Chris Norton foi piloto de caça na Royal Air Force, a força aérea do Reino Unido, por 22 anos antes de tornar-se cofundador da 2Excel Aviation, em 2005. A companhia britânica opera uma frota de aviões de acrobacias, conhecida como Blades, e tem licença para operar como empresa aérea, de forma que pode levar passageiros em passeios em aviões que fazem parafusos e outras manobras. Paralelamente, a 2Excel também investe em uma solução para um dos problemas mais complicados da aviação: abrir o espaço aéreo civil para "veículos aéreos não tripulados" os Vants, também conhecidos como "drones".

Os Vants são mais conhecidos pelo uso em campos de batalhas, mas há um mercado potencial imenso para o uso civil, já que os eles são mais baratos de operar e podem ficar no ar mais tempo do que aviões convencionais. A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, fez testes para usá-los em incêndios florestais. Na África do Sul, os Vants foram usados para transportar com rapidez amostras de sangue de clínicas localizadas em lugares remotos para laboratórios médicos. Na maioria dos países, as autoridades aéreas civis, entre as quais a Agência Federal de Aviação dos EUA (FAA, em inglês), não permitem que Vants voem no mesmo espaço aéreo de aeronaves convencionais.

Um impasse fundamental é a questão conhecida como "percepção e desvio": os Vants precisam ser capazes de reconhecer visualmente outros aviões e, depois disso, agir para evitar colisões no ar, da mesma maneira como fazem os pilotos humanos. Construir sistemas computadorizados que consigam fazer isso é o "Santo Graal do mundo não tripulado", segundo Rose Mooney, copresidente da Comissão Especial 203 da RTCA, um órgão setorial que trabalha para obter a liberação dos voos de vants nos Estados Unidos.

A 2Excel acredita que pode ter a solução. Em parceria com a Selex Galileo, uma fabricante eletrônica militar italiana, companhia desenvolveu um sistema de percepção e desvio, a um preço relativamente acessível, usando câmeras e computadores comuns. Embora ainda esteja em fase de testes, a 2Excel sustenta que seu sistema já é melhor em detectar colisões iminentes do que seres humanos. Os pilotos de teste da empresa normalmente detectam outras aeronaves a uma distância de dois quilômetros. O sistema automatizado consegue detectar, de maneira consistente, aviões pequenos a quatro quilômetros.

Para obter esse nível de precisão, Norton e sua equipe instalaram o sistema de percepção e desvio embaixo do "nariz" de um Piper Navajo, um pequeno avião de passageiros. Nos voos de teste, os pilotos voaram repetidamente com aviões em direção ao Piper - cerca de 1,3 mil vezes no total - para criar um registro eletrônico do que são as aproximações de aeronaves, inclusive a distâncias muito pequenas. As informações coletadas formaram o que Norton chama de "a maior base de dados de colisões no ar" atualmente.

Os computadores de bordo comparam constantemente as imagens de vídeo sendo captadas ao vivo com a base de dados, tentando detectar quando um objeto próximo ao avião é uma nuvem, uma asa-delta, um pássaro ou outra aeronave e qual sua direção. Quando se detecta alguma ameaça, o sistema será capaz de acionar ações evasivas no Vant.

Ainda há muitos pontos problemáticos. A equipe de Norton trabalha para minimizar o número de vezes em que o software identifica equivocadamente um bando de pássaros como um avião que se aproxima e outros alarmes falsos. "Se o sistema emitir alertas o tempo todo, ninguém vai usá-lo", diz Norton. Há problemas em particular quando o cenário é um céu enevoado, comum nas zonas rurais britânicas, em vez de um céu claro. Ainda assim, vários governos já mostraram interesse. O Laboratório de Tecnologia e Ciências da Defesa da Grã-Bretanha, um braço de pesquisas do Ministério da Defesa, investiu no projeto, embora não divulgue quanto. No mês passado, a 2Excel recebeu delegações da FAA e do órgão britânico homólogo para demonstrar a tecnologia.

Norton planeja vender o sistema primeiramente como um equipamento de segurança para aeronaves leves, para alertar pilotos humanos quando estão em rota de colisão. O preço de varejo estimado está em torno de 1,5 mil libras esterlinas (US$ 2,4 mil). Norton espera que esse seja o primeiro passo no caminho para que o uso de vants no espaço aéreo seja aprovado. "Quando o GPS foi colocado pela primeira vez nos aviões, não havia permissão para depender [apenas] dele", diz Norton. "Agora, com milhares e milhares de horas e volumes imensos de dados, estabeleceu-se uma relação de confiança".

Fonte: Valor Econômico/Via Notimp