Veja também:
Visita de príncipe William às Malvinas gera protestos em Buenos Aires
"As Malvinas deixaram de ser causa argentina para passar a ser uma causa da América do Sul", disse a presidente durante discurso. Para ela, o problema das Malvinas se tornou uma causa regional e global pois a Inglaterra está militarizando o Atlântico Sul. "Não podemos interpretar de outra forma o envio do moderno navio de guerra inglês às ilhas", afirmou. Além disso, para Cristina, outro indício da tentativa da Grã Bretanha de militarizar a região foi o fato de o Príncipe William ter aparecido em público utilizando roupas militares - e não civis.
Cristina afirmou que a Argentina vai denunciar essa militarização das ilhas no Conselho de Segurança da ONU e na assembléia da organização. O país já havia levado anteriormente à organização o problema da disputa pela soberania na região.
Por outro lado, a presidente lembrou que os conflitos na América do Sul nunca necessitaram do apoio de organizações internacionais para serem solucionados. "Os conflitos que acontecem atualmente em outras regiões do mundo e que foram levados ao Conselho de Segurança acabaram por se aprofundar e não foram solucionados", acusou. A presidente defendeu uma solução pacífica com a Inglaterra e lembrou do resolução das Nações Unidas, que determina que ambos os países iniciem negociações para solucionar a disputa sobre as ilhas que possuem 2.913 habitantes. "A Inglaterra usurpa as Malvinas como se fossem troféu de guerra", disse.
A declaração foi feita em um ato dirigido a ex-combatentes da Guerra das Malvinas, que contou com a presença de governadores, prefeitos, parlamentares, empresários, funcionários públicos e representantes de organizações sociais. Os principais líderes opositores também participaram do evento, em uma das raras ocasiões em que foram convidados a atos oficiais desde que Cristina assumiu o poder, em 2007.
Fora do tempo
"O colonialismo é um anacronismo do século XXI", disse a presidente, lembrando que ainda há 16 colônias no mundo, sendo 10 inglesas. Ela acusou a Inglaterra de explorar os recursos naturais das Malvinas, principalmente o petróleo e a pesca, "sem nenhum controle ambiental".
A presidente também anunciou que tornará público o Informe Rattenbach, documento desenvolvido por uma comissão criada no governo de Reynaldo Bignone, que tem como objetivo analisar o desempenho das Forças Armadas argentinas durante a Guerra das Malvinas.
Reflexos na Espanha
O aumento da tensão entre Argentina e Inglaterra em relação às ilhas gerou reflexos na Espanha, que reabriu o debate sobre a soberania de Gibraltar, também sob domínio britânico. A Argentina e a Espanha mantém há anos uma disputa com o governo britânico para tentar recuperar territórios que lhes pertencem historicamente.
Tensão agravada
O Reino Unido anunciou, na semana passada, que enviará às Malvinas um de seus navios de guerra mais modernos, apesar de informar que a operação havia sido planejada há muito tempo. Desde a última quinta-feira, o príncipe William da Inglaterra está nas ilhas. Diplomatas britânicos consideram que a Argentina tenta organizar um bloqueio econômico às Malvinas e impedir a saída do único voo da LAN Chile que liga as ilhas ao Continente americano, afirmou na semana passada o jornal The Guardian.
Já os líderes da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos de América) se reuniram no último final de semana em Caracas para estudar uma proposta para impor sanções contra a Inglaterra devido à sua "atitude colonialista". Além disso, em dezembro, os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) decidiram bloquear a entrada em seus portos de navios com bandeira das ilhas Falkland (Malvinas).
História
As Ilhas Malvinas são compostas por duas ilhas principais e outras ilhas menores, situadas ao largo da costa da América do Sul. A Argentina reclama a soberania sobre as ilhas desde o século XIX. Em 1982, tropas argentinas tomaram a capital, Stanley, como parte dos esforços do general Galtieri de contornar as críticas feitas ao seu governo ditatorial, acusado de má administração e de abuso dos direitos humanos. O objetivo era unir o país com um discurso patriótico e melhorar a imagem do governo militar. No entanto, a Grã Bretanha enviou 28 mil combatentes para combater a invasão, número três vezes maior que a tropa rival. A Argentina saiu arrasada da guerra, com elevado número de mortos e desmoralizada.
Fonte: Estadão
0 Comentários