Há dias, o governador gaúcho Tarso Genro esteve no Oriente
Médio. Com os palestinos, assinou moderados convênios para compra de
tecnologia no cultivo de oliveiras e agricultura familiar. Mas com
Israel foi mais longe: no dia 29 de abril, firmou protocolo com a
israelense Elbit para parceria no polo aeroespacial do estado,
envolvendo base de foguetes. A visão de Tarso Genro é altamente
pragmática e, na verdade, comprova o fortalecimento de empresas
israelenses na indústria militar brasileira.
A Elbit Systems Ltd já é sócia da Embraer, com 75% das ações da
AEL Sistemas, empresa de capital misto que vem fornecendo a tecnologia
dos aviões usados pelas Forças Armadas (Bandeirante, caça F5, caça A4 da
Marinha, KC 390, AMX). A AEL era uma empresa 100% nacional, chamada de
Aeroeletrônica Ltda., que, desde os anos 1980, fornecia equipamentos
para aviões da Embraer. Agora, é um braço desnacionalizado. A Elbit,
através da subsidiária brasileira AEL, recebeu contrato para
fornecimento de sistemas eletro-ópticos à Savis Tecnologia (subsidiária
da Embraer Defesa e Segurança) para aplicação na primeira fase do
Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).
A Elbit, que forneceu veículos não tripulados (Vants) para a
Força Aérea Brasileira, igualmente está ligada à Harpia Sistemas S/A,
que tem como foco a exploração do mercado desses veículos e pertence à
Embraer (51%), à AEL (40%) e à Avibras (9%). A Avibras, uma das
baluartes da área de defesa no Brasil, passou à Harpia o seu projeto de
desenvolvimento de um Vant genuinamente nacional, que corre o risco de
ser colocado de lado diante da existência dos similares israelenses. O
projeto da Avibras, chamado de Falcão, contou com apoio da Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep) e de instituições militares.
Também é a Elbit proprietária (100%) da ex-brasileira Ares
Aeroespacial e Defesa S/A, que produz, entre outros itens, lançadores de
torpedos e bases para alças ópticas para navios; foguetes de bombardeio
lançados por aeronaves; e foguetes Chaff para despistamento de mísseis.
A Ares foi contratada para fornecer as bases (torretas) com
metralhadoras para os veículos blindados Guarani, do Exército, que estão
sendo fabricados no Brasil pela multinacional italiana Iveco. A Ares
também está presente no desenvolvimento do sistema de míssil antinavio
da Marinha. Para as alças ópticas da Ares, destinadas aos navios de
patrulha, poderão ser adotadas câmeras de TV e infravermelho fornecidas
pela Elop, que vem a ser a Elbit Systems Electro-Optics.
Já outra gigante israelense, a IAI (Israel Aerospace Industries -
100% estatal) forneceu os Vants da Polícia Federal que foram objeto da
campanha eleitoral da Dilma quando ela prometeu que seriam compradas até
14 unidades para reforçar a vigilância nas fronteiras. Essa operação
esta sendo alvo de investigação pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Em 2012 a catarinense Dígitro assinou uma parceria com a IAI,
especializada em tecnologia para segurança pública. A IAI recentemente
foi vencedora da seleção da FAB para substituir os atuais aviões de
reabastecimento em vôo. O primeiro avião será produzido em Israel e o
segundo no Brasil, pela TAP Manutenção e Engenharia Brasil, em Porto
Alegre (RS).
Os aviões, comprados pela FAB, são do modelo Boeing 767-300,
usados. A IAI comprou 40% da brasileira Iacit, que atua nas áreas de
controle de tráfego aéreo e marítimo, comunicação, radar meteorológico e
tecnologias da informação. O acordo se dá através da Elta Systems -que
pertence à IAI- e da Lardosa, subsidiária da IAI que cuidará da parte
financeira. O foco da parceria serão projetos na área de defesa e
segurança pública, principalmente para o mercado nacional. Em 2012 a
Iacit foi vencedora do Prêmio Finep de Inovação, na categoria Média
Empresa Nacional.
Por fim, a também israelense Rafael Advanced Defense Systems
comprou 40% da Gespi Aeronáutica, empresa capacitada a fazer revisões e
manutenções gerais em equipamentos aeronáuticos, tornando-os aptos ao
retorno às operações, segundo as exigências dos fabricantes. Se tudo
continuar como está, o ousado projeto de criação das Empresas
Estratégicas de Defesa, que visava a dar independência tecnológica ao
país, não terá atingido seu objetivo básico, que era o de estimular
grupos brasileiros. O que se vê em defesa é o crescimento dos
estrangeiros no mercado nacional, ao contrário do que ocorre, por
exemplo, na França, onde companhias do setor podem comprar tecnologia
fora, mas seu capital tem de ser 100% nacional.
Fonte: Monitor Mercantil
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