A missão do Projeto Delta na guerra do Vietnam era de realizar
missões de reconhecimento em profundidade, e para tal, dependia dos
helicópteros UH-1D/H do Exército Americano, principalmente da 281a.
Compania de Helicópteros de Assalto, para infiltração e exfiltração de
suas equipes de reconhecimento. Quando uma equipe de reconhecimento
ficava comprometida e não conseguia quebrar o contato com o inimigo,
normalmente a equipe solicitava uma exfiltração de emergência, e muitas
vezes tal manobra realizou-se usando o equipamento de McGuire.
O equipamento de McGuire era o método usado para extrair uma equipe
através da utilização de cordas quando o helicóptero de exfiltração não
podia efetuar pouso em local próximo, embarque a baixa altura ou
utilização de uma escada de cordas de aproximadamente 10 metros de
comprimento. Se o helicóptero conseguisse efetuar o pairado a pelo menos
100 pés (cerca de 30 metros) acima da equipe, o equipamentos de McGuire
era lançado e retirava-se a equipe com ele.
O equipamento de McGuire era simplesmente uma tira de nylon de 3
polegadas de largura por aproximadamente 3 metros de comprimento
formando um laço bastante grande para um homem conseguir sentar-se e com
um laço menor para efetuar o transporte de feridos ou inconscientes. O
ponta dessa tira de nylon é presa em uma corda de cerca de 120 pés de
comprimento e que por final é presa no helicóptero.
A corda do
equipamento era dobrada em “S” e presa por fitas de borracha a duas
tiras de lona em um container chamado de Griswold. O container de
Griswold tinha três funções: impedir a corda de sujar, proteger a corda
quando em deslocamento e proteger a corda da borda exterior do assoalho
do helicóptero.
A ponta interna da
corda era transpassada em um toco de madeira e por fim ancorada em pelo
menos três anéis de fixação no piso do helicóptero. O toco de madeira
tinha três anéis de fixação que também eram fixados no piso do
helicóptero. Um saco de areia de aproximadamente 10/15 kg era fixado na
outra ponta da corda que era lançada junto com a tira de
nylon. Normalmente eram instalados e preparados três equipamentos de
McGuire em cada helicóptero.
O coração e a alma do equipamento de McGuire eram as suas cordas, e a
boa manutenção das cordas foi crucial para a confiança no equipamentos
de McGuire. As cordas de náilon de meia polegada eram certificadas para
3600 libras (aproximadamente 1.600 kg). Depois de cada uso, as cordas
eram inspecionadas cuidadosamente, e se constatasse um fio danificado,
descartava-se a corda. Cada fio trançado era do comprimento inteiro da
corda e se um fio era danificado, a corda inteira enfraquecia-se.
Na vida útil das cordas de 30 metros, havia um fator de esticamento
de cerca de 20% antes de serem descartadas. Após cada uso, a corda
esticava-se até perder completamente sua elasticidade em aproximadamente
36 metros, e antes que isto acontecesse a corda também era substituída.
Mas isto criava um problema devido aos comprimentos variados das
cordas. Se uma nova corda de 30 metros substituía uma corda danificada,
ela seria mais curta do que as outras duas cordas de equipamento de
McGuire e o soldado exfiltrado nesta corda possivelmente ficaria 3
metros mais alto do que outros dois soldados. Para corrigir isto, a nova
corda era propositalmente amarrada no parachoque de dois veículos
e esticada até que o seu comprimento combinasse com as outras duas
cordas do equipamento.
Depois que os equipamentos de McGuire eram instalados no piso do
helicóptero, uma escada de mão feita com degraus de alumínio e cabos de
aço era instalada por cima da amarração. A escada com cerca de dez
metros de comprimento era ancorada no esqui da aeronave e ficava
enrolada no interior da cabine. Um cabo espia era amarrada em um degrau
na altura da metada do comprimento da escada e o “rolo” todo ficava
preso por um cinto de segurança comum. Para
lançar as escadas de mão, o cinto de segurança era solto e empurrava-se
o “rolo” todo para fora da aeronave. Depois de lançadas, utilizava-se a
corda espia para recolher a mesma para o interior do helicóptero
novamente.
