki.

"Posso garantir que seremos um elemento positivo a serviço desta organização", afirmou Malki depois de agradecer a todos que deram seu voto à iniciativa promovida pelo grupo de países árabes.

"Esta votação vai apagar uma pequena parte da injustiça cometida contra o povo palestino", afirmou ainda.

Já Mahmud Abbas comemorou a decisão como uma vitória para os direitos de seu povo.

"Aceitar a Palestina na Unesco é uma vitória para (os nossos) direitos, para a justiça e para a liberdade", afirmou seu porta-voz, Nabil Abu Rudeina, citando declarações feitas por Abbas em uma ligação a partir de Amã.

Em um auditório repleto e ante inúmeras câmeras de televisão, os presentes aplaudiram aos países europeus que apoiaram a iniciativa, começando pela Áustria, Bélgica, Espanha, Luxemburgo e Finlândia.

Estados Unidos, Alemanha e Canadá votaram contra, enquanto a Itália e o Reino Unido se abstiveram.

Quase todos os países árabes, africanos e da América Latina votaram pela adesão.

A França, que tinha sérias reservas, finalmente votou pela adesão.

"A entrada da Palestina leva o número de Estados-membros da Unesco a 195", afirmou a Unesco em um comunicado emitido imediatamente após a votação.

Segundo o governo israelense, em reação imediata, a admissão da Palestina à Unesco afeta as perspectivas de um acordo de paz.

"Israel rejeita a decisão da Assembleia Geral da Unesco (...) aceitando a Palestina como Estado membro da organização", indica um comunicado do ministério das Relações Exteriores, ao estimar que "se trata de uma manobra palestina unilateral que não mudará nada no terreno, mas que afasta a possibilidade de um acordo de paz".

O embaixador dos Estados Unidos ante a Unesco, David Killion, reiterou a posição de seu país ao considerar que a adesão é prematura.

A Casa Branca também criticou a notícia. "A votação de hoje na Unesco para admitir a Autoridade Palestina é prematura e prejudica a meta compartilhada da comunidade internacional de uma paz abrangente, justa e duradoura no Oriente Médio", afirmou o porta-voz Jay Carney.

Os Estados Unidos - que se retiraram da Unesco em 1984 argumentando que não estava de acordo com a gestão desse organismo ao qual regressou em 2003 - advertiram em reiteradas ocasiões que poderá cortar sua ajuda econômica à Unesco, de 22% do orçamento bianual, que chega a 653 milhões de dólares.

"Hoje é um dia triste, quando uma organização decide desconectar-se da realidade", afirmou o embaixador israelense ante a Unesco, Nimrod Barkan, que classificou de ficção científica a entrada dos palestinos na Unesco.

Para Barkan, os países que, como a França, apoiaram o pedido de adesão da Palestina na Unesco verão sua influência sobre Israel enfraquecer.

"Isto vai enfraquecer a capacidade deles de influenciar na posição de Israel", principalmente em relação ao processo de paz, disse à AFP.

A surpresa veio da França que, após fazer várias considerações, finalmente se pronunciou em favor da admissão da Palestina.

"A Unesco não é o local e nem o momento. Tudo deve acontecer em Nova York", dizia até sexta-feira o porta-voz do Ministério francês das Relações Exteriores, Bernard Valero, justificando que a admissão na Unesco não poderia preceder a votação do pedido de adesão na ONU apresentado pelos palestinos no dia 23 de setembro.

Paris justificou seu voto surpresa. "Hoje, a questão apresentada era para saber se a comunidade internacional responderia sim ou não ao pedido de adesão palestino na Unesco", afirmou Bernard Valero.

"A partir deste momento, devemos assumir a responsabilidade e responder sobre o mérito. E sobre este mérito, a França diz que sim, a Palestina tem o direito de se tornar membro da Unesco, desta organização cuja missão é trabalhar para a generalização de uma cultura de paz dentro da comunidade internacional", concluiu.

A entrada da Unesco supõe uma vitória diplomática considerável para a Palestina em sua aspiração de converter-se em Estado soberano da ONU.

Sua candidatura nas Nações Unidas será examinada em 11 de novembro no Conselho de Segurança, onde poderá enfrentar um veto dos Estados Unidos.

A votação na Unesco acontece depois de um fim de semana violento na Faixa de Gaza, onde 12 palestinos morreram nos ataques israelenses nos campos de treinamento e um israelense morreu no disparo de um obus.

Fonte: BOL/EFE