Há exatos 23 anos, a rede norte-americana CNN transmitia ao vivo imagens
de mísseis cruzando o céu de Bagdá, capital do Iraque, no Golfo
Pérsico. Aquela era a primeira vez que uma guerra era televisionada. O
bombardeio dava início à operação Tempestade no Deserto, encabeçada
pelos Estados Unidos, que contava com o apoio de mais de 30 nações e o
aval da ONU (Organização das Nações Unidas), contra o Iraque. Era mais
um episódio da chamada Guerra do Golfo, iniciada no dia 2 de agosto de
1990, quando tropas iraquianas atravessaram a fronteira com o Kuait e
assumiram o controle da Cidade do Kuait, capital do país.
Os ataques feitos pelos aliados dos Estados Unidos ao Iraque, assim como
o bombardeio iraquiano a Israel e à Arábia Saudita, foram transmitidos
ao vivo pela CNN durante toda a guerra. Responsáveis pela cobertura, os
jornalistas Peter Arnett e Bernard Shaw acabaram ficando tão famosos
quanto as imagens dos bombardeios que, embora reais, se assemelhavam a
um jogo de videogame.
A ação era uma represália à invasão do Kuait pelo então
ditador do Iraque, Saddam Hussein, em 2 de agosto de 1990. Com o ataque,
o país vizinho acabou se tornando uma província iraquiana. A invasão
foi motivada pela dívida adquirida pelo Iraque durante a guerra contra o
Irã, na década de 1980, tendo o Kuait como um dos principais credores. O
Iraque acusava ainda o país vizinho de ter roubado US$ 2,4 bilhões em
petróleo do seu território e de ter causado perdas de US$ 14 bilhões por
exportar óleo além da cota estabelecida pela Opep (Organização dos
Países Produtores de Petróleo). Além disso, o Iraque nunca havia
aceitado as fronteiras entre os dois países, impostas pelos britânicos.
No mesmo dia da invasão, o Conselho de Segurança da ONU ordenou que as
tropas de Saddam fossem retiradas do Kuait e, com a negativa, impôs um
embargo militar e econômico ao Iraque. O país acabou condicionando a
retirada das suas forças à saída das tropas israelenses do território
palestino, o que não foi aceito pelos EUA. Em novembro de 1990, foi dado
o ultimato ao Iraque para que saísse do Kuait até 15 de janeiro do ano
seguinte. O então secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, chegou a pedir, sem sucesso, que Saddam aceitasse as
determinações do Conselho de Segurança da ONU. O Congresso americano já
havia dado carta branca para que o então presidente George Bush fizesse
uso de força.
Nas seis semanas seguintes, os aviões dos países do ocidente realizaram
mais de 116 mil viagens de ataque e lançaram sobre seus alvos um total
de 85 mil toneladas de bombas. Cerca de 10% delas conseguiam acertar com
precisão seus alvos, eram as chamadas "bombas inteligentes".
Após os ataques, Saddam ordenou o lançamento de mísseis
Scuds, de fabricação soviética, contra a Arábia Saudita e Israel, tendo
como alvo instalações norte-americanas nesses países. No dia 22 de
janeiro de 1991, o artefato disparado contra as tropas dos Estados
Unidos na Arábia Saudita foi interceptado no ar pelo míssil
norte-americano Patriot .
Apesar de um ataque bem sucedido a um prédio na base americana de
Dhahran, na Arábia Saudita, que matou 28 militares, as investidas
iraquianas não foram suficientes para dar a vitória ao país. Após 100 horas de combate, Saddam Hussein anunciou que retiraria suas
tropas do Kuait, apesar de se recusar a aceitar todas as medidas
impostas pela ONU. O cessar-fogo foi declarado pelo então presidente dos
Estados Unidos, George Bush, em 27 de fevereiro de 1991. O Kuwait foi
libertado, mas Saddam permaneceu no poder.
Saddam Hussein enfrentou revolta da população de origem curda e xiita, que foi expulsa do território iraquiano, indo para a Turquia e o Irã, além do embargo imposto pela ONU, que continua em vigor. A revolta foi apoiada pelo governo norte-americano. Mesmo tirando suas tropas do Kuwait, Saddam Hussein mandou incendiar centenas de poços de petróleo no Kuwait, provocando uma catástrofe ecológica sem precedentes. O fogo demorou cerca de oito meses para ser apagado.
Do UOL
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