Uma investigação da Polícia Federal está tentando, desde a semana
passada, confirmar os indícios de que o Irã está importando do Brasil,
clandestinamente, matéria-prima para o seu programa nuclear. A suspeita
surgiu depois da apreensão em agosto, na Bolívia, de 2 toneladas de um minério estratégico. As rochas em estado bruto foram encontradas em
sacos na garagem de um prédio em La Paz onde funciona o escritório do
adido militar da Venezuela. Prontamente, o governo boliviano declarou
tratar-se de urânio, um material que, em elevado grau de pureza, serve
como combustível da bomba atômica.
No dia seguinte, um ministro boliviano disse que o que havia sido
apreendido era tantalita, mineral usado na produção de ligas metálicas
de alta resistência ao calor, à abrasão e à corrosão por substâncias
ácidas, características ideais para a fabricação de peças para reatores
nucleares e motores de foguetes e mísseis. A tantalita está desde 2008
na lista de produtos que não podem ser exportados para o Irã, como parte
das sanções impostas pela ONU ao programa nuclear dos aiatolás. A
Polícia Federal, que montou uma força-tarefa com a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) e o Exército para elucidar o caso, já sabe que o
minério encontrado em La Paz é proveniente de garimpos de Guajará-Mirim,
em Rondônia. Outras 18 toneladas de tantalita já estavam sendo
encaminhadas para a Bolívia. De lá, as rochas seriam transportadas ao
Chile por terra e, depois, de navio até a Venezuela. Se a carga
contrabandeada for realmente de tantalita - ainda há dúvidas, pois os
investigadores brasileiros não puderam fazer uma análise independente a
Venezuela terá de responder por que usou um caminho clandestino para
obtê-la. Toda exportação de tantalita do Brasil precisa ser aprovada
pela Comissão Nacional de Energia Nuclear. Integrantes da equipe de
investigação ouvidos por VEJA acreditam que os venezuelanos planejavam
enviar o minério ao Irã sem despertar suspeitas da comunidade
internacional.
Os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Mahmoud Ahmadinejad, do
Irã, têm estreita colaboração, que já se traduziu em investimentos no
país sul-americano, entre elas a construção de uma fábrica de automóveis
ociosa. Se as suspeitas da PF forem confirmadas, ficará claro que a
Venezuela não só apoia como também contribui ativamente para o programa
nuclear secreto do Irã.
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