A etenção é retaliação ao trabalho de Greenwald, mas, apesar de
atritos, não deve deteriorar relações diplomáticas entre Londres e
Brasília. Para analistas, manobra foi de intimidação, porém não dirigida
ao Brasil.
A detenção do brasileiro David Miranda companheiro do jornalista Glenn Greenwald, que publicou as denúncias de espionagem americana a partir de documentos de Edward Snowden fez aumentar a tensão entre autoridades de Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.
A detenção do brasileiro David Miranda companheiro do jornalista Glenn Greenwald, que publicou as denúncias de espionagem americana a partir de documentos de Edward Snowden fez aumentar a tensão entre autoridades de Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.
Na segunda-feira (19/08), o chanceler Antonio Patriota conversou,
por telefone, com o chanceler britânico, William Hague. Segundo o
embaixador britânico em Brasília, Alex Ellis, os dois concordaram que
representantes dos dois governos permanecerão em contato sobre o assunto
e que o caso continua sendo uma questão operacional da Polícia
Metropolitana de Londres.
A troca de declarações reflete uma preocupação de ambas as partes
de, apesar dos leves atritos diplomáticos, não elevar o tom. Segundo
analistas, a linguagem usada não deve significar a deterioração das
Relações Brasil-Reino Unido.
"A linguagem é corresponde ao padrão internacional clássico, o que
não significa que daí decorrerá qualquer outra ação mais complicada",
diz Estevão Martins, professor de História Contemporânea da Universidade
de Brasília (UnB).
Já para Virgílio Caixeta Arraes, pesquisador do Instituto de
Relações Internacionais da UnB, o tom adotado pelo Brasil é adequado
para esse momento inicial, para fins de registro histórico, mas ele vê a
necessidade de um aprofundamento no teor da insatisfação.
Segundo ele, seria improvável que, se o Brasil procedesse da mesma
forma com um cidadão britânico, o governo [britânico] se limitasse
apenas a emitir uma nota de protesto.
Nesta semana, estão previstas várias audiências no Congresso para
tentar obter informações de como empresas brasileiras podem estar
colaborando com o programa de espionagem americano.
Promessa de mais revelações
Em recente participação em uma dessas audiências, Glenn Greenwald
afirmou que o principal objetivo do governo americano é a obtenção de
informações comerciais e industriais, como na área de energia e
petróleo, e que acha improvável que empresas brasileiras não estejam
envolvidas.
Na ocasião, ele já havia se mostrado preocupado com sua segurança e
afirmou que há muito mais a ser divulgado. Após a detenção de David
Miranda, ele prometeu intensificar ainda mais o trabalho de investigação
e divulgação.
Estevão Martins classifica a detenção de Miranda como uma clara
manobra de intimidação, mas ele ressalta que não está dirigida ao
Brasil, mas sim diretamente a Greenwald, que é cidadão americano.
Na última segunda-feira, Josh Earnest , porta-voz da Casa Branca,
admitiu que os Estados Unidos sabiam da intenção da polícia britânica,
mas negou qualquer envolvimento. Não foi algo que pedimos, foi algo
feito especificamente pelas autoridades britânicas. Os EUA não estão
envolvidos nessa decisão ou nessa ação, disse.
Apesar da negação de envolvimento, Martins vê como natural o
engajamento britânico. Reino Unido e EUA têm uma aliança estratégia há
quase um século que não se abala. Ele vê o caso, ainda, como um azar do
ponto de vista político internacional e descarta consequências mais
graves ou mesmo um abalo nas relações entre os dois países.
Como exemplo, ele lembrou o caso Jean Charles, morto por engano pela
polícia londrina em 2005. Naquele momento, houve uma série de medidas
duras, intervenções, notas e troca de explicações, mas isso não
acarretou em uma ruptura ou estremecimento, lembrou.
Virgílio Caixeta Arraes concorda que não deve haver estremecimento
nas relações bilaterais, mas considera que o caso demonstra certo
desapreço de um governo europeu por um cidadão sul-americano. Ele
atribui essa atitude a uma visão ainda de uma potência imperial e citou
como exemplo o caso do avião que levava o presidente boliviano Evo
Morales de volta de uma viagem à Rússia. Alguns países europeus
impediram que a aeronave sobrevoasse o território por suspeitas de que
Edward Snowden estivesse a bordo.
Tensões aumentam
Na segunda-feira, o Guardian publicou informações sobre a pressão
sofrida pelo jornal por causa das notícias sobre espionagem americana,
indicando que a detenção de Miranda é mais um desses casos. Em
editorial, Alan Rusbridger, editor do periódico, descreveu situações de
intimidação.
"A tensão aumentou pouco mais de um mês atrás, quando eu recebi uma
ligação do centro do governo dizendo: você já se divertiu. Agora nós
queremos as coisas [documentos de Snowden] de volta', relatou
Rusbridger, ao também descrever como o jornal foi obrigado a destruir
equipamentos contendo arquivos sobre o caso.
A ONG Anistia Internacional classificou as revelações do periódico
como uma mudança sinistra, criminosa e repreensível no rumo dos
acontecimentos. Se confirmadas, essas ações expõem a hipocrisia do Reino
Unido já que o país defende a liberdade de imprensa no exterior, disse
Tawanda Hondora, representante legal da AI.
Com apoio do Gaurdian, David Miranda já solicitou, por meio dos
advogados, a devolução dos bens apreendidos dentro do prazo legal de
sete dias a contar da data da sua detenção no aeroporto de Heathrow. Ele
ameaça iniciar uma ação judicial para contestar os motivos usados pela
polícia britânica para justificar a detenção. As autoridades mantêm a
posição de que a ação foi legal e que ofereceu toda assistência devida
ao brasileiro.
Do O Povo
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