Vencedor à Casa Branca deverá ir além da retórica nas relações econômicas e geopolíticas com o gigante asiático

O comércio bilateral surge como a questão mais urgente entre todas na relação da China com Washington.

Mais uma vez a opinião dominante estava errada. Antes de a campanha eleitoral esquentar nos EUA, a maioria via o Irã como prioridade em política externa. Mas a China concentra essas atenções.

O republicano Mitt Romney chegou a incluir a intransigência com a China como medida para gerar empregos. Já o presidente Barack Obama gabou-se das sanções comerciais que impôs ao país.


Seria possível criticar ambos por trivializarem a questão, mas pelo menos estão falando sobre ela. A China será um desafio real de política externa para os EUA nos próximos quatro anos. Não importa quem vença em novembro, não terá escolha senão encará-lo. E sua retórica de campanha terá pouca utilidade.


Dado o peso político da estagnação econômica e do alto desemprego, a questão mais urgente na relação deverá ser o comércio bilateral.


Devido ao alto deficit comercial dos EUA com a China, o valor da moeda chinesa, que Romney mirou, será o primeiro teste -ou mesmo crise- do novo presidente.


Se alguns anos atrás a moeda chinesa estava seriamente subvalorizada, esse não é mais o caso. O crescimento vem diminuindo, e o dinheiro quente está deixando a China. Sua inflação está mais alta que a dos EUA, o que implicitamente reforça o yuan.


Assim, os EUA terão um argumento econômico difícil de apresentar. Se o mercado reagir, é provável que seja para derrubar o valor do yuan.


Como terá uma nova liderança que não quer ser vista como cedente diante de Washington, Pequim dificilmente recuará. Se Romney vencer e concretizar sua ameaça, pode haver uma guerra comercial prejudicial para ambos.


Na frente geopolítica, um temor imediato é a tensão entre China e Japão sobre ilhas desabitadas no mar da China Oriental. Nos últimos meses, a disputa cresceu e a China enviou embarcações oficiais à região para contestar a pleiteada soberania japonesa.


Se as tensões se agravarem, haverá nervosismo em Washington. Embora não assuma posição sobre as ilhas, o governo americano já declarou que a obrigação de proteger o Japão, aliado por tratados, se estende a elas.


Face à desconfiança crescente entre China e EUA, a deterioração das relações sino-japonesas pode não ser a maior questão de segurança.Os líderes chineses viram como inamistosa a estratégia de Obama de focar poderio militar na Ásia oriental. É provável que reajam desenvolvendo capacidade militar para contrapor-se à iniciativa.


Portanto, apertem os cintos. As relações EUA-China serão uma viagem tortuosa.


MINXIN PEI
é professor de administração pública no Claremont McKenna College

Fonte: Folha - BOL