O caça bombardeiro AMX, o A-1 da Força Aérea, realizou uma série de
ensaios de lançamentos de precisão com bombas "inteligentes" de 230
quilos, guiadas por meio de um laser. Depois de um voo planado, as armas
chegam ao alvo com o erro máximo de oito metros. A distâncias curtas, a
precisão final pode chegar a cerca de 50 centímetros.
Os testes foram feitos durante os primeiros dez dias de maio no Rio
Grande do Sul, no estande de tiro de Saicã, próximo à Base Aérea de
Santa Maria, sob o controle do Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial. A bomba utilizada é de emprego geral, de queda livre -
portanto, "burra". A capacidade de busca dos objetivos é obtida com o
uso do sistema Lizard, fornecido pelo grupo israelense Elbit Systems - é
um kit formado por um nariz e um anel eletrônicos, dotados de uma
espécie de GPS acoplado a um buscador do raio laser que fará a indicação
do ponto de impacto. Convertida em "inteligente", a arma passa a
procurar um ponto específico.
A guiagem é executada por um conjunto de asas móveis, montadas na
parte traseira, e acionadas pelos sinais do colar digital. Cada conjunto
custa US$ 20.500, ou perto de R$ 40 mil. A empresa brasileira Avibrás
Aeroespacial, de São José dos Campos, anunciou, em 2003, o domínio da
mesma tecnologia. Mas o projeto não avançou. Conforme o presidente da
Avibrás, Sami Hassuani, "o mercado internacional para essa classe de
equipamentos é fechado, sob o controle de fornecedores da Inglaterra,
EUA, França, Rússia e Israel".
Tríade estratégica. Os resultados das provas interessam
particularmente aos planejadores do Ministério da Defesa, empenhados
desde 2007 na criação da Estratégia Nacional de Defesa, sancionada pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009. Segundo um dos cenários
desenvolvidos, o Brasil deverá dispor, a médio prazo, de uma força
dissuasória baseada em uma tríade formada por uma frota de submarinos de
ataque, de propulsão convencional e nuclear, associada a uma aviação de
longo alcance e, em terra, um exército poderoso, ágil e com capacidade
expedicionária.
O programa naval está em curso. É o Pro Sub, que produzirá, até 2017,
um primeiro lote de quatro submarinos diesel-elétricos de 2 mil
toneladas e, até 2023 ou 2025, um modelo atômico. T0dos serão armados
com torpedos e mísseis.
O custo da empreitada bate nos R$ 21 bilhões e
envolve, além dos navios, nova base de operações e um estaleiro
industrial, ambos em construção acelerada em Itaguaí, litoral do Rio.
Os projetos são efetuados pela brasileira Odebrecht Defesa e
Tecnologia, em consórcio com a francesa DCNS. Silenciosos e invisíveis,
os submarinos exercem papel intimidativo. Em ação, poderão disparar seus
mísseis de cruzeiro contra pontos vitais de um provável inimigo a 300
quilômetros do ponto de lançamento. "É o equivalente a um ataque à
Refinaria de Paulínia, interior de São Paulo, a partir de uma posição no
mar, a 120 quilômetros de Santos", explica um engenheiro naval da
Marinha.
A 300 quilômetros de São Paulo, na fábrica de Gavião Peixoto, a
Embraer Defesa e Segurança recebe em etapas 43 jatos AMX para
en1tregá-los na versão A-1M, modernizados e, assim, prontos para as
missões de bombardeio de precisão. É provável que a Aeronáutica estenda a
encomenda de forma a cobrir todas as 53 unidades da FAB. O contrato em
andamento vale US$ 1 bilhão. O primeiro voo do primeiro protótipo foi no
dia 19 de junho.
Há dez caças na linha de produção. O procedimento inclui a
recuperação da fuselagem e chega até o novo radar Scipio, da Mectron,
capaz de atuar em combate ar-ar, ar-terra e ar-mar contra alvos
múltiplos. No caminho, ao menos 35 sistemas eletrônicos e um novo
desenho para o painel, que passa a ser digital, de alta resolução. Com
reabastecimentos no ar, escoltados pelos igualmente revitalizados caças
supersônicos F-5M, os A-1M levarão o fogo a qualquer ponto da América
Latina, Caribe, Atlântico Sul e parte da África.
O Exército está sendo modificado. Vai ganhar especialização da tropa,
qualificação tecnológica avançada, blindados Guarani 6x6 - os primeiros
86, de um lote de 2044, já foram encomendados ao fabricante, a Iveco,
por R$ 240 milhões - e um amplo pacote, que prevê veículos, novos
canhões, antiaéreos e de campanha e, por R$ 1,2 bilhão, o sistema Astros
2020, da Avibrás, dotado dos mísseis táticos AV-TM,para uso na faixa de
300 quilômetros.
A ação de consequências rápidas é a reorganização física da Força
Terrestre. As unidades de pronta mobilização estão sendo levadas para o
interior do País, próximo das bases e facilidades de transporte da
Aeronáutica. A Brigada de Paraquedistas vai para Anápolis (GO), onde
está uma das maiores facilidades da FAB. A Brigada de Forças Especiais
já está em Goiânia. Em Campo Grande (MS), a Defesa está montando um
complexo militar que abrange as três Forças - de olho na sensível
fronteira oeste.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, sustenta que "ser pacífico não é
ser indefeso". Para ele, "o Brasil deve construir capacidade
dissuasória que torne extremamente custosa a perspectiva de uma agressão
externa ao nosso País". Amorim sustenta que a modernização das Forças
Armadas "é necessária para prover os meios de prevalecer a posição
nacional em eventuais conflitos".
Para o professor das Faculdades Rio Branco, Gunther Rudzit, o risco
de abrasão diplomático-regional causada pela política de Defesa do
Brasil "pode ser evitado, desde que haja uma boa coordenação com o
Itamaraty".
Fonte: Estadão
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