"Um plano era usar um avião não tripulado para bombardear a área, mas
ele foi rejeitado, pois recebemos ordem para capturá-lo com vida." Foi
assim que Liu Yuejin, diretor do escritório antidrogas do Ministério de
Segurança Pública da China, descreveu a caçada a Naw Kham (foto), líder uma
grande operação de narcotráfico no Triângulo Dourado, suspeito de ter
matado 13 marinheiros chineses. Eles o apanharam numa emboscada noturna
do outro lado da fronteira.
Esse caso é útil para se pensar o mercado global para sistemas aéreos
não tripulados (drones) e para onde ele vai, um tópico que ganhou
reforços na semana passada com a reportagem do New York Times a respeito
da confusão sobre se foram drones americanos ou paquistaneses que
realizaram um controvertido ataque aéreo.
Discutimos com frequência sobre um suposto monopólio dos EUA dos
drones que estaria possivelmente se esgotando. Ou, como a revista Time
intitulou uma matéria: "Monopólio sobre drones: esperamos que tenham
aproveitado enquanto durou". O artigo diz em seguida: "Isso vai ocorrer;
a questão é quando". A resposta é: muitos anos atrás.
Hoje, os EUA
lideram no campo da robótica militar, e como o país gasta mais dinheiro e
faz mais uso de sistemas não tripulados, certamente deve liderar mesmo.
Dito isso, há cerca de 8 mil aviões não tripulados no estoque americano
e outros 12 mil veículos terrestres não tripulados. Um número crescente
deles é grande e armado.
A depender da fonte que se queira citar, 75 a 87 países possuem
aviões não tripulados. Desses, ao menos 26 possuem sistemas maiores e
são armados. Ao que se sabe, somente EUA, Grã-Bretanha e Israel usaram
drones armados, mas o motivo de outros não o terem usado é, com
frequência, política, não tecnológica. Ou eles não estão em guerra ou
optaram por não seguir essa via ainda. Mas esses limites políticos estão
mudando. Veja-se a discussão aberta da China sobre seus planos no
Diário do Povo, ou a recente decisão da Alemanha de adquirir drones
armados para missões no exterior, acompanhando decisões de Itália,
França e outros países.
Em suma, quando conversamos sobre um suposto futuro de proliferação
de drones, é comum ignorarmos a realidade atual. Já temos um mercado que
é global tanto com relação a seus consumidores quanto a seus
fabricantes, de empresas americanas como General Atomics a ASN
Technology, uma das maiores fabricantes da China, e ADE da Índia.
O que realmente importa não é a proliferação para um número maior de
países, mas a proliferação da aquisição e o uso da tecnologia. A
primeira geração de sistemas não tripulados se parecia com os que
estavam substituindo. Agora, vemos um conjunto crescente de tamanhos,
formatos e formas.
Nessa tendência, a questão tamanho é importante para a discussão
sobre drones armados. Não se trata apenas de que os drones estão ficando
menores, mas de que eles também estão transportando munição cada vez
menor. Assim, se você quiser, por exemplo, realizar uma eliminação
seletiva, teria de enviar um MQ-9 Reaper carregando um JDAM ou um
conjunto de mísseis Hellfire? Ou um míssil teleguiado do tamanho de uma
revista enrolada, ou uma minúscula bomba do tamanho de uma lata de
cerveja equipada com GPS dariam conta do recado, em especial quando se
trata de causar menos danos colaterais?
E se essa arma menor é tudo que você precisa, para que precisaria de
um drone do tamanho de F-16 para carregá-la? Embora a discussão sobre a
proliferação de drones armados tenha como foco países que abrigam
sistemas grandes, em breve teremos de tratar dos que têm sistemas
menores. E, em certo ponto, teremos de perguntar como definir um drone e
como regulamentá-lo.
Já estamos no mundo do Switchblade, o drone de
vigilância que é carregado num pequeno tubo e pode voar a 80 km/h, mas
se for preciso pode se transformar num meio letal e causar uma explosão
do porte de uma granada de mão. Outra tendência que terá importância é a
crescente inteligência e autonomia dos drones armados.
A expansão desse mercado vai mudar ainda mais dentro de alguns anos,
quando a facilidade de uso encontrar barreiras políticas civis menores.
Apesar de os drones estarem hoje principalmente ausentes de usos civis,
há um processo em curso para integrar sistemas aéreos não tripulados nas
partes civis do sistema de espaço aéreo nacional e global. O Congresso
americano estabeleceu recentemente um prazo em 2015 para o espaço aéreo
americano se abrir para um uso civil e comercial mais amplo de drones, e
as mesmas tendências estão em jogo em muitos outros países, da
Grã-Bretanha ao Brasil.
Já não vivemos em um mundo onde somente os EUA têm a tecnologia e não
estamos avançando para um futuro em que a tecnologia será usada somente
da maneira como a usamos agora. Enfrentar os desafios colocados pela
proliferação de drones não é impossível. Se quisermos enfrentar os
riscos e começar a criar padrões globais, o melhor é começar a
reconhecer seu status hoje e para onde iremos no futuro muito próximo.
Fonte: Estadão
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