Quando decidia-se utilizar os equipamentos de McGuire, a “rolo” da
escada era colocada para o lado oposto do interior da cabine do
helicóptero. O tripulante abria o container de Griswold e utilizava-o
como proteção da borda do piso do helicóptero (canto vivo) por onde
seria lançadas as cordas, assegurando-se que o tecido de lona espesso do
container permanecesse entre as cordas e a borda de piso da cabine.
Assim que o helicóptero estivesse na posição acima da equipe a ser
exfiltrada, o tripulante lançaria os sacos de areia por fora dos esquis
da aeronave. O peso do saco de areia iria desenrolar a corda das fitas
de borracha em alta velocidade. Observava-se também a cautela de lançar
os sacos de areia de forma a não acertar a equipe em terra.
A composição padrão de uma equipe de reconhecimento do Projeto Delta
era de dois operadores especiais americanos e quatro operadores
especiais vietnamitas, logo era necessário dois helicópteros para
exfiltrar uma equipe completa pelo equipamento de McGuire. O
procedimento padronizado de exfiltração pelo equipamento de McGuire
estabelecia que o primeiro helicóptero tiraria três vietnamitas e o
segundo helicóptero tiraria os dois americanos e o outro vietnamita.
Como tinham rádios, os americanos sempre foram os últimos a serem
exfiltrados.
O procedimento padronizado na exfiltração também estabelecia que cada
homem utilizasse a bandoleira de seu fuzil CAR-15/M16 em posição de
uso, assim permitia a equipe ter como usá-lo durante a manobra,
devolvendo fogo se necessário.
No momento em que os sacos de areia atingissem o chão, os três
primeiros homens sairiam correndo, pegariam os equipamentos de McGuire,
ancorariam suas mochilas na tira de nylon, segurariam com a mão esquerda
o laço pequeno de pulso, entrariam no laço grande de nylon, olhavam
para o helicóptero e sinalizavam “ok” para o tripulante assim que
prontos. Quando o tripulante visse que todos os três estivessem prontos,
comunicaria ao piloto para decolar. Com o helicóptero subindo, as
cordas se tensionariam e então cada homem poderia sentar-se no laço de
tira de nylon do seu equipamento de McGuire. Os soldados prendiam as
pernas e braços após a decolagem de forma a tornar uma massa mais
estável para ser transportada como carga externa do helicóptero. Esse
arranjo também era útil para o caso de uma das cordas partir, sendo que
os os companheiros poderiam salvar o terceiro, segurando-o.
Caso fosse possível localizar uma
clareira segura na rota de regresso para a base avançada do Projeto
Delta e o helicóptero tivesse o combustível suficiente, efetuava-se um
pouso e embarcaria a equipe na cabine. Se não, a equipe faria um passeio
longo e pouco confortável, sentada naquela tira de nylon de três
polegadas, que em qualquer duração ficava bastante doloroso.
Era bastante comum um “passeio” no equipamento de McGuire durar uma
hora ou mais, pois a maior parte de áreas de operação (AO) de
reconhecimento do Projeto Delta ficavam no limite da autonomia dos
helicópteros UH-1D/H. Mesmo com a capacidade máxima de combustível, os
helicópteros decolavam das bases avançadas (FOB) com combustível apenas
para atingir a AO, passar não mais do que quinze minutos no local e logo
voltar a FOB. Se o helicóptero de extração demorasse mais do que os
quinze minutos previstos para recuperar a equipe, ele não teria
combustível suficiente para alternar para uma área de pouso e embarcar
os soldados. Quando isto acontecia, a equipe ia pendurada no equipamento
de McGuire por mais de uma hora de voo.
