O esforço conjunto dos Estados Unidos e da Rússia para eliminar as armas químicas da Síria está começando a ter efeitos secundários, chamando a atenção para o suposto arsenal de Israel.
Ao forçar a Síria a admitir que tem um grande número de armas de destruição em massa e ao tomar iniciativas para acabar com elas, Washington e Moscou poderiam depois convencer os vizinhos do país árabe a seguir o exemplo, dizem diplomatas árabes e ocidentais.
Mas a costumeira reclamação dos países árabes da região — de que Israel teria um programa não declarado de armas nucleares — já veio à tona.
O governo sírio acenou com a possibilidade de trazer à pauta internacional o presumido arsenal israelense de armas nucleares e de outros tipos, tornando-o uma possível condição para prosseguir na destruição do que os EUA estimam em pelo menos 1.000 toneladas de agentes químicos.
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou publicamente que o programa sírio só é necessário como uma defesa contra a vasta superioridade militar de Israel.
"É um fato bastante conhecido que a Síria tem um certo arsenal de armas químicas e que os sírios sempre o viram como uma [resposta] alternativa às armas nucleares de Israel", disse Putin na semana passada.
Essa posição poderia colocar o governo de Obama numa sinuca diplomática. Os EUA vêm há décadas seguindo uma velha política de nem reconhecer nem negar publicamente a capacidade militar de Israel, que muitos acreditam incluir ogivas nucleares.
O dilema poderia também minar as iniciativas americanas para conter a proliferação de armas e o programa nuclear do Irã. Os EUA já declararam repetidamente que suas ações para reduzir seu próprio arsenal, e os de seus aliados, diminuem a necessidade de outros países tentarem desenvolver a bomba atômica.
"O principal perigo de armas de destruição em massa é o arsenal atômico de Israel", afirmou na semana passada o embaixador da Síria na Organização das Nações Unidas, Bashar Ja'afari.
Ja'afari disse que Israel precisava colocar suas supostas armas nucleares sob a supervisão internacional e assinar o tratado de não proliferação nuclear. Ele disse que a Síria não está fazendo disso um pré-requisito para destruir suas armas químicas, mas que o mundo tinha também de prestar atenção aos arsenais israelenses.
"Israel tem armas nucleares e ninguém está falando a respeito", disse.
Em entrevistas na semana passada, as autoridades de Israel nem confirmaram nem negaram as acusações sírias. Israel também não reconhece que tem armas nucleares.
As autoridade disseram que Israel assinou, embora não a tenha ratificado, a Convenção sobre Armas Químicas, mas enfatizaram que o país não poderia ratificá-la, ou reduzir sua capacidade militar, num momento em que as ameaças à sua segurança vindas do Irã, da Síria e do Líbano estão aumentando.
"Os países do Oriente Médio [...] indicaram que sua posição não mudaria mesmo que Israel ratifique a Convenção", disse Jonathan Peled, um porta-voz do governo de Israel. "Alguns desses Estados não reconhecem o direito de Israel de existir e pregam ostensivamente a sua aniquilação [...] Essas ameaças não podem ser ignoradas na avaliação de uma possível ratificação da convenção."
Os integrantes do governo americano em viajem a Genebra com o Secretário de Estado, John Kerry, na semana passada, alertaram que a Síria não deve tentar distrair a atenção internacional em relação ao ataque com armas químicas de 21de agosto, que o governo dos EUA afirma ter sido realizado pelas forças do governo sírio.
"Não aceitamos tentativas do regime sírio [...] de se comparar com Israel, uma democracia pujante que não está matando brutalmente e atacando com gás o seu próprio povo", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.
O debate sobre as armas químicas da Síria está também chamando a atenção para o Egito.
O governo egípcio foi acusado de usar armas químicas ao intervir na guerra civil do Iêmen, nos anos 60, quando era governado pelo ditador Gamal Abdel Nasser.
O Egito não assinou a Convenção sobre Armas Químicas, que começou a vigorar em 1997. Israel e outros países da região acreditam que o Egito conserva um arsenal que inclui gás mostarda e outras agentes.
Um membro do alto escalão do governo do Egito não quis comentar sobre o estado atual dos programas de armas egípcios. Mas disse que todos os países na região, principalmente Israel, precisavam se desarmar se a comunidade internacional realmente espera ver a região livre de armas de destruição em massa. A autoridade disse que é difícil dizer se a questão síria vai gerar efeitos secundários. "Vai depender de como os governos árabes decidirem agir."
O presidente dos EUA, Barack Obama, conduziu uma agressiva agenda de não proliferação nuclear nos primeiros cinco anos do seu governo, trabalhando com a Rússia na redução dos arsenais dos dois países. E a Casa Branca aderiu a uma iniciativa, patrocinada pela ONU, de organizar uma conferência dos países do Oriente Médio na tentativa de criar uma zona livre de armas de destruição em massa. Especialistas em não proliferação dizem que o caso da Síria vai tornar mais difícil para os EUA ignorarem os programas de países como Israel e Egito.
"Se a Síria renunciar a suas armas químicas, os programas de Israel passarão ao topo da agenda" da comunidade internacional, diz Henry Sokolski, diretor executivo do Centro Educacional de Políticas de Não Proliferação, um centro de estudos de Washington. 
Do WSJ