Todos os anos em finais de dezembro,
russos e cidadãos das ex-repúblicas soviéticas assinalam os
acontecimentos trágicos da última guerra travada pela União Soviética no
espaço asiático.
A campanha militar afegã teve
início a 25 de dezembro de 1979 e terminou a 15 de fevereiro de 1989.
Terá culminado com a derrota ou com a vitória – ninguém sabe responder
ao certo, tendo a sua visão própria daqueles acontecimentos. Fosse como
fosse, as questões relacionadas com a confrontação armada no Afeganistão
tem despertado um vivo interesse tanto nos meios acadêmicos, como em
círculos sociais de diferentes países.
A explicação
para tal é simples. Vários sobreviventes foram na altura envolvidos no
turbilhão da tragédia afegã. Nos 10 anos da guerra, (em termos formais,
em 9 anos e 2 meses), a guerra ceifou a vida de mais de 15 mil cidadãos
soviéticos. As baixas sofridas pelo Exército do Afeganistão se estimam
em 26,5 mil soldados e oficiais. Outros 28 mil continuam dados por
desaparecidos, tendo havido um número mais ou menos igual de desertores.
Uma
série inteira de causas que levou à invasão militar foi exposta pelo
professor associado da Cadeira de Línguas Africanas e Indo-Iranianas do
Instituto das Relações Internacionais de Moscou (MGIMO, sigla russa),
Yuri Laletin.
"A incursão se iniciou no dia 25 de
dezembro. Esperava-se que a introdução do contingente militar soviético
viesse estabilizar a situação e que as tropas não iriam participar em
operações de combate. Mas a lógica da guerra acabou por triunfar – o
contingente militar se viu forçado a participar em intensas operações de
guerra. Nos 10 anos perderam-se 14 mil soldados. Aos poucos, se tornava
cada vez mais evidente ser impossível vencer por meio da força militar.
Além disso, os mojahedins contavam com o apoio proveniente do
estrangeiro."
Os rebeldes recebiam armas e munições
através da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, que durante anos
a fio se manteve aberta e continua aberta até hoje por causa do relevo
montanhoso. Mas o principal fator residiu na posição hostil de
habitantes civis, que se opunham à presença das tropas estrangeiras no
seu país. Assim, o contingente militar da URSS terá abandonado o
território afegão até ao dia 15 de fevereiro de 1989. Pelos vistos,
teria sido melhor integrar na altura a oposição em diversas estruturas
do poder e formar um governo provisório. Segundo lamenta Yuri Laletin,
tal oportunidade não foi aproveitada.
"A retirada das
tropas soviéticas do Afeganistão era inevitável. A literatura moderna
aponta para um fenômeno da "perda do sentido" que com a elevada precisão
descreve um ambiente psicológico que se formou na questão afegã por
altura do inverno de 1989 em altos escalões do poder soviético. Mais do
que isso, vários peritos têm-se manifestado céticos quanto à necessidade
de iniciar a campanha militar em 1979."
Curioso
notar que, tradicionalmente, os afegãos tinham até aí uma atitude de
respeito em relação aos seus vizinhos do norte. Só após a intervenção
armada passaram a assumir um posicionamento hostil relativamente à URSS.
Mas mesmo assim, os afegãos tinham em alto apreço o facto de os souravi
(os seja, os soviéticos) terem ajudado na organização da vida pacífica
normal, em construção de fábricas, empresas, escolas e hospitais.
Atualmente,
a sociedade afegã não encara com bons olhos a política dos EUA. É voz
corrente de os americanos nada fazerem para o desenvolvimento econômico
do país, embora tal apreciação esteja longe da verdade. Todavia, não
obstante as promessas e asseverações sobre um futuro melhor, a
resistência armada continuará até que o último soldado estrangeiro
abandone o território do Afeganistão.
Fonte: A voz da Russia
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