O motivo da preocupação seria o acordo anunciado nesta semana de que os países do Mercosul (Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai, apesar de este último não ter litoral) não permitirão a passagem de barcos “com bandeiras ilegais das Malvinas”, ocupadas pelo Reino Unido desde 1833.
Outra razão seriam os planos de enviar o príncipe William às ilhas durante seis meses, em 2012, para treinamento militar como piloto de busca e resgate da Força Aérea Real, o que aumentará as tensões com o governo argentino.
De acordo com o jornal, em 2010, o ex-ministro da Defesa britânico, Liam Fox, chegou a revisar e atualizar os planos de guerra para garantir a ocupação das ilhas. O atual ministro, Philip Hammond e o Conselho de Segurança Nacional foram informados de que atualmente não há uma ameaça militar iminente.
De fato, a presidente Cristina Kirchner anunciou na noite desta quarta-feira (21/12) que “muito em breve” a Argentina terá um embaixador no Reino Unido, 30 anos após o congelamento das relações diplomáticas derivado da Guerra das Malvinas.
“Mas se há uma ameaça, faremos os preparativos muito rapidamente. Temos certeza de que os argentinos não podem nem atracar um barco pesqueiro nas ilhas, mas é importante demonstrar que somos sérios em relação a nossas obrigações”, afirmou um oficial militar ao jornal inglês.
O relatório enviado a Hammond, no entanto, menciona a possibilidade de que um novo conflito bélico poderia surgir se houver uma piora nas relações entre os países e que cerca de 1.200 soldados seriam capazes de “repelir uma invasão até que reforços sejam enviados”.
Fontes do ministério de Defesa britânicos também afirmaram ao jornal que há um submarino nuclear no Atlántico Sul, onde estão localizadas as Malvinas. Um ex-comandante da Marinha britânica durante a guerra de 1982 disse que a decisão dos países do Mercosul era "escandalosa" e sugeriu que o submarino deveria “mostrar seu mastro e deixar claro que está lá”.
“Acredito que o ministério de Relações Exteriores deveria ser mais duro. Esta tensão está crescendo há um tempo e temos que fazê-los entender que a soberania não está na mesa de negociações. Os habitantes que moram lá querem continuar sendo britânicos”, afirmou.
Outra fonte militar, em declarações mais desafiantes ao jornal, ameaçou: “No segundo em que eles cruzem sua costa, desceremos do ar. Seria uma caça de perus”. Um oficial, por sua vez, disse que os britânicos contam com uma “força decente de ataque para proteger as ilhas, o que estava ausente em 1982, e as Forças Armadas argentinas não se recuperaram adequadamente da ‘paulada’ que receberam na última vez”.
Soberania argentina
Após o anúncio, realizado na Cúpula do Mercosul, de que os países-membro do bloco não permitirão que os navios com bandeira ilegal das ilhas atraquem em seus portos, os diplomatas britânicos na América do Sul convocaram reuniões nos países onde estão designados, exigindo “explicações urgentes” sobre o significado da medida.
Desde o início de seu mandato, Cristina Kirchner fez inúmeras declarações públicas, tanto em cúpulas regionais como mundiais, acerca da soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas. Durante seu discurso em setembro na 66ª Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), a presidente argentina questionou o poder de veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, entre os quais está o Reino Unido.
“Dez resoluções desta Assembleia convocaram o Reino Unido da Grã Bretanha e o meu país a sentarem e negociar, conversar sobre nossa soberania. Tenham em conta que a Argentina não está demandando que se cumpra esta resolução sob o reconhecimento da soberania, está simplesmente pedindo que se cumpra com alguma das dez resoluções da ONU”, queixou-se a mandatária.
A Argentina também mencionou as resoluções do Comitê de Descolonização e as declarações da OEA (Organização dos Estados Americanos). “Diversos fóruns (...) do mundo inteiro reclamam através de resoluções e declarações o tratamento desta questão e o Reino Unido se nega sistematicamente a cumpri-lo e obviamente utilizado sua condição de membro do Conselho de Segurança com direito a veto para isso.
Na ocasião, Cristina Kirchner afirmou que o país esperará “um tempo razoável”, mas que no caso de não conseguir dialogar com as autoridades britânicas, seu governo se verá obrigado a revisar a declaração conjunta que permite um voo semanal que parte do Chile às ilhas, seja com escala na cidade de Rio Gallegos, seja simplesmente sobrevoando o território argentino.
“A Argentina não tem intenções de agravar a situação de ninguém, mas também é justo que esta Assembleia e que o Reino Unido tomem consciência de que o cumprimento das resoluções é necessário. Não podemos estar 180 anos, 30 anos [esperando], assim como a Palestina não pode estar peregrinando durante décadas e décadas para ter um lugar no mundo e menos ainda os argentinos para exigir este território que legitimamente nos corresponde”, enfatizou.
Segundo ela, a ocupação do Reino Unido nas ilhas é ilegítima, já que “não é necessário ressaltar que ninguém pode alegar domínio territorial a mais de 14.000 km de ultra-mar”. Cristina Kirchner queixou-se também das “verdadeiras provocações, ensaios de mísseis em maio e julho” e alegou que os recursos naturais pesqueiros e petroleiros das Malvinas são “substraídos e apropriados ilegalmente por quem não tem nenhum direito”.
Fonte: Opera Mundi
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