O
filho de Kadhafi foi capturado por rebeldes em novembro de 2011 e desde
então se encontra numa prisão na cidade de Zintan. As autoridades
locais ignoram exigências do Governo de transferir Seif al-Islam para a
capital. Hoje, as regiões da Líbia vivem de fato independentemente e não
se subordinam ao poder central.
Zintan
não é a única cidade que não se subordina às autoridades oficiais
líbias. Atualmente, um poder único real falta de fato na Líbia,
considera o copresidente do Comité Russo de Solidariedade com Povos da
Líbia e da Síria, Oleg Fomin:
“A
Líbia é cindida em várias regiões que não se subordinam ao poder
central. O país está sendo fragmentado a um nível ainda mais baixo. Na
realidade, é governado por formações criminosas e agrupamentos armados
que ditam suas leis nas localidades em que se encontram, implantando ali
as suas próprias regras. Um poder central não existe e o poder local
pertence a estes agrupamentos armados que brigam constantemente entre
si”.
A
província de Cirenaica é uma das regiões mais problemáticas do país, em
que se extrai aproximadamente 80% do petróleo líbio. Mas as receitas de
sua venda não entram no orçamento federal, porque a maior parte do
petróleo se espolia por formações tribais e agrupamentos islamistas
locais. O ministro do Interior da Líbia, Mohammed Khalifa al-Sheikh,
tentava lutar contra eles, mas, dando-se conta da inutilidade destas
tentativas, apresentou recentemente um pedido de demissão. Na opinião de
peritos, a situação ainda piorará mais no futuro. Segundo o diretor do
Centro de Parceria de Civilizações do Instituto de Relações
Internacionais de Moscou, Veniamin Popov, o poder central enfraquece,
sobretudo no que diz respeito a relações entre a Tripolitânia e
Cirenaica:
“Em
1950, quando a Líbia anunciou a independência, o Estado formou-se de
três regiões: Cirenaica, Tripolitânia e Fezzan. A última é uma grande,
mas deserta região no sul. Por outro lado, a Tripolitânia, onde se
encontra a capital Trípoli, e a Cirenaica, com o centro em Bengasi,
sempre competiram entre si”.
Muammar
Kadhafi nasceu em Sirta, uma cidade na Tripolitânia. No período de
Jamahiriya, os habitantes da Cirenaica consideravam que o governante era
mais benevolente em relação a seus conterrâneos, sentindo-se
prejudicados. Não é surpreendente que primeiras manifestações contra
Kadhafi começaram nomeadamente em Bengasi. Mas após a derrubada de
Kadhafi tornou-se claro que sua figura foi o elemento que consolidava a
Líbia como Estado unido. O sistema começou a desintegrar-se depois de
ter desaparecido este elemento, aponta Veniamin Popov:
“O
país está a desintegrar-se aos olhos vistos. O comunicado de que Zintan
não está disposto a entregar Seif al-Islam é muito caraterístico. As
tribos da Cirenaica já declararam três vezes que têm grande vontade de
Barca (nome da região em árabe) se tornar semiautônoma ou totalmente
autônoma. Mas o principal, na sua opinião, é o fato de a região ter suas
próprias leis e depender menos de Trípoli.
Destaque-se
que a operação das forças da OTAN, que terminou com a destituição de
Kadhafi, colocou não apenas a Líbia na beira de desintegração. O
problema consiste em que nas tropas do líder de Jamahiriya prestavam
serviço tuaregues, povo que habita a região na junção da Líbia, Níger,
Burkina Faso, Marrocos, Argélia e Mali. Após a derrubada de Kadhafi,
estes combatentes bem treinados regressaram à pátria, no norte do Mali, e
anunciaram a constituição de seu próprio Estado – Azawad.
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