A presidente Dilma Rousseff suspendeu, pelo menos até maio, qualquer decisão a respeito da compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), mas levará em consideração o novo cenário criado com a compra dos caças franceses Rafale pela Índia, na semana passada. É o que informou ao Valor uma autoridade com assento no Palácio do Planalto, que garante haver, ainda, chances de que a FAB opte pelo Super-Hornet, da Boeing americana.
O governo, segundo a fonte, vai esperar os resultados das eleições presidenciais na França, em março, e das conversas de Dilma, em abril, com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que tem feito intenso lobby a favor do jato americano.
Na França, existe a expectativa que o Brasil anuncie, em breve, a encomenda de 36 aviões de combate Rafale. Segundo informações da imprensa francesa, o governo do presidente Nicolas Sarkozy está certo que Brasília confirmará a escolha do avião francês, no rastro da eficácia do aparelho nas operações de apoio na revolução da Líbia e da decisão da Índia de adquirir o avião.
Os franceses estão sendo agressivos na tentativa de vender o Rafale, o caça mais caro do mercado, a ponto de baixar bastante o preço para a Suíça. Uma oferta teria sido feita para fornecer 18 aparelhos por 2,7 bilhões de francos suíços - o preço inicial era de 4 bilhões de francos por 22 jatos.
A visita do ministro da Defesa, Celso Amorim, à Índia, na semana passada, levantou, na imprensa e no setor aeronáutico, especialmente da França, a expectativa que o Brasil acompanhe o governo indiano, que anunciou, na semana passada, a decisão de comprar os caças franceses.
Segundo apurou o Valor, Amorim, que não previa a decisão da Índia ao iniciar a viagem a Nova Déli, chegou a conversar com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, sobre a compra dos caças. Os indianos estão dispostos a permitir que o Brasil conheça parte da "documentação básica" que orientou o negócio, visto como uma tábua de salvação para a francesa Dassault, fabricante do Rafale.
Ontem, após audiência com o ministro da Defesa do Peru, Alberto Otarola, em Brasília, Amorim negou que haja decisão sobre a compra dos caças e reafirmou que a palavra final será do Palácio do Planalto.
O fracasso de vendas do Rafale chegou a motivar especulações sobre sua iminente retirada da linha de produção, o que provocou, em Brasília, temor de falta de peças de reposição no futuro próximo, em caso de opção pelo avião francês.
Ao mesmo tempo, com a demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, contrário aos caças americanos e favorável aos Rafale, a presidente Dilma decidiu com Amorim, segundo define um assessor, "começar do zero" o processo de escolha.
Na verdade, foi mantido o relatório feito pela FAB no governo Lula, com os prós e contras de cada aeronave (concorre também o Gripen, da Saab sueca), mas os concorrentes ganharam oportunidade de melhorar suas ofertas.
Os EUA têm apresentado garantias de que será concedido ao Brasil acesso a tecnologias sensíveis e garantias nunca dadas em vendas anteriores dos caças da Boeing. Uma das principais restrições de Jobim aos aviões dos EUA era o risco de veto do Congresso americano à venda de peças essenciais aos aviões, no futuro, por motivos políticos e estratégicos.
Fonte: Valor Econômico - Via NOTIMP/FAB
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