No início dos anos 80, os Estados Unidos começaram a utilizar veículos
espaciais recuperáveis, os chamados ônibus espaciais, com grande
sucesso. Os soviéticos, inspirados por esse sucesso, começaram
imediatamente a projetar seu próprio ônibus espacial.


Pensou-se em adaptar o cargueiro estratégico Antonov An-124 Ruslan para a
tarefa, mas mesmo esse enorme avião seria insuficiente para a tarefa. O
Escritório de Desenhos Antonov, então, propôs ampliar o design básico
do Ruslan, acrescentando anéis de extensão na fuselagem e aumentando a
envergadura das asas. Dois motores turbofan Ivchenko Progress D-18T
foram acrescentados ao 4 motores do mesmo tipo utilizados nos Ruslan.

Outras modificações foram feitas para reduzir o peso da aeronave, como a
eliminação da porta traseira e da rampa de carga do Ruslan. O
desempenho conseguido foi considerado aceitável, uma vez que, ao
contrário do Ruslan, a aeronave não teria função nem de transporte aéreo
tático e nem requisitos para operação em pistas curtas.
A maior aeronave do mundo voou pela primeira vez em 21 de dezembro de
1988. Designada pelo fabricante como Antonov An-225 Mriya (em ucraniano:
Антонов Ан-225 Мрія), foi exposta orgulhosamente em exposição estática no Paris Air Show de 1989, em Le Bourget, e em voo no Farnborough Air Show em 1990. Mriya significa, em ucraniano, "sonho".
Na sua função original, como transportador do ônibus espacial russo, o
Buran, o Mriya executou 24 voos de teste. Entretando, por essa época, a
situação política e econômica da União Soviética, sob o governo de
Mikhail Gorbachev, estava em franca deterioração, e a própria União
Soviética estava chegando ao seu fim. Por fim, a União Soviética foi
declarada oficialmente extinta em 31 de dezembro de 1991. O ambicioso
programa dos ônibus espaciais russos não sobreviveu a esse fato, e o
Buran, que tinha executado uma única missão orbital, em 15 de novembro
de 1988, jamais voou novamente após o colapso soviético.
Com o fim do programa do ônibus espacial russo, o Mriya foi considerado
supérfluo e retirado de voo em 1994. Seus motores foram removidos para
equiparem os An-124 Ruslan em operação. Uma segunda aeronave An-225 teve
sua construção abandonada em Kiev na Ucrânia, e pelos cinco anos
seguintes as duas maiores aeronaves do mundo ficaram totalmente
esquecidas.

O Mriya, então, foi retirado da sua precoce aposentadoria, remotorizado e
colocado novamente em serviço. Recebeu seu Certificado de Tipo como
aeronave civil em 23 de maio de 2001 e transportou uma carga recorde
experimental de 253,8 toneladas em setembro do mesmo ano.

Desde então, o Mriya é usado para transportar cargas pesadas ou
volumosas demais para os demais aviões cargueiros em serviço no mundo,
tornando-se então praticamente indispensável. Já transportou geradores
de 150 toneladas e trens do metrô de Nova Delhi, entre outras cargas, e é
extremamente útil para transportar suprimentos para regiões atingidas
por catástrofes naturais e guerras no mundo inteiro.


Em 2006, sentiu-se a necessidade de um segundo An-225 para complementar
as operações da única aeronave atualmente em voo. Decidiu-se retomar a
construção da segunda célula abandonada na linha de produção em Kiev
(foto abaixo). Essa aeronave é bastante diferente do An-225 original, já
que não mais se destina a transportar naves espaciais. Possui uma
empenagem simples, e foi instalada a porta de carga traseira inexistente
no primeiro avião. A aeronave deveria ficar pronta em agosto de 2008,
mas por volta de setembro de 2009 ainda não tinha sido completada e os
trabalhos foram novamente abandonados, por enquanto.
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O segundo An-225, inacabado, na Ucrânia |
O Antonov An-225 Mriya tem 84 metros de comprimento, 88,4 metros de
envergadura e 18,1 metros de altura. A carga máxima prevista é de 250
toneladas, e a área da asa alcança inacreditáveis 905 metros quadrados.
É equipado com seis motores ZMKB Progress D-18, turbofans de 51,6 mil
libras de empuxo cada um. Quando totalmente carregado, exige uma pista
de 3.5oo metros para a decolagem. Carregado, normalmente voa em niveis
mais baixos, em torno de 2o mil pés ou menos, mas pode chegar a 36 mil
pés dependendo da carga e do combustível transportados. Sua velocidade
máxima é de 850 Km/h, e a de cruzeiro é um pouco menor, de 800 Km/h.
Como a grande maioria dos aviões russos, possui os instrumentos
calibrados no sistema métrico decimal, com velocímetro em Km/h e
altímetros em metros. O peso máximo de decolagem (MTOW - Maximun Take-off Weight) é o maior do mundo, atualmente, alcançando 640 toneladas, quase o dobro do MTOW dos primeiros Boeing 747.
Nenhuma aeronave operacional ou em projeto no mundo possui a capacidade
do Mriya, e é provável que esse avião mantenha ainda, por muitos anos, o
título de maior e mais pesado avião do mundo.
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