Candidato na eleição alemã pelos Piratas de Berlim, gaúcho recebeu
bilhete aéreo fictício só de ida e pedido para "voltar para casa". Carta
do ultradireitista NPD também chegou a outros políticos de raízes
estrangeiras.
Tristeza. Foi esse o primeiro sentimento do brasileiro com cidadania
alemã Fabricio do Canto quando ele recebeu aquele "bilhete aéreo" só de
ida. O candidato dos Piratas em Berlim nas eleições parlamentares alemãs
já havia ouvido falar da campanha do ultradireitista Partido Nacional
Democrático da Alemanha (NPD), que tem provocado indignação no país, mas
não sabia que estava na "lista negra" dos xenófobos.
A poucos dias da votação deste domingo (22/09), o diretório regional
berlinense do NPD enviou passagens de avião fictícias só de ida para
políticos com raízes estrangeiras. Nela, pedia que voltassem "para
casa".
Nesta semana, depois de membros dos Verdes e do partido A Esquerda,
também chegou a vez também do gaúcho, que mora desde 2010 em Berlim, mas
que vive na Alemanha desde 1994, com temporadas no Brasil e na Ásia.
"Após o primeiro momento, já comecei a ficar preocupado", reconheceu o gaúcho, de 42 anos, em entrevista à Deutsche Welle.
Apoio a imigrantes
Além de estar iniciando carreira política, Fabricio trabalha
voluntariamente em Berlim no apoio a imigrantes recém-chegados ao país. O
brasileiro está não só aflito por causa de sua própria segurança e a de
sua mulher, indiana, e seus três filhos.
"Estou mais empenhado agora também em defender as pessoas que estão
chegando e em lutar para que os próprios nativos desse país sejam melhor
educados", afirma. Ele diz ser necessário mais investimento em educação
e esclarecimento, para coisas parecidas deixarem de acontecer.
Após receber a carta, Fabricio deu queixa à polícia e passou a ficar
mais cauteloso, temendo ser vítima de um atentado racista. "Um colega
meu, que trabalha no apoio a asilados, já chegou a levar um soco ao sair
de casa. Foi xingado e ficou com os óculos quebrados", lembra. "Agora,
tenho que pensar duas vezes antes de sair para passear de bicicleta ou
fazer um passeio com a família."
Assim como o brasileiro, o candidato do Partido Verde Özcan Mutlu
recebeu o "convite" do NPD e também registrou queixa junto às
autoridades policiais. "As ameaças como essas são antidemocráticas e não
devem ficar sem resposta", sublinhou Mutlu.
As passagens aéreas fictícias, enviadas pelo escritório regional do NPD
de Berlim, são rotuladas como da RückflugAirlines ("airlines voo de
volta") e são "one way (só de ida) "para casa". Ela especifica o destino
como "país de origem " e a data do voo como "imediatamente". Mais
abaixo, a cédula traz a frase: "Esperamos que o senhor tenha tido uma
estada agradável na Alemanha e desejamos um bom voo de retorno".
Uma carta acompanha o "bilhete", assinada pelo membro do partido em
Berlim Jan Sturm, acusando políticos de raízes estrangeiras de tentarem
"influenciar politicamente os alemães étnicos".
Série de controvérsias
O NPD tem uma longa lista de controversas campanhas xenófobas. No mês
passado, a agremiação causou discussão novamente, após alguns de seus
membros terem protestado agressivamente contra um novo centro de
refugiados políticos em Berlim. O lugar abriga principalmente famílias
de regiões afetadas pela guerra, como Afeganistão e Síria, assim como
Sérvia.
Até agora nenhum partido de extrema direita conseguiu chegar à marca
dos 5% de votos para entrar no Parlamento da Alemanha. Entretanto, o NPD
está representado nas assembleias legislativas de dois estados,
Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e Saxônia.
A proibição da legenda vem sendo discutida há anos. Uma primeira
tentativa de proibição do NPD fracassou em 2003, mas por razões formais,
no Tribunal Federal Constitucional alemão. Os juízes duvidaram da
credibilidade das provas, porque grande parte do material provinha de
altos funcionários do NPD, os quais eram ao mesmo tempo informantes do
Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha.
Do UOL
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