O governo interino da Ucrânia anunciou neste domingo que pode assinar
entre 17 e 21 de março o acordo político de associação com a União
Europeia. A decisão, uma resposta ao risco iminente de divisão de seu
território, foi comunicada no domingo pelo Ministério das Relações
Exteriores, em meio à crise causada pela invasão da Crimeia por tropas
russas e pelo pedido de secessão feito pelo Parlamento da república
autônoma, que será avaliado em referendo no domingo.
Em um sinal do aumento das tensões, o Ministério da Defesa da Polônia
informou que o governo dos EUA vai enviar 12 caças F-16 e 300 soldados
para um exercício militar conjunto com o país. Eles devem chegar à
Polônia até quinta-feira. Na semana passada, os EUA enviaram quatro
aviões F-15 para a Lituânia.
As datas possíveis para a assinatura do acordo com a UE não foram
indicadas ao acaso pela chancelaria ucraniana. Na próxima segunda-feira,
ocorrerá a reunião de ministros das Relações Exteriores da UE. Quatro
dias depois, Bruxelas sediará a reunião de cúpula de chefes de Estado e
de governo do bloco.
A suspensão das negociações com a UE, decisão tomada pelo presidente
deposto Viktor Yanukovich em novembro, detonou os protestos na Praça da
Independência, em Kiev.
Diplomacia. No plano diplomático, líderes se falaram
por teleconferências neste domingo. Uma delas reuniu a chanceler da
Alemanha, Angela Merkel, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David
Cameron, e o presidente russo, Vladimir Putin. A premiê afirmou que o
referendo convocado pelo Parlamento da Crimeia "é ilegal". "Mantê-lo
viola a Constituição da Ucrânia e o direito internacional", disse.
Segundo a presidência russa, Putin discordou, reiterando que a
autoridade dos parlamentarespró-
Rússia da Crimeia é "legítima". Moscou
também anunciou a liberação de uma linha de crédito de 1,1 bilhão de
rublos, ou € 790 milhões, para as autoridades locais.
Uma segunda teleconferência foi realizada no fim de semana entre os
presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, François Hollande, com
Cameron e o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi. Segundo o Palácio
do Eliseu, por "falta de progressos" na resolução da crise, o grupo
cogita novas sanções "que afetariam sensivelmente as relações entre a
comunidade internacional e a Rússia".
Protestos. Enquanto isso, os protestos continuam na
Ucrânia. No domingo, em todo o país, milhares de pessoas se reuniram em
Kiev, Donetsk, Simferopol, Sebastopol, Odessa e Louhansk em
manifestações pró-Europa e pró-Rússia.
Em Simferopol, capital da Crimeia, duas passeatas com objetivos
opostos tomaram o centro da cidade. Da primeira, participou Iryna
Lupashko, estudante de Geografia de 21 anos. "Pessoas da minha idade
sempre viveram na Ucrânia. Eu sou ucraniana, a Crimeia é a minha terra
natal e é aqui que eu quero viver, não na Rússia", afirmou ao Estado.
A esse grupo, se contrapunha o pró-Rússia, que se concentrou na Praça
Lenin e entoava cantos de louvor à União Soviética. "Somos russos,
nossa cultura é russa, é lá que estão os nossos corações. O futuro da
Crimeia está na Rússia", argumentou Natasha Mezentseva, advogada de 35
anos.
Mas se em Simferopol as manifestações foram pacíficas, em Sebastopol
não. Na cidade portuária que concentra bases militares russas, houve
choques entre militantes e a polícia teve de intervir. Em Luhansk,
apoiadores pró-Rússia tomaram um prédio público e exigiram a realização
de um referendo sobre a divisão da Ucrânia também em sua região.
Em resposta, o primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseni
Yatseniuk, afirmou que nem a Crimeia, nem outras região se dividirão.
"Esta é a nossa terra. Que a Rússia e seu presidente o saibam", afirmou
em discurso, garantindo que o governo fará "tudo para resolver a crise
pelos meios políticos e diplomáticos".
Do Estadão
0 Comentários