O juiz Arnaldo Fleitas esteve em uma instalação da Marinha, em Assunção, para iniciar essas tarefas promovidas pelo ativista Martín Almada, que em 1992 contribuiu para a descoberta dos 'arquivos do terror' da polícia, onde foram encontrados documentos sobre a Operação Condor.
Fleitas comentou que a inspeção será realizada depois que em 2008 a Justiça fez uma primeira revisão que foi suspensa devido à falta de recursos.
A esse respeito, Almada expressou que agora contam com uma contribuição das Nações Unidas para levar adiante a análise e a classificação dos arquivos junto com uma equipe de pesquisa.
O ativista destacou à Agência Efe que o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, lhe deu autorização para 'visitar todos os quartéis e entregar à Justiça tudo o que se refere ao terrorismo de Estado'.
Almada garantiu que a Operação Condor foi um pacto eminentemente militar, enquanto a polícia de Stroessner 'fez o trabalho sujo'; e não ocultou seu temor que durante os anos em busca de fundos tenham desaparecido documentos do arquivo.
O início dessas tarefas contou com a presença do ministro da Defesa, Catalino Royg, que ressaltou a predisposição do Governo e das Forças Armadas para abrir ao público os arquivos militares.
Horas depois da abertura, o ativista comunicou à Efe um primeiro achado de documentação relativa à Operação Condor, concretamente uma nota a Stroessner sobre a detenção de uruguaios e outras pessoas no Paraguai.
Almada, aliás, foi uma das vítimas de Stroessner: foi detido e torturado em 1974, perdeu a sua esposa, seus bens e sofreu no exílio.
A investigação que abriu no arquivo militar faz parte de décadas de luta para saber como morreu sua esposa e por que foi torturado por militares estrangeiros em seu próprio país.
Um dos encarregados do arquivo, Antonia Amarilla, comentou que a instalação conta com 2.500 tomos de documentos vinculados às atividades da Marinha desde a década de 1920.
A Operação Condor foi um esquema de repressão instaurado por regimes militares do Cone Sul durante as décadas de 1970 e 1980.
A Comissão de Verdade e Justiça do Paraguai documentou em um relatório divulgado em agosto de 2008 que 425 pessoas foram executadas ou desapareceram e quase 20 mil foram detidas nos quase 35 anos de ditadura de Stroessner.
O general caiu em um golpe de estado no dia 3 de fevereiro de 1989 e morreu no exílio no Brasil, em 2006, mas suas vítimas tiveram que esperar anos para começar a receber indenizações e foram abertos poucos processos penais contra os responsáveis pela repressão.
As vítimas seguem brigando também por um processo sucessório à família Stroessner que possa desbloquear os bens dos quais se apropriaram e compensar com eles a brutalidade imposta pelo regime.
Fonte: Veja
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