O regime sírio mostrou nesta terça-feira sua determinação em
acabar definitivamente com a rebelião, com uma ofensiva na região de
Damasco, onde várias cidades foram bombardeadas, e o envio de reforços
para Aleppo.
Enquanto isso, um combatente curdo sírio foi morto pelo Exército
turco na fronteira. Este é o primeiro incidente do tipo entre os dois
países, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Em outro reflexo do conflito em um país vizinho, o Iraque ordenou que
um avião iraniano com destino a Damasco pousasse. Ele foi revistado
para assegurar que não havia armas, declararam autoridades iraquianas.
Bagdá, que não exige a saída do presidente sírio Bashar al-Assad, atende
assim às insistentes solicitações dos Estados Unidos.
O número de sírios refugiados em países fronteiriços triplicou nos
últimos três meses, superando os 300.000, anunciou o Alto Comissariado
da ONU para os Refugiados (Acnur), que acredita que este número deve
duplicar até o fim do ano.
As consequências da crise síria "poderão ser catastróficas, não
apenas para a Síria, mas para todo o mundo árabe", alertou o
secretário-geral da Liga Árabe, Nabil El-Arabi, na abertura da 3ª Cúpula
América do Sul - Países Árabes (Aspa), em Lima.
Mais de 31.000 pessoas, a maioria civis, morreram em 18 meses de
conflito, de acordo com o último levantamento do OSDH, que se baseia em
uma rede de militantes e médicos. Nesta terça-feira, 104 pessoas, entre
elas 57 civis, morreram vítimas da violência em todo o país.
O mediador internacional Lakhdar Brahimi vai retornar à região esta
semana para tentar obter uma suspensão dos bombardeios por parte das
forças de Damasco, em troca da redução dos ataques praticados pelos
insurgentes.
Desde a madrugada, o Exército sírio bombardeia várias localidades da
província de Damasco, principalmente Douma, onde pelo menos seis civis
morreram. Além disso, seis soldados morreram em um ataque lançado pelos
rebeldes contra um centro médico da cidade, transformado em quartel das
forças militares.
Um vídeo postado pelos militantes na internet mostra o êxodo dos
habitantes de Douma devido aos bombardeios e mostra vários carros em uma
estrada em plena noite.
Ainda na região de Damasco, 11 pessoas, entre elas duas mulheres,
foram mortas nos bombardeios e disparos das forças governamentais contra
a cidade rebelde de Harasta, segundo o OSDH. O regime tenta
reconquistar esta cidade, vizinha à periferia leste da capital e próxima
à região de Ghouta Oriental, onde há um grande número de rebeldes
entrincheirados, de acordo com a mesma fonte.
O jornal estatal Al-Baath anunciou nesta terça-feira que "o
fim das operações na província de Damasco" está próximo, explicando que
as forças governamentais foram "abastecidas com grandes quantidades de
munição e equipamentos, incluindo metralhadoras produzidas em Israel".
No restante do país, em Aleppo (norte), segunda maior cidade
síria, os bairros de Hanano City, Bab al-Nasr e Seif al-Dawla sofreram
violentos bombardeios. O OSDH também indicou a descoberta de 15 corpos
no bairro de al-Zahra.
Seis dias após o lançamento de uma ofensiva rebelde, que não
conseguiu avançar em Aleppo, o jornal oficial Al-Watan afirmou que
"novos reforços" militares foram enviados para a cidade. "Este é um
sinal da determinação do Exército sírio de vencer o mais rápido possível
a batalha de Aleppo" contra rebeldes "cansados", ressalta o jornal.
Na fronteira turca, disparos do Exército de Ancara deixaram um morto e
dois feridos entre os combatentes curdos ligados ao Partido dos
Trabalhadores do Curdistão (PKK), em um incidente inédito desde o início
do conflito sírio, em março de 2011, segundo o OSDH. De acordo com
Ancara, dois curdos membros do PKK foram mortos pelo Exército, quando
tentavam entrar na Turquia.
O confronto ocorreu na província síria de maioria curda de Hassaka
(noroeste), controlada por milícias curdas desde a retirada sem combate
das forças regulares sírias em julho.
Após esse incidente, a Rússia pediu nesta terça-feira aos países
ocidentais e ao Oriente Médio que "não busquem um pretexto" para uma
intervenção militar na Síria e pediu moderação a Damasco e Ancara.
Ancara acusa Damasco, seu ex-aliado, de no passado ter deixado várias
áreas do norte da Síria com o PKK, grupo considerado terrorista pela
Turquia.
Os curdos sírios entraram prudentemente no levante contra o regime de
Bashar al-Assad, mas tentam manter suas regiões a salvo da violência,
onde o Exército Sírio Livre (ESL) não está presente. Em Damasco, um
militante dos direitos humanos, o advogado sírio Khalil al-Maatouq, foi
preso quando ia para o trabalho nesta terça, anunciou o seu centro de
pesquisas.
Paralelamente, o Iêmen confirmou o sequestro de cinco oficiais por um
grupo islamita rebelde ocorrido no início de setembro na Síria.
Esse sequestro foi reivindicado no domingo pela Frente Al-Nosra,
presente em Aleppo, que acusa os oficiais iemenitas de ajudar o Exército
sírio. Segundo a agência de notícias Sana, eles eram apenas
"estudantes" da academia militar de Aleppo e não participavam dos
combates.
Fonte: Terra
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