Reconhecido pela diversidade de sua indústria, o Estado de Santa Catarina está apostando no desenvolvimento de um novo polo: o aeronáutico. O pioneirismo fica por conta da Wega, sediada em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, que começou suas atividades em meados da década passada e produziu três unidades de um modelo para dois passageiros, com planos de chegar a 30 unidades por ano ainda nesta década.
Mais recentemente, a Novaer, sediada em São José dos Campos (SP), anunciou a instalação de uma fábrica em Lages, na serra catarinense, além de um centro de engenharia em Florianópolis – projetos que têm como sócia a SC Participações e Parcerias (SCPAR), empresa de economia mista criada para fomentar investimentos no Estado. A previsão é de que a produção da Novaer comece no final de 2014.

Além do interesse do governo catarinense em fomentar o setor, os empreendedores estão recebendo também o apoio da Federação das Indústrias (Fiesc), que criou um comitê específico para tratar do tema. O coordenador do comitê é Cesar Olsen, dono de uma fábrica de equipamentos médicos e odontológicos que se tornou um dos principais investidores da Wega. “Temos todas as condições de colocar no mercado produtos competitivos e de alta qualidade”, diz.

A Wega é a materialização do sonho de vida do empreendedor Jocelito Wildner, que, depois de se formar em robótica e trabalhar como mecânico na Varig, passou a se concentrar no desenvolvimento de projetos próprios. “Comecei com planadores, mas logo ficou claro que existia uma lacuna no mercado nacional para aviões como os que estamos fazendo”, descreve. Para bancar os mais de R$ 1,5 milhão investidos no processo até agora, ele conquistou o apoio de empresários como Olsen e seu próprio irmão, Ênio Wildner, dono de uma metalúrgica em Porto Alegre. Os dois foram comprando cotas da empresa e ganharam o direito de desfrutar dos primeiros aviões produzidos.

Projeto

O projeto começou a ser desenvolvido em 2005. No ano seguinte, Wildner já estava fabricando os moldes e as formas dos gabaritos. Em 2010, o primeiro avião ficou pronto. “Usamos os melhores materiais e equipamentos disponíveis no mundo. Comparando com o mercado automobilístico, é como se estivéssemos fazendo Ferraris ou Lamborghinis”, diz. O primeiro modelo fabricado pela empresa tem motor de 180 HP, chega a 350 km/h, consome 34 litros de combustível por hora de voo e tem autonomia de voo de seis horas e meia. Custa US$ 180 mil, valor que pode aumentar em pelo menos US$ 50 mil com a instalação de opcionais como GPS duplo.
 

Além do chamado Wega 180, a empresa passará a produzir um modelo mais barato – será oferecido por cerca de US$ 140 mil -, que se enquadra na categoria LSA. Também tem capacidade para duas pessoas, mas o motor é menos potente – 100 HP -, o que resulta em velocidade máxima menor, 220 km/h, mas permite que o modelo pese 550 quilos, 230 quilos a menos que o outro. Um modelo para quatro passageiros também está nos planos.

A Wega tem uma estrutura enxuta, com oito funcionários. Mas a mão de obra para a ampliação projetada não chega a ser uma preocupação, já que o Senai de Santa Catarina aderiu ao esforço pelo desenvolvimento do polo e criou três cursos de formação voltados à área. Esses cursos já estão fornecendo profissionais para outras partes do país.

Assim, o maior desafio para cumprir as metas de crescimento é mesmo encontrar investidores e conquistar clientes. Um passo nessa direção será dado a partir deste domingo, quando se iniciará uma aventura que lembra os tempos românticos da aviação. Dois dos aviões feitos pela Wega partirão rumo aos EUA, para participar de uma feira especializada, a Sun & Fun, em Lakeland, na Florida. O espaço na feira está sendo patrocinado por uma série de apoiadores, incluindo a Fiesc e a Apex, agência federal de fomento às exportações, que também se interessou pelo projeto.

O voo partirá do Aeroclube de Santa Catarina, em São José, outra cidade próxima a Florianópolis, e seguirá por mais de 7,5 mil quilômetros – serão oito escalas até chegar ao destino. O próprio Jocelito estará no comando de um dos aviões, compartilhado com o empresário João Batista Lemos, mais um investidor do projeto, enquanto seu irmão Ênio dividirá a pilotagem do outro avião com um comandante da aviação civil, Ciro Paraíso. “Será ao mesmo tempo um passeio e uma viagem de negócios, bem no espírito de tudo o que um avião desses proporciona aos seus donos”, diz Jocelito.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Via: Café Noticias.



