Durante quase dois anos, hackers de Xangai atacaram sucessivas firmas
estrangeiras de defesa, ao menos 20 no total. Seu alvo, segundo uma
empresa americana de segurança cibernética, era a tecnologia por trás da
clara liderança dos Estados Unidos no campo dos drones militares.
"Acredito que esta seja a maior campanha que já vimos a ser focada na
tecnologia dos drones", disse Darien Kindlund, gerente de ameaças à
inteligência nessa empresa, a FireEye, com sede na Califórnia. "Isso
parece se alinhar bastante com o foco do governo chinês em ampliar suas
próprias capacidades relativas à tecnologia com drones."
A operação de invasão cibernética, conduzida por um grupo chamado
Comment Crew, foi um dos mais recentes sinais das ambições do programa
chinês de aeronaves teleguiadas. O governo e os militares estão
empenhados em colocar a China na linha de frente da fabricação de
drones, para seu uso e para exportação.
Funcionários da chancelaria dizem que a China não aprova a ação de
hackers, e que o próprio governo chinês é vítima, mas outra companhia
americana de segurança cibernética já localizou membros do Comment Crew
em um prédio do Exército Popular de Libertação nos arredores de Xangai.
Recentemente, autoridades chinesas enviaram um drone para perto de ilhas
administradas pelo Japão, mas disputadas entre os dois países. Os
chineses também já debateram o uso de um drone armado, no ano passado,
para matar um suposto criminoso em Mianmar, e venderam aparelhos
"caseiros", semelhantes ao modelo americano Predator, para outros
países, por menos de US$ 1 milhão cada.
Analistas militares dizem que a China há anos tenta copiar os modelos
dos drones estrangeiros. Ian Easton, analista militar do Instituto
Projeto 2049, na Virgínia, disse que a espionagem cibernética é uma
ferramenta em um amplo esforço chinês dos últimos anos para a aquisição
ou desenvolvimento doméstico de drones usando toda a tecnologia
disponível, nacional ou estrangeira.
Autoridades e engenheiros da China já fizeram engenharia reversa,
estudaram material de fonte aberta e interrogaram especialistas
americanos em drones que participam de conferências e outras reuniões na
China.
Os militares chineses não divulgam estatísticas sobre o tamanho da sua
frota de drones, mas um relatório do Ministério da Defesa de Taiwan
disse que, em meados de 2011, a Força Aérea Chinesa tinha sozinha mais
de 280 unidades. Analistas dizem que os outros ramos das Forças Armadas
possuem milhares de drones, o que significa que a frota chinesa só é
inferior à dos EUA, com cerca de 7.000 aparelhos.
Um momento sintomático no uso de drones pela China ocorreu em 9 de
setembro, quando a Marinha enviou um drone de vigilância para perto das
ilhas Diaoyu, que o Japão administra e chama de Senkaku. Jatos
interceptadores japoneses foram às pressas para confrontá-lo. Essa foi a
primeira vez que a China mobilizou um drone sobre o mar do Leste da
China.
Easton disse que a mobilização do drone perto de ilhas e águas
disputadas "foi algo bastante inédito" por parte da China, apanhando as
autoridades japonesas de guarda baixa.
"Acho que isso é realmente apenas o começo de uma tendência muito mais
ampla que vamos ver - que a China amplie sua capacidade de monitorar o
mar do Leste da China e o oeste do Pacífico, para além das Filipinas, e
aumente o envelope de operação das suas capacidades de ataque", disse
ele.
Os militares chineses, com seu foco em uma potencial guerra contra
Taiwan e de olho nas crescentes disputas territoriais chinesas, estão na
vanguarda da preparação de drones para uso em situações marítimas.
A empresa FireEye batizou a campanha de furto de drones como Operação
Beebus, traçando sua localização até um nódulo de comando e controle no
endereço bee.businessconsults.net. Especialistas em segurança
cibernética dizem que o endereço geral e as ferramentas vinculadas a ele
estão associados ao Comment Crew, unidade chinesa de hackers da qual a
Mandiant, outra empresa de segurança cibernética, tratou em um relatório
em fevereiro. A Mandiant disse que o grupo é parte da Unidade 61398 do
Exército Popular de Libertação, com sede em Xangai.
Embora as vítimas iniciais da Operação Beebus fossem grandes firmas de
defesa, os hackers depois passaram a escolher empresas especializadas em
tecnologia de drones, disse Kindlund, da FireEye. Aí eles se alternaram
entre grandes empresas, fabricantes de uma ampla gama de tecnologias, e
firmas "de butique", focadas nos drones.
Os drones chineses cada vez mais aparecem nos arsenais de outras nações.
A versão chinesa do Predator, chamada Wing Loong, ou Pterodátilo, foi
exportada pela primeira vez em 2011, segundo o "Diário do Povo". Na
Exposição Aérea de Paris, em junho, o presidente de uma companhia
aeronáutica chinesa disse ao "Global Times" que o drone teria capacidade
para transportar dois mísseis guiados a laser, e que seria igual ao
Predator em termos de resistência e alcance de voo, só que bem mais
barato.
Do UOL
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