
O navio foi adquirido pela FAPESP
para a Universidade de São Paulo (USP), que também
ficará responsável pela manutenção
e gestão da embarcação. A compra faz
parte de um projeto de incremento da capacidade de pesquisa
submetido à FAPESP pelo Instituto Oceanográfico
(IO) da USP, no âmbito do Programa Equipamentos Multiusuários
(EMU).
De acordo com o diretor do IO-USP,
Michel Michaelovitch Mahiques, o navio deverá levar
a capacidade de pesquisas oceanográficas a um patamar
inédito no Brasil. O país não tinha
um navio oceanográfico civil em operação
desde 2008, quando o navio Professor W. Besnard, utilizado
desde 1967, sofreu um incêndio e ficou sem condições
operacionais de pesquisa.
“O Alpha Crucis proporcionará
um imenso salto qualitativo na pesquisa oceanográfica.
Uma das razões para isso é que ele tem capacidade
para navegar por 40 dias, enquanto o Professor Besnard tinha
autonomia limitada a 15 dias. Isso significa que o novo
navio poderá fazer estudos em oceano aberto, ampliando
nossos limites geográficos de pesquisa”, disse
Mahiques à Agência FAPESP.
Além da maior autonomia,
o Alpha Crucis dispõe de equipamentos que não
estavam disponíveis no Professor Besnard, o que amplia
a gama de possibilidades de pesquisa. “Alguns desses
equipamentos viabilizarão estudos de cardumes, de
mapeamento de relevo de fundo, de medição
de correntes, por exemplo, que antes seriam impossíveis.
O potencial de pesquisa é muito maior”, disse
Mahiques.
Com o novo navio também
será possível operar um veículo submersível
operado remotamente (ROV, na sigla em inglês) de pequenas
dimensões. O Alpha Crucis também ampliará
a capacidade de pesquisa para além de estudos estritamente
oceanográficos.
Projetos ligados ao Programa
BIOTA-FAPESP e ao Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças
Climáticas Globais (PFPMCG) serão especialmente
favorecidos. “No Professor Besnard era muito difícil
realizar estudos sobre diversidade de organismos de água
profunda, por exemplo”, disse Mahiques.
O Alpha Crucis, que antes (com
o nome Moana Wave) pertencia à Universidade do Havaí,
tem 64 metros de comprimento por 11 metros de largura. O
navio tem capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972
toneladas. O custo total da embarcação, incluindo
a reforma, foi de US$ 11 milhões.
Nos últimos 10 meses,
várias reformas e modificações foram
realizadas na embarcação, no estaleiro onde
se encontrava em Seattle. “A reforma teve duas vertentes.
Uma delas correspondeu às adaptações
necessárias para que o navio, fabricado em 1973,
atendesse à legislação brasileira atual
referente à segurança de embarcações.
A segunda vertente foi voltada para modernizar o navio,
atendendo às demandas da pesquisa científica”,
disse.
A adequação à
legislação exigiu a substituição
de diversas paredes e a troca do material do forro e do
piso. Toda a mobília de madeira foi substituída
por metal e foram também instalados novos equipamentos
de segurança. A modernização incluiu
a reforma de todos os laboratórios a bordo, além
da instalação de novos elementos na ponte
de comando, novos guinchos e novos equipamentos científicos.
“O Alpha Crucis está
concretamente pronto para operar. Mas, quando atracar em
Santos, ainda será preciso realizar o processo de
nacionalização do navio junto à Receita
Federal. Em seguida, será realizado o trâmite
burocrático de transferência da propriedade
da FAPESP para a USP. A partir de julho, o navio deverá
ter condições para operar de fato”,
explicou Mahiques.
Posicionamento
dinâmico
Foram instalados no navio perfiladores acústicos de corrente, sistemas de mapeamento de fundo – um deles conhecido como ecossonda multifeixe –, sistemas de mapeamento de subsuperfície, que permitem estudar as camadas abaixo do fundo do mar, e sistemas acústicos de mensuração de cardumes.
Foram instalados no navio perfiladores acústicos de corrente, sistemas de mapeamento de fundo – um deles conhecido como ecossonda multifeixe –, sistemas de mapeamento de subsuperfície, que permitem estudar as camadas abaixo do fundo do mar, e sistemas acústicos de mensuração de cardumes.
