Insegurança regional e prosperidade econômica levam países do continente
a superarem europeus nos gastos militares. China passa Reino Unido e já
é quinto maior exportador mundial de armamentos.
Duas tendências vêm chamando a atenção no mercado armentista mundial:
pela primeira vez, em 2012 os gastos militares da Ásia superaram os dos
países europeus. E, num fato inédito desde a Guerra Fria, a lista dos
maiores exportadores de armamentos se alterou, com a China arrebatando
do Reino Unido o quinto lugar.
O deslocamento global do poder militar avança, diz o relatório O equilíbrio militar, do
Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). E o caminho é,
inequivocamente, em direção à Ásia, referenda o estudo Tendências do comércio internacional de armas, publicado nesta segunda-feira (18/03) pelo Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa da Paz (Sipri).
Os Estados asiáticos vêm comprando cada vez mais armas e, segundo o
relatório do Sipri, os cinco maiores importadores da última meia década
foram Índia, China, Paquistão, Coreia do Sul e Cingapura.
Mais armas não significam mais segurança
De acordo com Siemon Wezeman, especialista em Ásia do Sipri, um dos
motivos para os investimentos crescentes da região em armamentos seria o
grande número de ameaças e disputas territoriais. "A Ásia está
insegura", afirma. E exemplos disso são a velha inimizade entre Índia e
Paquistão, as ameaças cada vez mais estridentes por parte da Coreia do
Norte, assim como os conflitos territoriais nos mares da China
Meridional e Oriental.
As armas recentemente adquiridas, no entanto, de forma alguma elevam o
grau de segurança, observa o IISS no relatório divulgado na última
quinta-feira: "A aquisição de sistemas militares avançados na Ásia
Oriental, uma região em que faltam mecanismos de segurança, eleva o
risco de conflitos e agravamentos não intencionais", diz o texto.
Paralelamente à situação de insegurança, o contexto econômico é também
de grande relevância, observa Wezeman: "São as economias em crescimento
que tornam a compra de armas possível". Porém decisivos para a superação
da Europa no ranking armamentista mundial não são apenas os maiores
investimentos por parte dos asiáticos, mas também a redução dos gastos
militares no continente europeu, lembra o IISS.
Segundo o instituto britânico, a tendência dos últimos anos se reforça:
enquanto a Ásia emprega mais verbas em armas, a América do Norte e a
Europa, ambas em dificuldades econômicas, reduzem seus orçamentos
militares. Desse modo, atualmente 19,9% dos gastos militares globais
cabem à Ásia (inclusive Austrália), 17,6% à Europa e 42% à América do
Norte.
Confronto indo-paquistanês
A ascensão da China ao posto de quinto maior exportador do setor (com
uma participação de 5% no comércio mundial de armas, o qual segue sendo
dominado por EUA e Rússia) se deve em especial às compras realizadas
pelo Paquistão, para onde vão 55% das exportações de armas da China.
Uma vez que nenhuma das nações asiáticas – com exceção da China – possui
uma indústria bélica digna de nota, elas dependem da importação de
armas, explica Wezeman. A Índia, que compra sobretudo da Rússia, foi o
país que mais importou armas nos últimos anos.
O general de brigada reformado paquistanês Farooq Waheed Khan atribui as
compras de armas de seu país à proximidade de um arqui-inimigo: "A
Índia segue sendo uma ameaça permanente para o Paquistão".
Segundo ele, a China substituiu os EUA como mais importante parceiro
armamentista para os paquistaneses: "Um dos motivos principais para essa
mudança estratégica é que o Paquistão considera os EUA um parceiro
pouco confiável."
Pequim, por sua vez, tem interesse em abastecer o país sul-asiático com
armamentos. E o objetivo, segundo Wezeman , "é manter a Índia em cheque e
ter um parceiro que abra para a China o acesso à estrategicamente
importante região do Golfo".
Modernização versus expansão
"Os países não só se modernizam, como em muitos casos estão também
expandindo suas forças armadas. A ênfase é equipar a Aeronáutica e a
Marinha", comenta Wezeman
E, nesse ponto, os chineses assumem papel pioneiro. "A capacidade da
China de desenvolver de forma autônoma tecnologias militares avançadas
transforma pouco a pouco o Exército de Libertação Popular", avalia o
IISS.
O relatório do instituto estratégico cita como exemplo não só o primeiro
porta-aviões do país – cujas possibilidades operacionais, contudo,
ainda são muito restritas – como também o novo contratorpedeiro do tipo
052D, que presumivelmente ampliará as capacidades chinesas de combate
marítimo-aéreo. Isso mostraria, segundo o IISS, o quão rapidamente a
China assume a dianteira e como ela vem modernizando em especial suas
forças de combate marítimas.
Entretanto, o Sipri ressalva que "os novos sistemas bélicos chineses
continuam dependendo, em grande parte, de componentes estrangeiros". Seu
porta-aviões, por exemplo, baseia-se num modelo ucraniano, e seus
principais aviões-caça, tipos J-10 e J-11, seguem utilizando peças dos
motores russos AL-31FN.
Entre os que mais se beneficiam da crescente modernização da indústria
armamentista chinesa está o Paquistão, uma vez que os EUA se recusam a
partilhar seus conhecimentos com os aliados. O general Khan lamenta que
os americanos não se disponham a dividir com os paquistaneses a
tecnologia de aviões não tripulados. No entanto, o ex-militar está
seguro que a China poderá preencher essa lacuna.
Fonte: DW
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