Maneira oficial mais direta de prevenir espionagens e ataques de hackers
contra sistemas sensíveis do Estado, a política de defesa cibernética
comandada pelo Exército Brasileiro ainda engatinha em termos
orçamentários.
Mais que isso, como revela levantamento feito pela Folha nos detalhes de
gastos dessas ações, o pouco dinheiro usado é direcionado para
iniciativas sem relação direta com segurança de redes de informações
estratégicas.
O objetivo da "Implantação do Sistema de Defesa Cibernética", que faz
parte da Política Nacional de Defesa, é claro: contribuir "com o esforço
governamental para garantir o funcionamento de setores essenciais ao
desenvolvimento econômico e social do país de maneira contínua e
confiável".
Neste ano, R$ 90 milhões foram reservados para a missão --menos que os
R$ 100 milhões citados pelo ministro Celso Amorim (Defesa) em depoimento
no Congresso nesta semana, após a revelação de que o Brasil é um dos
principais alvos do esquema de espionagem americano delatado pelo
ex-técnico da CIA Edward Snowden.
No entanto, até a última quarta-feira, apenas R$ 8 milhões (8,9%) tinham
sido usados --no jargão orçamentário, "empenhados", ou seja, dinheiro
garantido para fornecedores.
Quase a metade desse valor foi destinada para a compra de jipes
militares e cabines para a instalação de estações de comunicação. O
edital da licitação deixa claro que o objetivo central da compra é o uso
em combate ou situações de tensão social.
O mecanismo permite a transmissão de imagens e acesso à internet mesmo
longe de centros urbanos. Mas não tem qualquer relação direta com
prevenção de ataques de hackers ou espionagem de fluxo de dados.
Outros R$ 282 mil foram gastos em equipamentos e acessórios para
garantir a segurança do prédio do Centro de Inteligência do Exército, em
Brasília. Na lista, adesivos para carros, cartões magnéticos, cancelas e
catracas.
Uma das funções do Sistema de Defesa Cibernética é estimular a
capacitação de profissionais --no caso, militares-- na área. No entanto,
esse tipo de iniciativa também está em baixa.
Neste ano, apenas três militares, segundo o detalhamento da execução
orçamentária, foram custeados pela rubrica para se aperfeiçoarem no
exterior.
Um deles foi o general José Carlos dos Santos, comandante do Centro de Defesa Cibernética do Exército.
Acompanhado de um tenente-coronel, passou uma semana no Reino Unido,
conhecendo as instalações de uma unidade semelhante do Ministério da
Defesa local.
O valor gasto com as passagens desses militares foi de R$ 21,4 mil,
inferior aos R$ 26,4 mil gastos pelo Exército com um serviço de bufê
para atender aos participantes do Seminário de Inteligência Cibernética,
realizado em Brasília.
Somente o deslocamento de ida e volta do general consumiu R$ 13,7 mil
--ele viajou em classe executiva, conforme norma do Exército para
oficiais de sua patente.
OUTRO LADO
O Comando do Exército defendeu, em nota, o uso feito dos recursos
destinados neste ano à implantação do Sistema de Defesa Cibernética.
No caso da compra dos jipes e cabines, por exemplo, o Exército afirma
que essas unidades móveis de comunicação "atuarão em rede" e que,
portanto, estão englobadas no propósito da estratégia cibernética, que
prevê "atuação em rede e a defesa dessas redes contra ataques".
Em relação à proteção da portaria do Centro de Inteligência do Exército,
o argumento é parecido: o projeto de defesa cibernética prevê atuação
na área de "inteligência".
Como o centro de inteligência tem "sistemas delicados", inclusive na
área cibernética, a segurança dessas instalações é necessária.
Sobre o dinheiro investido em capacitações, o Exército destaca cursos e
outros eventos realizados em território nacional, além de idas a
diversos países --mas ao longo dos últimos anos, e não somente em 2013.
Entre os países visitados, conforme o Exército, estão Estados Unidos, Índia, Suécia, Turquia, Argentina, Colômbia e Chile.
Em nota divulgada após a publicação da reportagem, o assessor especial
de comunicação do Ministério da Defesa afirma que "o fato de, até o
momento, ter havido o empenho de apenas parte desse valor não significa
que os recursos não serão desembolsados ao longo deste exercício
financeiro" e que "o orçamento da área cibernética tem histórico de
execução que registra uma concentração de empenho dos recursos no
segundo semestre do ano".
*
Leia a íntegra da nota:
"A propósito da matéria publicada nesta Folha na edição de hoje, 14/07,
com o título 'Brasil gasta só 8,9% do previsto com defesa cibernética',
esclareço:
A Lei Orçamentária Anual (LOA) prevê investimentos de R$ 90 milhões para
as ações da defesa cibernética em 2013. O fato de, até o momento, ter
havido o empenho de apenas parte desse valor não significa que os
recursos não serão desembolsados ao longo deste exercício financeiro. O
orçamento da área cibernética tem histórico de execução que registra uma
concentração de empenho dos recursos no segundo semestre do ano. Há
projetos e contratações em curso no âmbito da defesa cibernética este
ano que permitem a execução integral do montante financeiro previsto na
LOA. A previsão de recursos inserida na LOA também não impede eventual
destinação de crédito adicional para a área, como ocorreu no ano passado
em razão da conferência Rio+20.
Luiz Gustavo Rabelo
Assessor Especial de Comunicação Social do Ministério da Defesa"
Assessor Especial de Comunicação Social do Ministério da Defesa"
Fonte: UOL
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