A divulgação internacional da escolha do caça Rafale como vencedor entre os seis participantes do programa indiano MMRCA para a aquisição de 132 aeronaves de combate, pode para muitos ser o sinal de partida para outras vendas, já que a vitória francesa no negócio indiano era vista como importante para demonstrar que nem só a França estava disposta a comprar o avião.
No entanto existem analistas próximos do programa brasileiro de aquisição que não concordam com a tese de que a escolha da Índia, pode ajudar o Rafale no Brasil.

Entre as razões que se levantam nesse sentido, está o fato de a India ainda não ter colocado encomenda nenhuma. O que a Índia decidiu foi escolher a Dassault para iniciar negociações para comprar o avião.
A partir daí, muito ainda vai ser discutido e muita «barganha» e «conchavo» vai passar por debaixo da mesa, numa situação que pode até fazer lembrar o que já aconteceu no Brasil, mas numa dimensão bem maior.

Há analistas que temem que na negociação que agora vai começar entre a Índia e a França, os indianos forcem ainda mais os franceses se não a baixar o preço - que foi estabelecido em termos de pacote geral – pelo menos a facilitar outros quesitos e exigências da Índia, para garantir a encomenda total de caças Rafale.

A situação é complicada e o Brasil durante os últimos anos, terá «forçado a barra». A pressão brasileira foi ajudada pela falta de clientes para o Rafale, que «levou pau» em todo o lugar em que concorreu.
A situação foi tão grave que os franceses chegaram a acusar os norte-americanos de torpedar todas as vendas de exportação do Rafale, impedindo a venda do avião.

A questão do preço

É normalmente aceito que o custo das aeronaves Rafale é um dos pontos negativos da proposta francesa para vender 36 aviões para o Brasil.
A necessidade de vender a qualquer custo, levou os franceses a baixar o preço no concurso da Índia, mas esta baixa de preço poderá não ocorrer no Brasil.

A principal razão para isso, prende-se exatamente com a opção indiana. É de temer que sem a pressão para vender a qualquer preço para conseguir a primeira encomenda de exportação, a Dassault fique menos recetiva a negociações com o Brasil em que as autoridades brasileiras peçam mais descontos e melhores condições para fornecimento. Afinal, a encomenda de mais de 120 aviões, permite à França alimentar a linha de montagem durante bastante tempo. O negócio com o Brasil é importante, mas sua importância é proporcional à diferença de aeronaves negociadas.

Vários setores franceses, já criticaram o governo do país, quando o presidente Sarkozi disse que a França poderia transferir toda a tecnologia em que o Brasil estivesse interessado.
Ocorre que parte dessa tecnologia nem é francesa e outra parte não está disponível para ceder a país nenhum.
Ao contrário da Índia, o Brasil é visto como um concorrente potencial nos mercados do mundo ocidental e portanto um potencial concorrente direto da industria francesa.

A juntar ao provável menor interessa da França, estará o redobrado interesse dos suecos da SAAB, que ficaram de fora do concurso indiano (embora já tenham exportado o avião para países europeus) e dos americanos da Boeing, que oferecem seu F/A-18, um avião que foi projetado dez anos antes do Rafale. O modelo oferecido ao Brasil porém, não é tão antigo. Ele é na realidade contemporâneo do Rafale, pois trata-se do Super Hornet, uma versão aumentada, melhorada e com melhores performances, especialmente desenhada para substituir o F-14 Tomcat da marinha dos Estados Unidos.

Nem tanto …

Essa tese não é porém aceita por vários observadores, que lembram que a encomenda da Índia ainda não saiu de fato.
Conforme foi possível apurar até ao momento, a França ainda vai iniciar um período de negociação em que tudo ainda pode ser decidido e negociado com a Índia. Nesse período, a posição do Brasil pode até sair beneficiada, pois qualquer resolução conseguida junto dos brasileiros poderá ser utilizada como pressão na Índia para evitar que a corda aperte tanto no pescoço da Dassault.

A importância da decisão indiana de negociar com a França, pode ser útil para a Dassault no Brasil onde os críticos da aeronave apontavam a não existência de clientes como uma das razões para não comprar a aeronave da França.

Preferências

Os rumores sobre a preferência do governo brasileiro, dos militares brasileiros ou da industria aeronáutica brasileira por um ou por outro avião continuam, mas nesse momento uma análise tão isenta quanto possível poderá concluir que no global, o caça francês continua com alguma preferência política em Brasília.

Os militares estão menos interessados em questões políticas e poderiam ter alguma preferência pela oferta da Boeing, especialmente porque essa proposta seria a que mais rapidamente permitiria à FAB cumprir totalmente suas funções. A aeronave norte-americana é a que tem seu programa de desenvolvimento e integração de novos sistemas mais avançado. A médio e longo prazo, não é porém seguro que essa vantagem se manterá.
Os receios de eventuais boicotes norte-americanos, continuam como uma sombra sobre qualquer aquisição de armamento brasileiro nos Estados Unidos.

Fonte: Area Militar