É
possível compreender o que se passa na Crimeia, epicentro da nova
"Guerra Fria" entre Estados Unidos e Rússia, lendo o noticiário da mídia
brasileira? Definitivamente, a resposta é não.
Seja
por alinhamento incondicional aos Estados Unidos ou por comprar o
noticiário de agências ocidentais, como a Reuters, a imprensa brasileira
abraça, sem viés crítico, os posicionamentos que atendem à visão
norte-americana. Assim é, por exemplo, que enquanto Veja pergunta em sua
edição deste fim de semana "Até onde Putin é capaz de ir", Época
destaca em sua capa reportagem sobre o "risco Putin", acusando o premiê
russo Vladimir Putin de tentar remontar o antigo império soviético.
A
realidade da Crimeia, no entanto, é bem distinta. Além de ser uma
província semi-autônoma da Ucrânia, ou seja, com maior independência do
que um simples estado ou província, a Crimeia tem uma população que
defende, majoritariamente, a anexação à Rússia. Lá, 97% das pessoas
falam russo e mais de 60% se mostram favoráveis à anexação, que será
definida num plebiscito no próximo domingo 16.
Num vídeo esclarecedor, feito pelo canal Russian Times (assista aqui),
moradores de cidades da Crimeia explicam por que querem fazer parte do
estado russo. Em primeiro lugar, alegam que o novo regime da Ucrânia não
tem legitimidade, pois é decorrente de um golpe e não de eleições
diretas. Além disso, apontam a ascensão de grupos e extrema-direita – e
de caráter fascista – na nova administração de Kiev. Em terceiro lugar,
temem por suas raízes culturais. Sites do governo, que antes eram em
russo e ucraniano, aboliram o idioma russo. Há o temor de que canais de
televisão russos também sejam retirados do ar. Por último, há também a
questão econômica. Na Crimeia, a grande maioria da população enxerga
melhores perspectivas de salário e bem-estar material fazendo parte da
Rússia – e não da Ucrânia.
No
domingo, quando for realizado o plebiscito, essa realidade virá à tona.
E se os Estados Unidos defendem tanto a legitimidade de manifestantes
que foram às ruas em Kiev e derrubaram um governo democraticamente
eleito, por que não deveriam também defender a soberania popular na
Crimeia?
Do Brasil 247 - Via Blog do AmoralNato
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