O ordenamento global que caracteriza nossa geração foi desenhado pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e tem sido por eles operado desde então.

Contudo, a hegemonia norte-americana tradicional encontra-se em via de extinção.

Na nova constelação, os Estados Unidos continuam na dianteira, mas a atitude é de primazia: projetam influência nos quatro cantos do planeta como nenhum outro país consegue fazer, sem por isso ter capacidade para ditar as regras do jogo, como o faziam no passado.


Assim, o grande desafio norte-americano não é o radicalismo islâmico nem a ascensão da China.

O problema é adaptar-se a um ambiente global em que os novos centros de poder utilizam regras e instituições criadas em Washington em benefício próprio, desafiando preferências americanas.

Basta pensar no papel desafiador dos emergentes em instâncias como a ONU, o FMI, a OMC e o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear).

Nesse ambiente, os Estados Unidos precisam fazer concessões às quais ninguém em Washington está acostumado.

Para muitos, isso abre espaço inédito para visões alternativas sobre como organizar o mundo.

Entretanto, também cria enormes desafios. Afinal, se nas últimas décadas os EUA foram os maiores beneficiados das relações internacionais, também foram seus principais financiadores.

Basta pensar no papel do contribuinte norte-americano no custeio da garantia da livre navegação dos mares, um bem público essencial para os países emergentes.

Ou pensar no papel desse mesmo contribuinte como credor de última instância quando graves crises financeiras assolam a estabilidade de todo o sistema.

O desafio central de Washington nos próximos dez anos será conviver com novos centros de poder na resolução de problemas globais que demandam ação coletiva.

Hoje ninguém sabe se isso é factível.