Após divulgação da notícia, oposição exige explicações de
Berlim, que nega saber sobre as ogivas nos equipamentos vendidos aos
israelenses. Condições para os negócios também não estariam sendo
cumpridas por Israel.
Israel está equipando com armas nucleares submarinos produzidos na
Alemanha e em parte financiados por este país. Segundo a revista Der Spiegel,
que divulga a informação em sua edição desta segunda-feira (04/06), a
Marinha israelense já dispõe de três submarinos fabricados na Alemanha e
outros três deverão ser entregues até 2017.
Produzidos em Kiel pela Howaldtswerke, do grupo ThyssenKrupp, os
submarinos possibilitam que Israel "reforce seu arsenal atômico
flutuante", escreve a revista, baseada em consultas a ex-ministros,
militares e fontes de inteligência da Alemanha, de Israel e dos Estados
Unidos.
Ao ser questionado sobre o negócio, o governo alemão defendeu as
exportações dos equipamentos. "Com a entrega dos submarinos, o governo
alemão dá seguimento à política de gestões anteriores. A entrega foi
feita sem armamentos. O governo da Alemanha não participa de qualquer
especulação a respeito de um posterior armamento", afirmou o porta-voz
Steffen Seibert.
A posse de armas atômicas nunca foi confirmada nem desmentida
oficialmente pelo governo israelense. Em seu relatório anual de 2012
sobre armamento e desarmamento, o Instituto de Pesquisa da Paz, em
Estocolmo, revela que Israel tem mais de 80 ogivas nucleares.
Oposição quer explicações
A notícia logo gerou reações políticas em Berlim. O líder do Partido
Verde, Jürgen Trittin, acusa o governo da chanceler federal Angela
Merkel de não verificar as próprias condições impostas para o negócio.
Uma delas seria a de "condicionar a entrega dos submarinos do tipo
Dolphin a mudanças na política de assentamentos em Israel, possibilitar a
construção de redes de coleta de esgoto na Faixa de Gaza e devolução de
dinheiro às autoridades palestinas".
Israel, no entanto, só teria cumprido a terceira condição, disse Trittin ao jornal Die Welt.
Para o político, se mesmo assim os equipamentos continuarem sendo
entregues, o governo vai demonstrar "que suas próprias condições
impostas não são importantes".
Também os social-democratas, de oposição, exigem explicações. "Até
agora as entregas foram justificadas, entre outros motivos, pelo fato de
os submarinos serem sistemas convencionais de intimidação", afirmou
Rolf Mützenich, do SPD. "Agora é preciso esclarecer se as informações
procedem e se os submarinos podem ser equipados com armas atômicas".
Já o porta-voz de política externa da coalizão que forma o governo de
Merkel, Philipp Missfelder, cita a situação de ameaças por Israel.
"Adversários agressivos na região fazem necessário que nossos amigos
precisem ser protegidos. Por isso a Alemanha ajuda com razão, pois
Israel é parte de nossa comunidade de valores e nós queremos proteger a
única democracia pluralista no Oriente Médio", afirmou Missfelder à
revista.
Tema sensível
As relações entre Alemanha e Israel são um tema historicamente sensível
desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A produção de armas destinadas
aos israelenses teria começado em 1957, fazendo com que os alemães
atuassem indiretamente na defesa do país.
"Os alemães podem ficar orgulhosos por terem assegurado por tantos anos
a existência do Estado de Israel", afirmou o ministro israelense de
Defesa, Ehud Barak, à revista alemã.
No mês passado, durante uma visita a Israel, o presidente alemão,
Joachim Gauck, quebrou a tradição das visitas diplomáticas e criticou o
governo israelense. Ele apelou para que Israel retome o processo de paz
com os palestinos. Gauck enfatizou o compromisso da Alemanha com o país,
mas sugeriu que uma solidariedade irrestrita pode se mostrar
problemática.
Em abril deste ano, o Nobel de Literatura Günter Grass foi considerado
"persona non grata" em Israel por conta da publicação de um poema, no
qual o escritor alemão acusa os israelenses de ameaçar a paz mundial com
seu poder nuclear. Com o episódio, Grass foi proibido de entrar em
Israel.
Fonte: DW
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