Fala-se muito em reaparelhamento das Forças Armadas, mas,
pragmaticamente, isso tem-se concentrado na Marinha, que deu a partida
com a encomenda efetiva de cinco submarinos - via consórcio
DCNS/Odebrecht - sendo uma unidade de propulsão nuclear. Na área do
Exército, o principal projeto - Sistema de Monitoramento de Fronteiras
(Sisfron) - não exige muita engenharia civil, especialidade das
empreiteiras agora anunciadas como alavancadoras do sistema. A sonhada
base para a 2ª Esquadra da Marinha, na Amazônia, também não tem data
para virar realidade.
Para especialista ouvido pela coluna, será difícil para o Brasil
comprar tecnologia moderna. Diz que os estrangeiros só facilitam a
cessão de métodos ultrapassados. E cita exemplo: a Marinha anunciou a
conclusão, com inegável sucesso, do desenvolvimento do motor foguete dos
mísseis Exocet por ela utilizados (e ainda usados por diversos países
do mundo secundário; os do Primeiro Mundo, inclusive a França, já têm
mísseis de última geração). Mas há um ponto de fundamental importância
que parece não estar bem definido na transferência de tecnologia: o
sistema de combate.
O que difere um navio de guerra de um iate é isso. O que difere
um submarino de um submersível (não importa o tipo de propulsão) é
também o sistema de combate. Recente noticiário sobre defesa não citou a
Consub entre as empresas existentes e reconhecidas. Esta empresa
sobreviveu às diversas falências que ocorreram no âmbito de um consórcio
que tinha sido contratado para o processo de modernização das fragatas
da Marinha, que começou em 1994 e foi até 2006. Também ela, Consub, se
tornou propriedade de uma empresa estrangeira, a norueguesa DSND (ou
Sien), cujo principal objetivo está em serviços offshore de petróleo.
Mas é a Consub que, empregando apenas profissionais brasileiros, vem
desenvolvendo e integrando os diversos sistemas de combate para os
navios da Marinha, chamados de Siconta, que já está na versão 5,
destinada ao porta- aviões São Paulo.
Aqui aparece também outra curiosidade: por ser formalmente de
propriedade estrangeira, uma empresa que tanto fez pelo desenvolvimento
nacional de sistemas de combate terá que se reestruturar para poder se
beneficiar das facilidades da nova lei de defesa. Desta forma, seus
donos estrangeiros podem achar que não valeu a pena terem deixado que
ela se dedicasse integralmente a preparar sistemas de combate que são de
propriedade intelectual da Marinha. A nova lei pode estar castigando
aqueles que trabalharam realmente em parceria no Brasil.
Outra incoerência no teor nacionalista se vê no Prosuper, pelo
qual a Marinha convidou apenas estaleiros estrangeiros a entregarem
propostas para a construção, no Brasil, de cinco navios de patrulha
oceânicos (chamados de OPV - Offshore Patrol Vessel); cinco navios de
escolta (também conhecidos como escoltas) ; e um navio de apoio
logístico. O estaleiro estrangeiro tem que apresentar um estaleiro
brasileiro para ser o parceiro nacional. Mas, mesmo assim, o contratante
principal será um estrangeiro. Por quê? - perguntam os nacionalistas na
área de defesa.
Radares
Também está sendo criticada, em ambientes da área bélica,
declaração do general Aderico Mattioli, diretor do Departamento de
Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, quando ele diz: "Posso me
dar ao luxo de não ter o melhor radar do mundo, mas ter um radar que é
meu".
Para o técnico, isso é surpreendente e inaceitável. Afirma a
fonte da coluna que de pouco adianta ter um radar "meu" se for de baixa
qualidade técnica ou se não puder ser feita importação de peças e
sistemas para atualização constante.
Mesmo assim, há que se elogiar o Exército, pois o radar nacional,
o Saber, está no caminho certo. Para fonte do setor, o certo mesmo é
evoluir no radar verde e amarelo, mas sem deixar de importar produtos de
maior tecnologia, ainda imbatíveis. Criar o produto nacional, sem
deixar de usar o estrangeiro, enquanto a distância tecnológica for
substancial.
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