
Esse exercício é o começo de um novo capítulo da história militar: a
guerra de drones autônomos. Mas é também uma virada nefasta numa
rivalidade militar potencialmente perigosa que está sendo formada entre
os Estados Unidos e a China.

Sua decolagem, combate e pouso completamente computadorizados criam a
possibilidade de haver dezenas ou centenas de seus sucessores engajados
num combate ao mesmo tempo.
Ele também é capaz de suportar níveis de radiação que matariam um
piloto humano e destruiriam a eletrônica de um jato normal. Além de
bombas convencionais, sucessores desse avião de teste poderão ser
equipados para carregar um micro-ondas de alta potência, um dispositivo
que emite um feixe de radiação capaz de fritar redes elétricas de um
inimigo tecnologicamente equipado, destruindo todas as coisas a elas
conectadas, entre as quais as redes de computadores que conectam
satélites, navios e mísseis de precisão.
E essas, é claro, estão entre as principais coisas nas quais a China
investiu durante sua modernização militar. Enquanto a Marinha dos
Estados Unidos lança um drone autônomo, a Marinha chinesa brinca de
esconde-esconde com um voo pilotado do convés de um porta-aviões.

Embora a China ainda tenha um longo percurso para desenvolver uma
frota de porta-aviões que rivalize com a dos Estados Unidos, o pouso
revela suas ambições.
Com quase 500 mil marinheiros e aproximando-se rapidamente de 1 mil
embarcações, sua Marinha já é, por certos parâmetros, a segunda maior do
mundo.
Com essa nova Marinha, Pequim pretende projetar seu poder a uma série
de cadeias de ilhas no Pacífico: a primeira se estende ao sul da
Península Coreana, na costa oriental de Taiwan, contornando o Mar do Sul
da China, e a segunda vai do Japão para sudeste até as Ilhas Bonin e
Marshall, abarcando as Ilhas Marianas do Norte, um território dos
Estados Unidos, e Guam - uma base americana crucial no Pacífico
ocidental. Alguma literatura não oficial dos militares chineses chega a mencionar uma terceira cadeia: as Ilhas Havaianas.
Para projetar esse tipo de poder, a China depende não só da
quantidade de seus navios, mas também da qualidade de sua tecnologia.
Manter os americanos a meio oceano de distância requer a capacidade
de ataques de precisão de longo alcance - o que, por seu lado, requer o
reconhecimento por satélite, guerra cibernética, comunicações
codificadas e redes de computadores em que a China investiu quase US$
100 bilhões na última década.
Idealmente para ambos os países, os esforços da China criariam um
novo equilíbrio de poder na região. Mas para compensar a vantagem
numérica e os avanços tecnológicos da China, a Marinha dos Estados
Unidos está apostando pesadamente em drones - não somente os X-47B e
seus sucessores, mas drones de reconhecimento antissubmarinos, drones de
comunicações de longo alcance, até drones submarinos.

Corrida pela tecnologia. A corrida armamentista entre as maiores
Marinhas do mundo compromete a possibilidade de se chegar a um novo
equilíbrio de poder, e eleva a possibilidade de colisões inesperadas à
medida que os Estados Unidos mobilizarem centenas e até milhares de
drones e a China procurar maneiras de fazer frente ao novo desafio.

Por si mesmas, as rivalidades navais não desencadeiam guerras. Em
tempos de paz, aliás, as operações navais são uma forma de diplomacia
que oferece a rivais exibições saudáveis de força que servem como
elementos de dissuasão de uma guerra. Mas elas também precisam ser
cercadas de relações políticas maiores.
No momento, a relação Estados Unidos-China é, sobretudo, no plano
econômico. Enquanto essa relação permanecer vibrante, um confronto não é
do interesse de nenhuma das partes. Mas se esse elo fino se partir
restará pouca coisa de uma relação política maior, para não falar de uma
aliança, para ocupar seu lugar.
A única barreira entre crise e conflito, então, seriam duas Marinhas
ainda maiores e mais perigosas preparadas para travar um tipo de guerra
com base em aviões não tripulados que ainda não compreendemos
completamente e, por isso, somos mais propensos a enveredar por uma
delas.
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão
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