O interesse dos visitantes da Sun'n Fun, segunda maior feira aeronáutica do mundo, pelo avião catarinense Wega 180 foi tanto que nos dias que seguiram ao evento o fabricante Jocelito Wildner recebeu em torno de 300 e-mails com pedidos de informações técnicas. Além disso, dois empresários do Sul do Brasil formalizaram o pedido de seus monomotores. Com esses, a Wega Aircraft, instalada em Palhoça, na Grande Florianópolis, alcança o número de cinco unidades vendidas.

O Wega atraiu a atenção da mídia e dos visitantes da feira, em Lakeland, na Flórida, pela beleza e desempenho e também pela ousadia do fabricante. Wildner, um irmão e dois amigos levaram os aviões voando aos Estados Unidos. A viagem de quase oito mil quilômetros teve nove escalas na ida e outras tantas no retorno, com voos de quatro horas. O monomotor ganhou destaque na mídia geral e especializada, incluindo as revistas Flap, da AOPA (Aircraft Owners and Pilots Association) e da revista Experimenter publicada pela EAA (Experimental Aircraft Association), que publicou uma foto de duas páginas do Wega 180 (veja em aqui).

A Wega é a primeira fabricante de aeronaves instalada em Santa Catarina e o embrião de um pólo aeronáutico que está surgindo com o apoio do Sistema FIESC e do governo do Estado. Outra indústria, a Novaer Craft projeta instalar uma fábrica em Lages e um centro de engenharia na Grande Florianópolis. A participação na Sun´n Fun, que teve o estímulo da Apex, foi um passo para fomentar o crescimento das empresas. As vendas e projeção dos aviões no mercado internacional podem ser citadas como resultados positivos.

"Teremos no Estado o segundo polo aeronáutico da América Latina", salienta o empresário Cesar Olsen, entusiasta da aviação e coordenador do comitê criado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) para estimular o setor aeronáutico. "A FIESC está fazendo um grande esforço no sentido de agregar valor à boa produção industrial do Estado, estamos estimulando investimentos nas áreas de tecnologia, inovação, pesquisa e design", afirma o presidente da Federação, Glauco José Côrte. "Estamos abrindo um novo caminho importante para a economia de Santa Catarina", disse.

O estímulo ao surgimento do polo aeronáutico começou há quatro anos, quando o SENAI implantou os primeiros cursos técnicos de mecânica de aeronaves. Na sequencia, a instituição lançou também cursos teóricos de piloto privado.

 
Sonho de criança
A Wega é um sonho de criança de Jocelito Wildner. Já aos 12 anos, após ver programas de TV, ele e o irmão Ênio fabricaram duas asas delta e se lançaram da varanda de casa, em Ijuí, no Rio Grande do Sul. A paixão pela aviação persistiu e Jocelito acabou se tornando mecânico da Varig. Mais tarde, transferiu-se para Florianópolis, onde passou a fabricar planadores. Numa viagem à França para prestar assistência técnica, ele desenhou os primeiros esboços de um avião experimental, que se tornaria o Wega 180. Ênio também manteve a paixão. Empresário do setor mecânico em Porto Alegre, ele apostou na fábrica do irmão e adquiriu um dos primeiros aviões lá produzidos. É um dos que foram aos EUA e com o qual Ênio já tinha feito outra aventura com a mesma aeronave, voando para Ushuaia, a cinco mil quilômetros em direção ao extremo sul do continente, em condições adversas de clima.

O objetivo da Wega é fabricar kits de aeronaves leves usando técnicas e componentes de última geração, preenchendo assim uma lacuna no mercado brasileiro. Além de dois modelos de avião experimental, (180 e 210) a Wega também desenvolveu um aerobarco (barco movido a hélice, que navegar em águas rasas e pântano) e uma máquina para criar vento cenográfico. Os aviões fabricados pela Wega seguem normas e legislações internacionais de segurança, mas não são de uso comercial. As aeronaves têm um teto máximo de operação em 12 mil pés de 5.000 metros De acordo com Jocelito Wilder, as aeronaves serão construídas em composite, produzidas em carbono, vidro de alta tecnologia e resina de alta qualidade. A empresa fornece o kit e cabe a quem adquirir as peças montar sua própria aeronave. Na fábrica, em Palhoça, o avião já ganha formato com a fabricação dos moldes e gabaritos. Além do piloto, trabalham cinco técnicos e um engenheiro aeronáutico.
 


Descrição do modelo

Aeronave asa baixa; cabine para no máximo dois ocupantes lado a lado; construção em composite; motor aeronáutico de 180hp; hélice de velocidade constante; trem de pouso retrátil; velocidade de 300 km/h; sistema de combustível com dois tanques de 110 litros; autonomia máxima de 6 horas e meia de voo; envergadura de 7,87m; comprimento da fuselagem de 6,474m; altura máxima de 2,299m; peso vazio de 450kg; carga útil de 300kg; peso máximo de decolagem de 750 kg.

Fonte: FIESC