O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou nesta
quarta-feira (21), que o Itamaraty solicitou ao governo britânico a
devolução do computador e outros equipamentos eletrônicos de David
Miranda apreendidos após detenção e interrogatório do brasileiro no
aeroporto de Heathrow, em Londres, no último domingo (18).
"Estamos também trabalhando para que o material de posse do cidadão
brasileiro David Miranda seja restituído dentro do mais breve prazo.
Nesse sentido foi transmitido oficialmente uma comunicação ao governo
britânico via foreign office. Estamos tambem em contato com o próprio
David Miranda para ter mais informações sobre exatamente o que aconteceu
em Londres, e acompanharmos eventuais iniciativas que ele
individualmente decida tomar", disse.
David Miranda foi interrogado por nove horas no aeroporto de Heathrow,
em Londres, por oficiais da Scotland Yard. Miranda é companheiro de
Glenn Greenwald, jornalista norte-americano que revelou a estratégia de
espionagem eletrônica do governo dos Estados Unidos, feita pela Agência
de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês). Greenwald escreve para o
jornal britânico "The Guardian" e mora no Rio de Janeiro.
Segundo o “The Guardian”, David Miranda retornava de uma viagem a
Berlim quando foi parado por oficiais às 8h30 (horário de Londres) e
informado de que iria passar por um interrogatório.
"Eu fiquei numa sala, tiveram seis agentes diferentes, entrando e
saindo, falando comigo. Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira,
sobre tudo, levaram o meu computador, videogame, celular, meus memory
cards, tudo", contou Miranda, ao desembarcar no Aeroporto Internacional
do Rio.
Miranda, entrou com ação nesta terça-feira e os advogados afirmaram que buscam medidas imediatas para a devolução do laptop e todos os outros equipamentos eletrônicos, além da proibição da análise de seu conteúdo.
Questionado se haverá retaliações ou alguma medida de reciprocidade,
Patriota disse esperar que seja um "caso isolado". "A nossa expectativa é
que esse seja um fato isolado que não voltará a se repetir", disse.
Patriota disse que a detenção ocorreu "de forma injustificada" e que
considera a "atitude contraproducente, até mesmo para o alegado
objetivo, que é combate ao terrorismo".
"Também lembrei que no Brasil há o compromisso muito forte com os
direitos civis, as liberdades individuais e que o Reino Unido não deve
subestimar este compromisso. Lembrei que no Brasil houve forte repúdio
ao que aconteceu, principalmente por parte da opinião pública", disse
Patriota.
Na segunda-feira, o embaixador britânico, Alex Ellis, compareceu ao
Itamaraty após ser convocado pelo ministro Antonio Patriota. Em reunião
com o secretário-geral de Relações Exeriores do Brasil, Eduardo dos
Santos, o embaixador britânico prestou esclarecimentos e ouviu a posição
do governo brasileiro.
Além disso, às 13h, Patriota conversou por telefone com o ministro de
Relações Exteriores britânico, para manifestar insatisfação pelo
incidente com o brasileiro.
Segundo o Itamaraty, no telefonema, Patriota reafirmou a posição do
governo brasileiro divulgada em nota no domingo, segundo a qual a medida
da polícia britânica seria "injustificável". O ministro manifestou
"preocupação" e disse esperar que incidentes como o ocorrido com David
Miranda "não se repitam". Já a Embaixada Britânica afirmou, em
comunicado à imprensa, que a detenção do brasileiro no aeroporto de
Heathrow é “uma questão operacional da Polícia Metropolitana de
Londres”.
“O Ministro das Relações Exteriores britânico teve uma conversa
particular com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio
Patriota, sobre a detenção de David Miranda durante uma ligação
telefônica esta tarde (19 de agosto). Eles concordaram que
representantes dos governos brasileiro e britânico permanecerão em
contato sobre o assunto. Esta continua sendo uma questão operacional da
Polícia Metropolitana de Londres”, afirmou o embaixador do Reino Unido
no Brasil, Alex Ellis.
O jornalista Glenn Greenwald disse que, se as autoridades britânicas
tinham a intenção de intimidá-lo ao interrogar David Miranda, agora
mesmo é que ele vai publicar ainda mais documentos e informações a
respeito de espionagens.
"Eu vou fazer reportagens com muito mais agressão do que antes, eu vou
publicar muito mais documentos do que antes. Eu vou publicar muitas
coisas sobre a Inglaterra também. Eu tenho muitos documentos sobre o
sistema de espionagem da Inglaterra. Agora o meu foco vai ficar lá
também. E acho que eles vão se arrepender do que fizeram", afirmou.
O caso chegou até ao Parlamento britânico, onde a oposição vai cobrar
explicações do governo sobre a detenção do brasileiro. O Parlamento
também se manifestou na manhã desta segunda-feira (19), afirmando que
vai questionar o procedimento da polícia britânica.
Ato é 'injustificável' para Itamaraty
No domingo (18), o Itamaraty se manifestou sobre o ocorrido e classificou o ato como "injustificável", avisando que o "governo brasileiro espera que incidentes como o registrado hoje com o cidadão brasileiro não se repitam".
No domingo (18), o Itamaraty se manifestou sobre o ocorrido e classificou o ato como "injustificável", avisando que o "governo brasileiro espera que incidentes como o registrado hoje com o cidadão brasileiro não se repitam".
"O Governo brasileiro manifesta grave preocupação com o episódio
ocorrido no dia de hoje em Londres, onde cidadão brasileiro foi retido e
mantido incomunicável no aeroporto de Heathrow por período de 9 horas,
em ação baseada na legislação britânica de combate ao terrorismo.
Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não
pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida
legislação. O Governo brasileiro espera que incidentes como o registrado
hoje com o cidadão brasileiro não se repitam", afirmou em nota o
Itamaraty.
Ao deter Miranda, os oficiais britânicos agiam de acordo com lei do Ato
Terrorista, de 2000, que permite a interceptação de indivíduos,
pesquisa e aplicação de interrogatório em aeroportos, portos e áreas de
fronteira. Liberado somente às 17h (horário de Londres), o brasileiro
ficou detido por nove horas, o máximo permitido pela lei. Segundo o
“Guardian”, 97% das pessoas que passam por esse escrutínio não ficam
detidas por mais de uma hora. Apenas um entre 2 mil indivíduos foi
mantido sob custódia por mais de seis horas.
Do G1
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