Pela terceira vez desde 2005, circulou na ultima semana de 2012 a "notícia" de que a Rússia teria vendido "a linha de produção" do bombardeiro supersônico Tupolev Tu-22M3 para a China, que teria pago cerca de US$1,5 bilhão, incluindo "transferência de tecnologia" (habilitando os chineses, num futuro próximo, a produzir versões próprias do jato), com o fato adicional de que seis exemplares, do inventário russo, teriam já sido entregues a Pequim, para o início de treinamento e instrução operacional das tripulações. Obviamente, pelo teor extremamente sério de uma negociação deste tipo, envolvendo uma aeronave com as capacidades do Tu-22M3, a "notícia" acabou correndo o mundo em blogs e fórums de internet, e mesmo em sites especializados no Brasil - embora curiosamente, nada tenha sido noticiado por empresas jornalísticas de porte, como a britânica BBC, a russa RIA-Novosti ou a norte-americana CNN; nem nos websites das principais publicações de aviação, incluindo a própria ASAS. 

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Os bombardeiros Tu-22M Backfire foram produzidos pela Tupolev até 1997.

Em alguns dos blogs, colocou-se como fonte o site do "The China Times", de Taiwan; mas assim como nas duas ocasiões anteriores, a "notícia" parece carecer de qualquer fundamento, como a equipe de ASAS buscou averiguar de modo jornalístico. De fato, na versão mais corrente atual da própria "notícia" na web, já se pode verificar um erro grosseiro (repetido inclusive, em sites no Brasil) em que o avião russo é chamado de "Tu-22MB", versão que absolutamente nunca existiu. O jato da Tupolev teve, sim, as variantes Tu-22M1, -22M2 e -22M3, das quais a última é a única ainda em serviço. Respectivamente, receberam no Ocidente os codinomes de Backfire-A, -B e -C. Mas nunca houve um "Tu-22MB". E a notícia também fala que a "venda" incluiria o ferramental para a produção dos motores - embora estes tenham deixado de ser produzidos na Rússia há décadas, e de fato não exista mais a sua "linha de produção". Aliás, na excelente matéria de Piotr Butowski sobre o Tu-22M, publicada na Edição 68 de ASAS, é explicado que a carência de motores para o jato é um dos pontos mais delicados de sua manutenção em serviço na Força Aérea da Rússia, e por isso assunto que merece cuidados no atual programa de modernização do Tu-22M3, em execução pela Rússia. Seria bastante curioso que os russos vendessem algo que não mais existe (a "linha de produção" do jato e a de seus motores), e ainda por cima quando sua própria Força Aérea decidiu modernizar o modelo e o manter em serviço (lembrando-se que o Backfire nunca foi vendido pela Rússia para qualquer aliado, nem nos tempos soviéticos).
De concreto e verificável sobre a "aquisição chinesa", na verdade, não existe nada, senão um rumor na web. Mais uma vez (ou, pelo menos, até que surja um fato novo, com fonte fidedigna), tudo parece não ter passado de uma notícia falsa, talvez com intenções de desinformação, que ganhou espaço de discussão como qualquer fofoca bem plantada. Mas não capaz de ludibriar, sem questionamento, os meios de imprensa profissionais e sérios.