
Segundo Retamales, uma base moderna deveria funcionar com muito dinheiro, o que não acontece no Brasil e no Chile. "Há um pouco de improvisação, é uma realidade latino-americana", afirmou ele, que deu como exemplo a falta de uma sala de geradores secundária em Comandante Ferraz. "Quando um incêndio acontece na sala de geradores de energia é horrível, pois falta luz, água e os alarmes não funcionam. Não havia uma unidade de potência separada para apagar incêndios. Nós também não temos e a fatalidade foi uma grande lição, iremos empreender mudanças", ressaltou.
Retamales foi chamado à base chilena de Punta Arenas, sua cidade natal, para auxiliar no resgate dos feridos. Segundo ele, a ajuda demorou duas horas para chegar ao local do incêndio por dificuldades climáticas, o que era "desesperador". "Para ir de bote, tinha que entrar no oceano e a chegada demandava duas horas. De helicóptero só foi possível depois de uma certa visibilidade. Era desesperador que não pudéssemos ajudar mais rápido", relatou.
Brasil não deve deixar a Antártida
A Marinha informou hoje que o incêndio na casa de máquinas da Estação Antártica Comandante Ferraz levou à destruição de 70% da base. Mesmo assim, José Retamales acha que o governo brasileiro não deve desitir das pesquisas na Antártida e espera uma cooperação maior entre os dois países a partir de agora.
"Apesar da curta história brasileira na Antártida (década de 1980), a produção científica do País é importante para o continente. Conhecer a Antártida é uma obrigação de todos. Nos interessa muito e estamos próximos de assinar uma cooperação entre os dois países. O Brasil não deve ficar ausente da Antártida", salientou.
O incêndio comprometeu 40% do programa antártico brasileiro, segundo avaliou o diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jefferson Simões, que já esteve 19 vezes no continente gelado, das quais cinco em Comandante Ferraz. "Foram afetadas principalmente as áreas de biociência, algumas pesquisas sobre química atmosférica e de monitoramento ambiental, especialmente sobre o impacto da atividade humana naquela região do planeta", afirmou.
Segundo Simões, no entanto, o programa antártico continuará funcionando porque a Comandante Ferraz, apesar de concentrar uma parte importante das pesquisas brasileiras, não era a única estação científica brasileira. Ele explicou que ao menos metade dos pesquisadores trabalha em navios de pesquisa ou em acampamentos isolados na Antártida.
Fonte: Terra
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