Pela
terceira vez desde 2005, circulou na ultima semana de 2012 a "notícia"
de que a Rússia teria vendido "a linha de produção" do bombardeiro supersônico Tupolev Tu-22M3 para a China, que teria pago cerca de US$1,5
bilhão, incluindo "transferência de tecnologia" (habilitando os
chineses, num futuro próximo, a produzir versões próprias do jato), com o
fato adicional de que seis exemplares, do inventário russo, teriam já
sido entregues a Pequim, para o início de treinamento e instrução
operacional das tripulações. Obviamente, pelo teor extremamente sério de
uma negociação deste tipo, envolvendo uma aeronave com as capacidades
do Tu-22M3, a "notícia" acabou correndo o mundo em blogs e fórums de
internet, e mesmo em sites especializados no Brasil - embora
curiosamente, nada tenha sido noticiado por empresas jornalísticas de
porte, como a britânica BBC, a russa RIA-Novosti ou a norte-americana
CNN; nem nos websites das principais publicações de aviação, incluindo a
própria ASAS.
Em
alguns dos blogs, colocou-se como fonte o site do "The China Times", de
Taiwan; mas assim como nas duas ocasiões anteriores, a "notícia" parece
carecer de qualquer fundamento, como a equipe de ASAS buscou averiguar
de modo jornalístico. De fato, na versão mais corrente atual da própria
"notícia" na web, já se pode verificar um erro grosseiro (repetido
inclusive, em sites no Brasil) em que o avião russo é chamado de
"Tu-22MB", versão que absolutamente nunca existiu. O jato da Tupolev
teve, sim, as variantes Tu-22M1, -22M2 e -22M3, das quais a última é a
única ainda em serviço. Respectivamente, receberam no Ocidente os
codinomes de Backfire-A, -B e -C. Mas nunca houve um "Tu-22MB". E a
notícia também fala que a "venda" incluiria o ferramental para a
produção dos motores - embora estes tenham deixado de ser produzidos na
Rússia há décadas, e de fato não exista mais a sua "linha de produção".
Aliás, na excelente matéria de Piotr Butowski sobre o Tu-22M, publicada
na Edição 68 de ASAS, é explicado que a carência de motores para o jato é
um dos pontos mais delicados de sua manutenção em serviço na Força
Aérea da Rússia, e por isso assunto que merece cuidados no atual
programa de modernização do Tu-22M3, em execução pela Rússia. Seria
bastante curioso que os russos vendessem algo que não mais existe (a
"linha de produção" do jato e a de seus motores), e ainda por cima
quando sua própria Força Aérea decidiu modernizar o modelo e o manter em
serviço (lembrando-se que o Backfire nunca foi vendido pela Rússia para
qualquer aliado, nem nos tempos soviéticos).
De
concreto e verificável sobre a "aquisição chinesa", na verdade, não
existe nada, senão um rumor na web. Mais uma vez (ou, pelo menos, até
que surja um fato novo, com fonte fidedigna), tudo parece não ter
passado de uma notícia falsa, talvez com intenções de desinformação, que
ganhou espaço de discussão como qualquer fofoca bem plantada. Mas não
capaz de ludibriar, sem questionamento, os meios de imprensa
profissionais e sérios.
Fonte: Revista Asas
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