A Rússia vende armas e tecnologia ao Irã e com frequência bloqueia
resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre a República Islâmica.
Mas a cooperação entre Moscou e Teerã nem sempre é harmoniosa, diz
especialista.
Rússia e Irã são países vizinhos, separados apenas pelo Mar Cáspio. Hoje em dia, as relações entre os dois países são marcadas pelo pragmatismo. Mas nem sempre foi assim. A revolução islâmica de 1979 não foi motivada apenas pelo antiamericanismo, mas também por sentimentos antissoviéticos.
Rússia e Irã são países vizinhos, separados apenas pelo Mar Cáspio. Hoje em dia, as relações entre os dois países são marcadas pelo pragmatismo. Mas nem sempre foi assim. A revolução islâmica de 1979 não foi motivada apenas pelo antiamericanismo, mas também por sentimentos antissoviéticos.
O líder da Revolução, o aiatolá Ruhollah Khomeini, declarava que "os
Estados Unidos são piores que a Grã-Bretanha, a Grã-Bretanha é pior que
os Estados Unidos e a União Soviética é pior que ambos; um é pior e
mais abominável do que o outro".
A mudança nas relações entre Moscou e Teerã aconteceu no início dos
anos 1990, quando o Irã ajudou a Rússia no acordo para o fim da guerra
no Tadjiquistão. "Desde então, o Irã é visto na Rússia como parceiro com
o qual se pode atingir consenso, diferentemente do Ocidente", explica
Fiodor Lukianov, editor-chefe do jornal A Rússia na Política Global.
Já Walter Posch, especialista em Irã no Instituto de Relações
Internacionais e de Segurança (SWP, da sigla em alemão), acrescenta que
"Moscou aceita o Irã porque o país compreende e respeita os interesses
russos na questão da segurança, especialmente na Ásia Central e no
Cáucaso."
Rússia, um dos maiores parceiros comerciais do Irã
Na última década, a Rússia se tornou um dos principais parceiros
comerciais do Irã. O volume de negócios cresce constantemente. Só entre
2005 e 2008, subiu de 1 bilhão de dólares para 3,8 bilhões de dólares. A
Rússia vende principalmente tecnologia nuclear, armas e trigo. Em
troca, os iranianos fornecem alimentos, derivados do petróleo e têxteis.
O mais importante projeto de energia russo no Irã é a conclusão da
usina nuclear de Bushehr, iniciada nos anos 1970 como empreendimento
conjunto, e que tem a participação da alemã Siemens. Em 2011, a usina de
Bushehr foi a primeira usina nuclear iraniana a ser conectada à rede de
energia do país.
Mas a cooperação entre Moscou e Teerã nem sempre é harmoniosa. "Eles
não compartilham uma aliança estratégica definida. Só há alguns
interesses específicos", explica Lukianov. "As relações políticas entre
os dois países são complexas e frequentemente marcadas por acusações
mútuas."
O programa nuclear e outros pontos de discórdia
O programa nuclear iraniano é o maior ponto de conflito entre Teerã e
o Ocidente. Na realidade, Moscou não tem interesse de que Teerã
desenvolva armas nucleares, mas ao mesmo tempo a Rússia é contra uma
intervenção militar ocidental no Irã, diz Walter Posch. "A intenção é
evitar o que aconteceu no Iraque em 2003", argumenta.
Os países ao longo do Mar Cáspio incluindo Rússia e Irã há anos
não conseguem chegar a um acordo sobre o status legal das águas. Os
"novos" vizinhos Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão querem o fim da
classificação internacional "águas continentais", o que lhes daria
direitos de exploração de petróleo e gás. Hoje, o Irã e a Rússia são os
beneficiados.
Moscou e Teerã também têm em comum preocupações sobre a situação do
Afeganistão após 2014, quando um grande número de tropas ocidentais
deixará o país. Segundo Posch, para russos e iranianos é mais importante
evitar a ascensão de grupos como a Al Qaeda, de salafistas e de sunitas
radicais no Afeganistão, do que o programa nuclear de Teerã.
Situação "confortável" para a Rússia
Moscou se aproveita da tensão entre Teerã e o bloco ocidental. As
sanções internacionais terminaram por isolar os iranianos um dos
principais concorrentes dos russos do lucrativo mercado energético
europeu. As ameaças mútuas entre o Irã e o Ocidente elevam o preço do
petróleo e, em caso de guerra, poderia haver um bloqueio do Estreito de
Ormuz, rota para o transporte de 40% do petróleo mundial.
O especialista em Irã observa, hoje, algumas vantagens para a
Rússia. "No que diz respeito ao programa nuclear iraniano, Moscou
integra o chamado grupo de negociações 5+1 que inclui os países com
direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mais a
Alemanha.
Como o Irã tem dificuldades de comercializar seus produtos na
Europa, o Kremlin participa dos negócios com a indústria bélica
iraniana.
Sanções previnem o envolvimento da Rússia com o Irã
As sanções internacionais ao regime de Teerã são uma "pedra no
sapato" da Rússia, pois limitam um envolvimento maior com o Irã. A
empresa russa de petróleo Lukoil, por exemplo, teve de encerrar suas
atividades em solo iraniano em 2007, quando os EUA expandiram as sanções
também às companhias petrolíferas em atividade na República Islâmica.
As empresas russas puderam optar entre manter seus negócios nos
Estados Unidos ou no Irã. A Lukoil optou pelos EUA. Em 2011, uma
subsidiária da russa Gazprom teve que cancelar seus planos de explorar
petróleo no Irã pela mesma razão.
As sanções da ONU afetaram a Rússia também nas exportações de
armamentos. Em 2010, Moscou não pode entregar ao Irã o sistema de
mísseis antiaéreos S-300. Fontes russas informaram que o prejuízo foi de
centenas de milhões de euros.
Fonte: O Povo
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