A vitória da Embraer sobre a americana Hawker Beechcraft na licitação para fornecimento de 20 aviões para missões da Força Aérea americana no Afeganistão, anunciada ontem, garante à fabricante brasileira o "selo de qualidade". Além disso, o acordo de US$ 428 milhões aproxima EUA e Brasil num monento em que se discute a compra de 36 novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB).
Segundo o consultor aeronáutico Jorge Barros, por seu pequeno porte, o avião brasileiro tem condições de satisfazer o maior consumidor de armas do mundo e de desempenhar um papel estratégico no Afeganistão. "O Super Tucano gasta pouco combustível e pousa em pista pequena, algo que os F-18 [Boeing] e F-35 [da Lockheed Martin] não fazem porque precisam de grande estrutura de apoio", diz.

O especialista explica ainda que o Super Tucano deve participar de dois tipos de missão no Afeganistão: apoio aéreo aproximado e vigilância. "Na primeira, ele é enviado quando a infantaria quer encontrar inimigo ferido e facilitar o combate. Em tarefa de vigilância, o Super Tucano fica olhando para baixo – à noite usa visão noturna – para observar o inimigo. Se identificar movimento suspeito pode disparar tiros de alerta ou lançar bomba, dependendo do que a base determinar", diz. Conta a favor do avião brasileiro neste tipo de missão o fato de voar entre 150 km/h e 600 km/h, enquanto os aviões maiores voam em velocidades maior e atingem cerca de 2000 km/h, quase que duas vezes a velocidade do som.

"Essa decisão da Força Aérea dos Estados Unidos pode ser um prenúncio de aproximação entre os dois países e também um reconhecimento à engenharia brasileira", avalia Barros. "Nessa escolha a opinião dos militares americanos é fundamental: se as asas resistem, se e fácil escapar do avião quando ele for atingido...  é um reconhecimento muito grande. Os americanos têm uma resistência grande a aceitar que no pais deles não existe tecnologia que os atenda", declara. 
 
Ações atingem pico em cinco anos
"Há alguém mais otimista assim com defesa? Certamente nada que o investidor dos EUA possa apostar. Nada nesse hemisfério", disse o analista Myles Walton, do Deustche Bank, em uma entrevista. "A Embraer é a base do complexo militar na América Latina, por meio de uma combinação de execução, sorte e em ser a companhia certa no momento certo."
As ações da Embraer na Bovespa chegaram a atingir a máxima de cinco anos nesta quinta-feira, após o Pentágono declarar a empresa vencedora na licitação, na noite da véspera.
Mas no decorrer do pregão, os papéis devolveram os ganhos, com analistas afirmando que o corte de gastos no orçamento de defesa dos EUA pode tornar a Força Aérea norte-americana menos propensa a exercer opções de compra por mais aviões Super Tucano.
A ação da Embraer encerrou em baixa de 0,77%, a R$ 16,72.
 
Mais empregos nos EUA
Outro fator que pesou na escolha da Embraer é o fato da fabricante brasileira já utilizar componentes de 100 fornecedores em mais de 20 Estados americanos. A Embraer também deve criar mais 1200 vagas para mão de obra qualificada na fábrica da cidade de Jacksonville, na Flórida, o que significa dobrar sua força de trabalho no país. 
Terceira maior fabricante de aeronaves comerciais do mundo, a Embraer também é importante cliente da indústria norte-americana e compra anualmente mais de US$ 2 bilhões, numa cadeia produção sustentada por 7 mil empregos. 
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Super Tucano no mundo
A Embraer conta com uma carteira de 190 encomendas e mais de 170 Super Tucanos em operação em nove países: Angola (foto), Brasil, Burkina Faso, Chile, Colômbia, República Dominicana Equador, Indonésia e Mauritânia. Segundo a Embraer, são mais de 180 mil horas de voo, dentre as quais 28 mil são de combate. 
 
Estímulo a novos negócios
"Sabemos que outros países estavam esperando esse resultado", disse Aguiar em entrevista por telefone. "Nos próprios Estados Unidos, na medida em que a gente comprove que estamos entregando o que foi adquirido, tenho certeza de que pode crescer muito essa ordem, e haverá outras necessidades também".
O contrato também é uma boa notícia para a Boeing, sediada em Chicago, que participa do processo de ofertas para renovar a FAB. A companhia norte-americana disputa o contrato com a francesa Dassault e a sueca Saab.

"Esse é obviamente um desdobramento muito positivo para a Boeing. É a melhor coisa que aconteceu para eles (em disputas por acordos de fornecimento de jatos) em meses", disse uma autoridade de alto escalão do governo brasileiro à agência Reuters sob condição de anonimato.

Primeira concorrência anulada
 
Autoridades brasileiras haviam expressado insatisfação no ano passado quando os Estados Unidos descartaram o contrato originalmente concedido à Embraer em dezembro de 2011.

A Hawker desafiou juridicamente o processo e as repercussões políticas do fato de que uma companhia baseada nos Estados Unidos perdeu o contrato para uma companhia brasileira chegou a atingir as eleições presidenciais norte-americanas.

 
Após a Embraer emergir vitoriosa nesta quarta-feira, o vice-secretário de Defesa norte-americano, Ashton Carter, ligou para o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, para cumprimentá-lo pelo resultado.

Amorim considerou uma "grande vitória" para a indústria brasileira que abrirá novas oportunidades de negócios para a Embraer, de acordo com um comunicado do ministério.

Para a Hawker, que saiu de uma concordata neste mês, o contrato perdido é mais um obstáculo no caminho para a recuperação. "Vamos nos reunir com a (Força Aérea norte-americana) para uma discussão completa da decisão e determinaremos então nossos próximos passos", disse a porta-voz da companhia, Nicole Alexander, em comunicado enviado por e-mail.

Fonte: IG