O
filme “Nossas mães, nossos pais”, exibido pelo canal de televisão alemão ZDF,
conta a história de cinco jovens para os quais a Segunda Guerra Mundial se
torna um desafio moral e ético, deixando a impressão de que a Alemanha está
cansada de arrependimentos e tenta jogar a
culpa sobre os outros. O filme basicamente apresenta os soldados soviéticos
como estupradores, os poloneses como antissemitas desumanizados e os ucranianos
como sádicos.
A
diplomacia russa considerou inaceitável o filme e enviou uma carta ao embaixador da Alemanha dizendo que a “maioria
absoluta dos russos que teve a oportunidade de assistir ao filme” o achou
inaceitável. Também foram criticadas as tentativas de equiparar as atrocidades
cometidas pelas tropas hitlerianas na URSS aos excessos isolados perpetrados
por militares soviéticos na Alemanha, os quais foram severamente punidos pelo
comando militar soviético.
Porém,
não é novidade alguma que o cinema e mídia ocidentais deturparem o quadro
real da Segunda Guerra Mundial. Ainda assim, a passagem do filme em que os soldados soviéticos
invadem um hospital alemão, matando os feridos e estuprando as enfermeiras,
causa especial indignação. Segundo a Sociedade Russa de História Militar, esses
personagens selvagens foram copiados das obras de Joseph Goebbels e concebidos
para disfarçar o fato de a Wehrmacht ter destruído a sangue frio a população civil da União Soviética.
Ultimamente,
na sociedade alemã, vem se observando a tendência de desculpar os crimes cometidos pelos nazistas na União
Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. O filme deixa a impressão de que os
soldados alemães souberam o que seu governo nazista estava só quando entravam no
campo de batalha. Os autores exploram o tema das saudades dos tempos calmos e
felizes do pré-guerra como se não houvesse nenhum Hitler nem seu livro Mihna
Luta (Mein Kampf), que apregoava a eliminação dos “sub-humanos”.
Alguns
outros mitos modernos sobre a Segunda Guerra Mundial também foram retratados no
filme. Segundo um deles, os soldados soviéticos na Alemanha eram
indisciplinados e só corriam atrás de mulheres alemãs para estuprá-las. Conforme
os autores do filme, o número de vítimas de abuso sexual por parte de soldados
soviéticos chega a dois milhões. No entanto, os russos não são os únicos personagens
“desumanos” do
filme. Os poloneses e ucranianos são retratados como antissemitas persistentes.
Tais
estereótipos foram cunhados pela propaganda Goebbels no início da guerra e apresentavam
os soviéticos como selvagens que iriam estuprar todas as mulheres alemãs com
idade entre 8 e 80 anos. No pós-guerra, o tema da violência supostamente praticada pelos soldados soviéticos na Alemanha foi
martelado em publicações de alguns autores
ocidentais. Em seguida, vieram à tona as revelações de médicos dizendo que pelo
menos dois milhões de mulheres alemãs teriam sido abusadas sexualmente por militares soviéticos. Naquela época, a Guerra
Fria já estava começando.
“É difícil imaginar que os soldados soviéticos na
Alemanha tenham sido inofensivos e inocentes”, afirma o doutor em Ciências
Históricas e diretor do Centro de História das Guerras e Geopolítica do
Instituto de História Universal da Academia de Ciências da Rússia, Mikhail
Miagkov. “Ao libertar seu país, os soldados soviéticos viram em todos os
lugares aldeias queimadas, cidades destruídas e milhares de mortos, entre os
quais crianças e idosos. Quais sentimentos eles poderiam ter em relação aos
alemães? Só o ódio, tanto mais que essa atitude foi intensamente cultivada pela
propaganda soviética porque a existência de nosso país estava sob ameaça”, diz
o historiador.
Era
difícil evitar atos de retaliação por parte dos soldados soviéticos na
Alemanha. O território inimigo foi invadido por um enorme exército
composto por
pessoas muito diferentes. Para evitar atos de violência em relação às
mulheres
alemãs e aos civis, em geral, o comando soviético emitiu uma série de
despachos prevendo sanções penais, inclusive a pena de morte, para
o saque, estupros, fogos postos e
danos premeditados.
Isso
quando o comando alemão não achara necessário tomar medidas semelhantes para proteger
a população civil soviética. Por exemplo, a Diretiva de 13 de maio de 1941,
intitulada “Da jurisdição militar na região da Operação Barbarossa e poderes especiais
das tropas alemãs” proclamou, de fato, um terror ilimitado no território da
União Soviética contra a população civil. A liderança alemã acreditava que a violência
no Leste Europeu teria efeito benéfico para o futuro. Portanto, os comandantes
deveriam aceitar sacrifícios e parar de hesitar.
Outro lado da história
Quando,
em 1944, o campo de concentração de Janowski, na região de Lviv, foi libertado,
crimes monstruosos dos nazistas foram revelados. Segundo testemunhas, o diretor
do campo de concentração Vilgauz costumava
disparar “só por esporte” um fuzil a
partir da varanda de sua casa contra prisioneiros que trabalhavam nas oficinas.
Em seguida, passava o fuzil à sua mulher para ela fazer o mesmo. Às vezes, para
agradar à sua filha de 9 anos, ele mandava jogar para o alto crianças de dois a
quatro anos e disparava sobre elas. Sua
filha aplaudia e gritava: “Papai,
outra vez”.
Será
mesmo possível os alemães reverem seu papel na Segunda Guerra Mundial? Por que
os alemães precisam disso? Atualmente, a Alemanha é um dos países líderes da
União Europeia. Para manter essa condição, a Alemanha deseja possuir uma boa reputação,
inclusive histórica – como, por exemplo, melhorar a imagem do soldado alemão.
Os alemães têm, certamente, dificuldades em aceitar a verdade histórica. Se a
União Soviética não tivesse derrotado Hitler, hoje não haveria a Alemanha nem a
Europa em sua atual forma.
Passados
quase 70 anos desde o fim da
guerra, muitos alemães procuram, se não remeter
ao esquecimento, pelo menos encarar os feitos de seus pais e mães como algo que pode ser incluído em seu código genético
histórico. Para tanto, o Ocidente se esforça por apresentar a Segunda Guerra
Mundial como criminosa tanto por parte dos alemães quanto por parte dos russos.
Fonte: Gazeta Russa
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