Incidente aumenta tensão entre Ancara e Damasco; Moscou nega armas na aeronave
A escalada de tensão entre Turquia e Síria deu um novo passo depois que
autoridades de Ancara interceptaram um avião civil sírio que vinha de
Moscou na quarta-feira. O imbróglio agora envolve a Rússia: o
primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan afirma que havia munições russas
que seriam entregues ao Exército sírio a bordo.
Mais cedo, Moscou exigiu explicações sobre o incidente ao governo de
Ancara, afirmando que cidadãos russos foram colocados em perigo - havia
17 russos a bordo, inclusive crianças. O governo turco anunciara pela
manhã que tinha confiscado material ilegal na aeronave, mas uma fonte de
uma agência de comércio internacional russa garante que não havia armas
a bordo.
Nesta manhã, o ministro de Transporte de Damasco acusou o país vizinho
de “pirataria aérea”, informou a TV libanesa al-Manar. Meios de
comunicação turca contam diferentes versões para o episódio. Segundo o
jornal “Hurriyet”, 12 caixas com material de comunicação, equipamentos
sem fio e inibidores de frequência foram confiscadas. Já a televisão NTV
afirma que foram encontradas partes de mísseis a bordo. A Turquia negou
acusações sírias de que teria mal tratado passageiros.
A ação turca também provocou duras reações por parte de Moscou. Além de
“colocar a vida de cidadãos russos em perigo”, como afirma o Kremlin,
autoridades turcas negaram assistência diplomática aos russos do voo
sírio. Até agora, a Rússia não comentou a denúncia sobre munições a
bordo.
O avião da Syrian Air decolou de Moscou e voava no espaço aéreo
turco quando foi interceptado por caças do Exército turco, por volta das
18h30 de quarta-feira (horário local). O Airbus A320 transportava apenas 35 passageiros e dois tripulantes (a capacidade do avião é para 180 pessoas).
Segundo a agência de notícias russa Interfax, a embaixada da Rússia na
Turquia enviou uma mensagem ao ministério do Exterior turco, exigindo
explicações imediatas. Horas antes do incidente, o presidente Vladimir
Putin adiou uma visita oficial a Ancara, prevista para os próximos dias
14 e 15, em um episódio que não teria nada a ver com o incidente de
quarta-feira, afirmam fontes diplomáticas turcas.
- Estamos determinados a controlar o envio de armas a um regime que está
perpetrando massacres tão brutais contra a população civil. É
inaceitável que este envio se faça em nosso espaço aéreo - disse o
chanceler turco, na quarta-feira.
Em Atenas, Davutoglu ainda disse que o espaço aéreo sírio não é seguro e
anunciou a proibição de voos civis turcos sobre a Síria.
Moscou é um dos poucos aliados do regime do ditador sírio Bashar
al-Assad. O premier turco também tinha boas relações com Assad, mas a
Turquia se tornou um dos países mais críticos a Damasco depois do início
da revolta antigovernista na Síria, em março do ano passado. Dezenove
meses depois dos primeiros protestos - que começaram de forma pacífica,
estima-se que 30 mil pessoas tenham morrido na Síria.
O episódio do avião sírio interceptado por Ancara é mais um de uma série
de incidente entre Turquia e Síria, que arrasta os dois países para uma
situação cada vez mais tensa. No último dia 3, um morteiro lançado do
território sírio matou cinco turcos - duas mulheres e três crianças,
todas da mesma família. Desde então, Ancara responde com sua própria
artilharia. Segundo testemunhas, vários soldados sírios teriam morridos
nos recentes ataques turcos.
Fonte: O Globo (com Agências Internacionais) - Foto: Burhan Ozbilici/AP - Noticias Sobre Aviação
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