Muitos gaúchos podem estranhar a decisão do Exército em mover seu núcleo operacional para Santa Maria.
O costume, aqui e na maioria dos países, é a concentração de tropas nas
capitais. Mas, do ponto de vista geopolítico, há muitas razões para que
a região central do Estado passe a ter mais importância entre os
fardados. A primeira e mais decisiva é que é lá que as coisas
preponderam no Sul, em se tratando da caserna.
Santa Maria já reúne a maior concentração de militares no sul do
Brasil, se incluirmos aí a importante base aérea daquela cidade. Em
termos de Exército, é lá que fica o Centro de Instrução de Blindados,
onde pilotos de carros de combate e transporte de tropas aprendem seu
ofício — e um parque regional de manutenção, onde são consertados
veículos desse tipo oriundos de todo o país. A cidade vai sediar também
uma unidade da Krauss-Maffei Wegmann (KMW), empresa alemã de defesa. Ela
realizará a manutenção dos 220 tanques Leopard 1A5 comprados pelas
Forças Armadas e, no futuro, fabricará blindados. A indústria começou a
ser construída há 14 dias e deve ficar pronta em seis meses, tocada por
cem operários. Deve empregar 50 pessoas. Nesta quinta-feira, o município
recebeu a visita de executivos da fábrica de jipes e utilitários de uso
civil e militar Honker, da Polônia, interessada em se instalar.
Não por acaso fica em Rosário do Sul, a cem quilômetros de Santa
Maria, o maior esquadrão, no Brasil, dos poderosos carros de combate
Leopard 1A1 (capazes de disparar a 65 km/h, à noite, com precisão contra
alvos a quatro quilômetros de distância). Até por isso os vizinhos
santa-marienses foram escolhidos para instruir o uso de blindados (que o
povo costuma chamar de "tanques de guerra").
Santa Maria fica mais próximo da Fronteira e essa é, talvez, a
principal razão para ganhar força em relação à Capital. O Plano
Estratégico de Fronteiras é a atual "Bíblia" a guiar o Exército — e ele
prevê reforço em áreas próximas aos países vizinhos, em detrimento das
zonas litorâneas. É o velho temor de invasões, seja de tropas regulares
ou guerrilhas. Por isso a mudança.
Do Zero Hora - Por Humberto Trezi
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