Parece estar decifrado o enigma que nos últimos dias atormentou numerosos especialistas: saber de onde vinha o vírus informático "Flame", que tem infectado as redes informáticas de diversos países do Médio Oriente.

Segundo hoje noticiou o diário New York Times (NYT), a ordem foi dada por Barack Obama em 2009, logo após assumir a presidência norte-americana e visava criar dificuldades ao programa nuclerar iraniano. A ordem de Obama não representava uma inovação política absoluta, mas constituía um upgrade de políticas já decidias sob a Administração Bush Jr.

Segundo o NYT, Obama ordenou o prosseguimento da ciberguerra contra o Irão, mesmo após se ter tornado pública em 2010 uma das suas ferramentas fundamentais, o vírus Stuxnet. Em consequência desse prosseguimento, surgiu um outro vírus, Flame, que a empresa de segurança informática Kaspersky Lab denunciou há cerca de uma semana.

O novo vírus é considerado um dos mais sofisticados e destrutivos que alguma vez se inventou, tendo causado estragos em computadores da Cisjordânia, da Síria, do Líbano, da Arábia Saudita e do Egipto - além, evidentemente, do Irão.

Segundo uma estimativa contida na reportagem do NYT, mas questionada por diversos especialistas, o vírus terá atrasado o programa nuclear iraniano em cerca de um ano e meio a dois anos. Israel estará a colaborar com os EUA no desenvolvimento das armas informáticas.

Para além do sucesso, maior ou menor, que a ciberguerra tenha conseguido no combate ao programa nuclear iraniano, existe a questão das respostas que possa desencadear. Aquando de anteriores ataques informáticos, os EUA tinham reagido com excepcional dureza: um porta-voz do Pentágono chegara a dizer que "quem sabota as redes de energia do nosso país deve contar com mísseis a entrarem-lhe pela chaminé".

Mas nem serão precisos mísseis a entrar por chaminés para ser preocupante o espectro das retaliações: algumas podem ser de natureza viral, e não menos destrutivas do que a retaliação física propriamente dita.

Um livro recente de um antigo consultor "anti-terror" da Casa Branca, Richard Clarke, e de um co-autor, Robert Knake, intitulado World Wide War, calcula em 20 a 30 o número de Estados que entretanto criaram recursos temíveis para uma ciberguerra a sério.

E o livro acrescenta uma precisão: o país mais avançado e mais informatizado de todos, os EUA, é simultaneamente o mais vulnerável a esse tipo de guerra, que pouco assusta, por exemplo, uma Coreia do Norte. Há, assim, ao nível da ciberguerra uma espécie de assimetria invertida -  pelo menos em relação aos conflitos clássicos da era da canhoneira.

Deixando essa preocupação aos cránios do Pentágono, e ignorando alegremente a caixa de Pandora que assim poderá destapar-se, as empresas do complexo militar-industrial incrementam a sua oferta e atiçam a ciberguerra. O orçamento norte-americano responde a essa oferta e ao conjunto de variáveis presente com cerca de 11 mil milhões de dólares. Chama-lhe gastos de "cibersegurança" - mas, como observa Ole Reissmann em DER SPIEGEL, o Stuxnet e o Flame demonstram que já não se trata apenas de "segurança" ou de "defesa".

Fonte: RTP