O tripulante tinha um facão a bordo do helicóptero e utilizava-o para
cortar as cordas do equipamento de McGuire caso a equipe ficasse
entrelaçada nas árvores na decolagem. Caso o helicóptero apresentasse
algum tipo de problema mecânico e começasse a cair, o tripulante deveria
esperar que a equipe estivesse no nível do topo das árvores antes de
cortar os cabos. Todos entendiam que a equipe tinha uma possibilidade
muito maior de sobreviver ao impacto com as árvores ou com a terra do
que caso o helicóptero caisse em cima deles.
Solução para o desconforto
Os equipamentos de McGuire eram tão desconfortáveis que logo se
iniciou o desenvolvimento de um equipamento para substituí-lo. Contudo, o
novo sistema STABO (um tipo de colete tático com função para içamento)
não foi aprovado pelo Projeto Delta por razões logísticas. Enquanto que
com o sistema McGuire a unidade teria de manter o controle de 20 ou 30
equipamentos, enquanto que com o novo sistema STABO a unidade teria de
manter a integridade de um equipamento para cada soldado, contabilizado
em centenas
O equipamento STABO era um colete costurado em um formato semelhante
aos utilizados pelos paraquedistas, era bastante caro e demorado para
manufaturar. O colete era de material de nylon, semelhante ao utilizado
pelas tiras do equipamento de McGuire e era usado em campo para afixar e
carregar equipamentos e acessórios (tipo um colete tático), até que
fosse necessária a sua utilização para uma exfiltração.
Para utilizar o colete STABO na exfiltração com cordas, duas tiras do
colete eram passadas por entre as pernas e presas em uma fivela “D” na
frente do colete. O cinto com o armamento individual do soldado e duas
tiras no peitoral eram afiveladas junto ao colete, formando uma espécie
de “cadeirinha de salvamento” que seria ancorada na corda lançada pelo
helicóptero por duas fivelas em formato “D”.
Quando o colete STABO e o equipamento de McGuire eram comparados, a
única vantagem que o equipamento STABO tinha sobre o equipamento de
McGuire era o conforto. Pela praticidade, o sistema McGuire era
imbatível:
1. O equipamento McGuire permanecia no helicóptero e não com o
soldado em campo, como era o equipamento de STABO. O colete STABO,
quando usado como equipamento individual no campo, não só era foi mais
pesada do que o equipamento utilizado anteriormente, como também não se
ajustava bem por baixo de uma mochila pesada,
nem distribuía adequadamente o peso de munição, granadas e equipamentos
do combatente, além de ficar bastante desconfortável depois de alguns
dias de uso.
2. O equipamento McGuire sempre estava disponível quando necessário.
Com o equipamento de McGuire, um soldado poderia estar separado de seu
equipamento de combate e ainda assim ser exfiltrado por corda pelo
helicóptero. Contudo, com o equipamento STABO, se ele se perdesse em
combate, o soldado não poderia ser exfiltrado a menos que pudesse
localizar uma área segura para o helicóptero efetuar um pouso ou um
embarque a baixa altura. Houve pelo menos um caso de um soldado
americano que não foi exfiltrado pois estava sem seu equipamento de
STABO no momento da operação.
3. E por último, mas não menos importante, como os batedores (“Road
Runners”) usariam o equipamento STABO disfarçados com roupas de norte
vietnamitas ?
O Projeto Delta utilizou o equipamento de McGuire até o fim do
conflito. Podiam ser pouco confortáveis, mas eram baratos, confiáveis e
eficazes. Sobrou uma grande dívida de gratidão para com o Sergeant Major
Charles T. McGuire (seria equivalente ao Suboficial no Brasil) por
ter criado a ideia do equipamento que fazia a diferença na hora mais
necessária. Um sem número de soldados das unidades das Forças Especiais
americanas e vietnamitas sobreviveram para lutar em outro dia
simplesmente por causa da criação inovadora e oportuna do Sergeant Major
McGuire.
by Donald J. Taylor - Recon Team Leader - July 1968 – July 1970
Traduzido e adaptado pelo site Piloto Policial a partir do artigo original do site Projeto Delta : McGuire Rig, via Voo Tático.
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