“Um dos acréscimos
mais importantes foi a instalação de um sistema
de posicionamento dinâmico. Embora não seja
um equipamento de pesquisa, é um instrumento de navegação
que dará mais qualidade aos dados”, disse Mahiques.
O sistema de posicionamento dinâmico
– que inclui sensores aliados a hélices na
proa do navio e um sistema de lemes independente –
permite que o navio corrija continuamente, de forma automática,
sua posição no mesmo ponto do oceano.
“Quando começávamos
uma estação oceanográfica com o Professor
Besnard, o vento e a corrente deslocavam o navio continuamente.
Quando era preciso ficar muito tempo em uma estação,
isso exigia manobras para voltar ao ponto o tempo todo.
Com o posicionamento dinâmico, o navio fica parado
automaticamente, garantindo que não haja deriva,
tornando os dados mais fidedignos”, explicou Mahiques.
O uso do navio não ficará
restrito aos pesquisadores do IO-USP, mas será compartilhado
com projetos de pesquisa de outras unidades da USP e de
outras instituições.
“Por determinação
da FAPESP, criamos um comitê gestor que está
recebendo demandas de utilização. Além
de organizar o calendário do navio, o comitê
é responsável por administrar a embarcação,
apontando exigências e necessidades de otimização
do tempo de uso”, disse Mahiques.
Os custos de manutenção
e operação do navio serão cobertos
pela USP. “É difícil prever os valores,
porque um dos principais componentes do custo de operação
é o óleo combustível, mas muitos projetos
incluem o fornecimento do óleo por outros parceiros.
Entretanto, há itens de custo fixo importantes. O
principal é o seguro, que nos custou US$ 400 mil
por um ano”, disse.
A tripulação do
navio, remunerada pela USP, é em grande parte a mesma
que trabalhava no Professor Besnard. “A maior parte
do pessoal já é bastante experimentado em
trabalho oceanográfico”, disse Mahiques.
Professor Besnard
O destino do Professor Besnard é motivo de grande preocupação, já que a USP não tem condições para manter dois navios. “Em conversas informais, a prefeitura de Santos manifestou o interesse de receber o navio em doação para transformá-lo em um museu marítimo. Mas, infelizmente, não houve mais nenhuma manifestação formal, com um pedido de doação”, disse Mahiques.
O destino do Professor Besnard é motivo de grande preocupação, já que a USP não tem condições para manter dois navios. “Em conversas informais, a prefeitura de Santos manifestou o interesse de receber o navio em doação para transformá-lo em um museu marítimo. Mas, infelizmente, não houve mais nenhuma manifestação formal, com um pedido de doação”, disse Mahiques.
A situação é
preocupante, porque atualmente o Professor Besnard está
atracado em frente ao Armazém 8, no porto de Santos,
exatamente no local onde ficará o Alpha Crucis. O
IO-USP está pleiteando a cessão do Armazém
8 para a criação de uma base oceanográfica.
Se o caso não for solucionado rapidamente, o Professor
Besnard precisará ser afundado.
“Sem um pedido formal de
doação do Professor Besnard com um fim específico,
não teremos alternativa além do afundamento
controlado do navio, para transformá-lo em um recife
artificial com fins de pesquisa. Mas essa seria uma saída
muito dolorosa para todos nós, porque o Professor
Besnard é o primeiro navio oceanográfico brasileiro
e tem um valor histórico inestimável”,
afirmou Mahiques.
Além do Alpha Crucis,
o incremento da capacidade de pesquisa oceanográfica
no IO-USP inclui o Alpha Delfini, o primeiro barco oceanográfico
inteiramente construído no Brasil. O barco teve sua
construção iniciada em agosto de 2011, no
estaleiro Inace, em Fortaleza (CE), e também foi
adquirido com apoio da FAPESP por meio do Programa Equipamentos
Multiusuários.
“O Alpha Delfini
terá 25 metros de comprimento e autonomia de 10 a
15 dias. A construção está avançada
e o barco deverá ter condições de operação
no segundo semestre de 2012”, disse Mahiques.
Fonte: Farol Comunitário
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