O emissário internacional para a Síria, Kofi Annan, foi nesta terça-feira a Teerã, aliado de Damasco, e a Bagdá, onde recebeu o apoio das autoridades para seu plano de saída da crise, antes de prestar contas ao Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira.


Enquanto isso, 56 pessoas morreram no país, onde a repressão à revolta e os combates entre as forças do governo e os rebeldes deixaram mais de 17.000 mortos em cerca de 16 meses, segundo uma ONG síria.
Manifestando temores de que o conflito possa se estender para outras nações da região, Annan anunciou que prestará contas ao Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira sobre sua viagem a Teerã e Bagdá, assim como a Damasco onde se reuniu na segunda-feira com o presidente Bashar al-Assad.
Durante uma entrevista coletiva à imprensa, Kofi Annan afirmou que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, "muito preocupado" com a situação na Síria, "apoia o plano de seis pontos" do ex-secretário-geral das Nações Unidas.
Oficialmente aceito pelo governo e pela oposição há três meses, o plano Annan, que inclui principalmente um cessar-fogo, tem sido ignorado até o momento.
"Estou convencido de que o Conselho tomará as medidas necessárias, e decidirá o destino da Misnus, a missão dos observadores no terreno, cujo mandato expira no dia 21 de julho", considerou.
Depois de terem chegado em meados de abril à Síria para supervisionar o cessar-fogo, os observadores da ONU tiveram que suspender em meados de junho suas operações em razão da intensificação da violência no país. Antes de sua etapa iraquiana, Kofi Annan foi à Síria e ao Irã, aliado do governo de Bashar al-Assad. O governo iraniano manifestou o seu total apoio ao emissário internacional, considerando que ele deve "ir até o fim para trazer de volta a estabilidade e a calma à Síria e à região".
"Há um risco de vermos a crise síria escapar a todo controle e se estender à região", ressaltou Annan em Teerã. Neste contexto, "o Irã pode desempenhar um papel positivo", reafirmou. Os Estados Unidos, que mantêm relações tensas com Teerã em razão do polêmico programa nuclear da República Islâmica, rejeitaram essa ideia.
Na segunda-feira, Annan e o presidente Assad haviam conversado sobre uma nova "abordagem" da crise. Annan, que havia reconhecido no sábado o fracasso de seu plano, não detalhou o conteúdo do acordo entre ambos, indicando que será submetido aos rebeldes envolvidos nos combates contra o Exército em todo o país.
Em outra frente, o governo sírio, preocupado com a situação econômica, anunciou que pretende criar 25.000 empregos para os jovens no setor público, indicou a agência oficial Sana. Situação "trágica" em Rastan Apesar da multiplicação das reuniões e das declarações, a violência não perde força na Síria, com 56 mortos nesta terça, incluindo pelo menos 18 civis, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
As forças leais ao regime bombardearam principalmente a cidade insurgente de Rastan, 160 km a noroeste de Damasco, na província de Homs, segundo o OSDH. Segundo a ONG, o bombardeio a cidade era "violento", enquanto militantes classificaram a situação de "trágica", principalmente devido à falta de médicos.
A cidade de Homs (centro) também foi submetida, pelo 33º dia consecutivo, ao bombardeio do Exército, de acordo com ativistas no terreno. No vizinho Líbano, o Exército começou a reforçar a sua presença na fronteira com a Síria após incidentes no norte. Paris e Washington condenaram com firmeza o bombardeio do território libanês pela artilharia síria.
Já a Rússia, que se recusa até o momento a condenar o governo sírio, pediu uma nova reunião do "Grupo de Ação" sobre a Síria. A última reunião desse grupo, realizada no final de junho em Genebra, debateu um processo de transição prevendo a formação de um governo reunindo representantes do poder e da oposição, sem mencionar a saída de Assad.
No entanto, o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão opositora, lembrou que se recusa a negociar uma transição antes da saída do presidente, um ponto que será discutido durante a visite de quarta-feira do chefe do CNS Abdel Basset Sayda a Moscou.
Um grupo de navios de guerra russos deixou nesta terça-feira a Rússia em direção ao porto sírio de Tartous, única base naval russa no Mediterrâneo, segundo a agência Interfax, citando uma fonte militar-diplomática que assegurou que a operação "não está relacionada ao agravamento da situação na Síria".
Os Estados Unidos não viram nada de anormal, a princípio, nessa missão. O CNS havia pedido na segunda-feira que a Rússia parasse de fornecer armas ao regime se pretendia "manter de boas relações com o povo sírio".

Fonte: Terra